COMPORTAMENTO SIMBÓLICO EM PRIMATAS NÃO HUMANOS: PANORAMA GERAL E ESTUDO DE CASO EM MACACOS RHESUS (Macaca mulatta)

Segundo Pierce, a definição de símbolo constitui um signo não necessariamente pictórico - que não tenha semelhança física ou direta com o objeto a que se refere, mas que o represente e o dote de significado por meio de uma relação arbitrária aprendida por convencionalidade, em um dado contexto particular. Ao longo dos anos, pesquisadores das mais diversas áreas buscam treinar tais relações de modo a investigar se primatas não humanos seriam capazes de aprender e usar símbolos, semelhante à forma como nós humanos fazemos com a linguagem que nos é ensinada. Diferentes abordagens e paradigmas foram aplicados, desde o ensino da linguagem humana falada, passando pela linguagem de sinais até representações pictóricas e simbólicas de conceitos linguísticos, revisadas no primeiro capítulo deste manuscrito. A formação de classes de estímulos equivalentes proposta por Sidman e Tailby (1982) constitui uma das abordagens para o estudo do comportamento simbólico, a partir da ferramenta de escolha de acordo com o modelo (Matching-to-sample MTS). No segundo capítulo, investigamos o potencial simbólico de macacos rhesus (Macaca mulatta) a partir desta abordagem, apresentando dados que inferem a emergência de simetria para, pelo menos, um sujeito. Reforçamos também a necessidade de adaptações metodológicas e estudos futuros, de modo a obtermos resultados mais robustos.

According to Pierce, the definition of a symbol constitutes a sign - not necessarily pictorial - that has no physical or direct resemblance to the object to which it refers, but that represents and gives a meaning to it, through an arbitrary relationship learned by conventionality, in a particular context. Over the years, researchers in the most diverse areas have sought to train such relationships in order to investigate whether non-human primates would be able to learn and use symbols, similar to the way humans do with the language we are taught. Different approaches and paradigms were applied, from the teaching of spoken human language, to sign language, and to pictorial and symbolic representations of linguistic concepts, reviewed in the first chapter of this manuscript. The formation of equivalent stimulus classes proposed by Sidman and Tailby (1982), though matching-to-sample (MTS), constitutes one of the approaches to the study of symbolic behavior. In the second chapter, we investigate the symbolic potential of rhesus macaques (Macaca mulatta) from this approach, presenting data that infer the emergence of symmetry for at least one subject. We also reinforce the need for methodological adaptations and future studies, in order to obtain more robust results.

Efeito da novidade e do contracondicionamento no desenvolvimento e na expressão de uma expressão locomotora condicionada e sensibilizada produzida por morfina em ratos

A dependência química é uma doença crônica com possibilidade constante de recaídas e a morfina é um fármaco usado para tratamento de dor, com alto potencial para dependência, e aumenta a liberação de dopamina nas vias mesolímbicas e mesocorticais, regiões relacionadas à recompensa, prazer e compulsão. Estudos mostraram que o condicionamento, sensibilização comportamental e o ambiente novo estão envolvidos na dependência química. O condicionamento é um tipo de aprendizagem associativa resultante da interação de um estímulo com o ambiente. A sensibilização é caracterizada pelo aumento de uma determinada resposta comportamental quando se administra a mesma dose de uma droga, e a novidade atua como efeito de reforço no uso de drogas de abuso. O condicionamento Pavloviano de traço é um protocolo no qual o estímulo condicionado termina antes do início da apresentação do estímulo incondicionado, e útil em estudos da dependência química. O contracondicionamento é um método terapêutico que atua, substituindo resposta inicialmente produzida por uma resposta nova e oposta. O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito da novidade no desenvolvimento e na expressão do condicionamento e sensibilização produzidos pela morfina (experimento 1) e a utilização do contracondicionamento na atenuação dessa resposta (experimento 2). O experimento 1 é composto de 2 fases: na fase 1, um grupo dos ratos foi colocado na arena para sessão experimental de 5 minutos, recebendo veículo antes e após a sessão por 10 dias; a fase 2 foi dividida em 3 etapas: a primeira fase de indução, na qual todos os animais receberam veículo antes da sessão de 5 minutos, e em seguida, 4 grupos receberam veículo e 4 grupos receberam morfina 10mg/kg, por 5 dias; fase de condicionamento, na qual todos animais receberam veículo antes e após a sessão de 5 minutos, por 5 dias, e em seguida foram 2 dias de retirada; e finalizando, os animais receberam veículo antes da sessão para o teste final de 30 minutos. O experimento 2 constituiu de 3 fases: fase da indução, onde todos receberam veículo antes da sessão de 5 minutos e, em seguida, 4 grupos receberam veículo e 4 grupos receberam morfina 10 mg/kg, por 5 dias; fase de contracondicionamento, na qual todos receberam veículo antes da sessão de 5 minutos, e após 4 grupos receberam veículo e 4 grupos receberam apomorfina 0,05 mg/kg, sendo que uma parte dos animais recebeu o tratamento imediatamente após a sessão, e outra parte recebeu 15 minutos após a sessão, durante dias. Após 2 dias de retirada foi realizado teste de condicionamento por um dia, no qual os animais receberam veículo previamente à sessão de 30 minutos, mostrando que, nos grupos que se utilizou o protocolo de contracondicionamento imediatamente após a sessão, atenuouse a resposta locomotora. Os resultados mostraram que a novidade inicialmente desperta comportamento exploratório do animal ocorrendo declínio com a habituação e que o ambiente novo funciona como reforço associado ao uso da morfina, intensificando a resposta locomotora condicionada e sensibilizada. O contracondicionamento pode ser uma importante ferramenta no protocolo de tratamento da dependência química.

Addiction is a chronic disease with a constant possibility of relapse by patients and morphine is a drug used to treat pain, with high potential for dependence, and increases dopamine release in the mesolimbic and mesocortical pathways, regions related to reward pleasure and compulsion. Studies have shown that conditioning, behavioral sensitization, and the new environment are involved in chemical dependence. Conditioning is a type of associative learning resulting from the interaction of a stimulus with the environment. Sensitization is characterized by the increase in a particular behavioral response when administering the same dose of a drug, and novelty acts as a strengthening effect on the use of drugs of abuse. Pavlovian stroke conditioning is a protocol in which the conditioned stimulus ends before the beginning of the presentation of the unconditioned stimulus, and useful in chemical dependence studies. Counterconditioning is a therapeutic method that acts by replacing a response initially produced with a new and opposite response. This work aimed to evaluate the effect of novelty on the development and expression of conditioning and sensitization produced by morphine (experiment 1) and the use of counterconditioning in the attenuation of this response (experiment 2). Experiment 1 consisted of 2 phases, in phase 1 a group of rats was placed in the arena for an experimental session of 5 minutes, receiving vehicle before and after the session for 10 days; phase 2 was divided into 3 stages, the first induction phase, in which all animals received a vehicle before the 5-minute session, and after 4 groups they received a vehicle and 4 groups received morphine 10mg/kg for 5 days; conditioning phase, in which all animals received vehicle before and after the 5-minute session for 5 days, and then were 2 days of withdrawal, and finishing the animals received vehicle before the session for the final test of 30 minutes. Experiment 2 consisted of 3 phases: induction phase, where everyone received vehicle before the 5-minute session after 4 groups received a vehicle and 4 groups received morphine 10 mg/kg for 5 days; counterconditioning phase, in which all received vehicle before the 5-minute session, and after 4 groups received the vehicle and 4 groups received apomorphine 0.05 mg/kg, and part of the animals received treatment immediately after the session and another part received 15 minutes after the session for 5 days. After 2 days of withdrawal, a one-day conditioning test was performed, in which the animals received a vehicle before the 30-minute session, showing that in the groups that used the counterconditioning protocol immediately after the session, the locomotor response was reduced. The results showed that the novelty initially arouses exploratory behavior of the animal occurring decline with habituation and that the new environment acts as a reinforcement associated with the use of morphine, intensifying the conditioned and sensitized locomotor response. Counterconditioning can be an important tool in the chemical dependence treatment protocol.

Associative learning in wild Anastrepha obliqua females (Diptera, Tephritidae) related to a protein source

The aim of the present study was to determine whether wild adult Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) females are able to associate a compound (quinine sulphate - QS) not related to their habitual diet with a protein-enriched food. Females were first fed on diets based on brewer yeast and sucrose containing or not QS. The groups were then allowed to choose between their original diets and a diet with or without QS, depending on the previous treatment, and between a diet based on agar and a diet containing agar and QS. When the nutritional value of the diets was adequate, the females did not show any preference for the diet with or without QS. With respect to the agar diet and the agar + QS diet, females previously fed on a nutritive diet containing QS preferred the diet containing QS, indicating an association between the compound and the nutritional value of the diet. The importance of this behavioral strategy is discussed.

O objetivo do presente estudo foi determinar se fêmeas adultas selvagens de Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) são capazes de associar um composto (sulfato de quinino-SQ) não-relacionado à sua dieta habitual com um alimento rico em proteínas. Primeiro, as fêmeas foram alimentadas com dietas à base de lêvedo de cerveja e sacarose contendo ou não SQ. Os grupos foram então colocados para escolher entre sua dieta original e dietas com ou sem SQ, dependendo do tratamento prévio, e entre uma dieta à base de agar somente e outra à base de agar e SQ. Quando o valor nutricional das dietas era adequado, as fêmeas não mostraram nenhuma preferência para a dieta com ou sem SQ. Em relação às dietas de agar e agar+SQ, fêmeas previamente alimentadas com uma dieta nutritiva contendo SQ preferiram a dieta contendo SQ, indicando uma associação entre o composto e o valor nutricional da dieta. A importância desta estratégia comportamental é discutida.

Associative learning in wild Anastrepha obliqua females (Diptera, Tephritidae) related to a protein source

The aim of the present study was to determine whether wild adult Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) females are able to associate a compound (quinine sulphate - QS) not related to their habitual diet with a protein-enriched food. Females were first fed on diets based on brewer yeast and sucrose containing or not QS. The groups were then allowed to choose between their original diets and a diet with or without QS, depending on the previous treatment, and between a diet based on agar and a diet containing agar and QS. When the nutritional value of the diets was adequate, the females did not show any preference for the diet with or without QS. With respect to the agar diet and the agar + QS diet, females previously fed on a nutritive diet containing QS preferred the diet containing QS, indicating an association between the compound and the nutritional value of the diet. The importance of this behavioral strategy is discussed.

O objetivo do presente estudo foi determinar se fêmeas adultas selvagens de Anastrepha obliqua (Macquart, 1835) são capazes de associar um composto (sulfato de quinino-SQ) não-relacionado à sua dieta habitual com um alimento rico em proteínas. Primeiro, as fêmeas foram alimentadas com dietas à base de lêvedo de cerveja e sacarose contendo ou não SQ. Os grupos foram então colocados para escolher entre sua dieta original e dietas com ou sem SQ, dependendo do tratamento prévio, e entre uma dieta à base de agar somente e outra à base de agar e SQ. Quando o valor nutricional das dietas era adequado, as fêmeas não mostraram nenhuma preferência para a dieta com ou sem SQ. Em relação às dietas de agar e agar+SQ, fêmeas previamente alimentadas com uma dieta nutritiva contendo SQ preferiram a dieta contendo SQ, indicando uma associação entre o composto e o valor nutricional da dieta. A importância desta estratégia comportamental é discutida.