A historiografia da escravidão brasileira é dividida, de forma panorâmica, em três fases, considerando-se a relevância das rupturas teórico-metodológica e interpretativa que ocorreram. Considera-se como elemento fundador o pensamento ancorado na tese de Gilberto Freyre, que, com efeito, é o primeiro a centralizar a escravidão como modo de interpretar a formação do Brasil e a contribuição dos povos que aqui se relacionaram. A ruptura com essa linha teórico-metodológica e interpretativa ocorre por volta dos anos 1950 e, mais contundentemente, após 1960, quando sociólogos da Universidade de São Paulo USP passaram a enxergar a escravidão de forma diversa da de Freyre, situando-a como conseqüência do capitalismo mercantil. A terceira fase emerge quando pesquisadores, baseados na nova tendência historiográfica da década de 1970 e 1980, relêem as fontes e, sob aparato teórico-metodológico diferente do utilizado pelos pesquisadores da USP, passam a entender a escravidão sob uma nova perspectiva, valorizando as ações e experiências cativas. É neste contexto que a comparação entre os pensamentos fundadores do estudo do papel da escravidão e do escravo na História do Brasil ganha sentido.