RESUMEN
O objeto deste artigo são as notas de rodapé de Freud. Partindo do conceito de paratexto, de Gérard Genette, o autor empreende uma leitura comparativa de alguns textos de Freud, centrando-se em suas notas marginais. Pode-se notar um movimento textual e teórico constante em Freud, que vai das margens para o centro. É comum que ideias expressas pela primeira vez em notas marginais subam e se tornem o objeto específico de textos reais, às vezes com um intervalo de anos. Assim, por exemplo, a ideia de uma nota de rodapé, de 1923, ao caso Dora se torna o objeto central de um texto autônomo, de 1925, sobre a negação. Esse movimento não parece casual. Parece antes um índice fundamental não só da escrita, mas também da teorização freudiana, em que a diferença entre centro e margem é reiteradamente transgredida e liquefeita
The subject of this article is Freuds footnotes. Based on Gérard Genettes concept of paratext, the author undertakes a comparative reading of some of Freuds texts, focusing on his marginal notes. One can notice a constant textual and theoretical movement in Freud, which goes from the margins to the center. It is common for ideas first expressed in marginal notes to rise and become the specific subject of real texts, sometimes years apart. Thus, for example, the idea of a 1923 footnote on Doras case becomes the central subject of an autonomous text, from 1925, on negation. This movement does not seem casual. It seems to be, rather, a fundamental index not only of the Freudian writing, but also of his theorization, in which the difference between center and margin is repeatedly transgressed and liquefied
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Resenha de Otto Rank, Poesia e mito: os textos que Freud baniu de A interpretação dos sonhos, tradução de Natan Schäfer, São Paulo, Blucher, 2023, 165 p
Asunto(s)
PsicoanálisisRESUMEN
Em sua primeira teoria etiológica das neuroses, Freud propunha que o trauma sexual sofrido pela criança só teria consequências no futuro, quando o indivíduo se tornasse um ser sexuado; o ponto de virada seria muito precisamente a puberdade, período em que o sexual se faria presente para o organismo humano. É sabido que Freud abandonou ao menos em parte essa teoria, conceituando uma sexualidade infantil cujo regime não se pauta pela função reprodutiva. Para alguns leitores, isso implicaria uma concepção de sexualidade apartada do campo da vida e da reprodução da espécie. Ademais, ter-se-ia assim uma aparente redução da importância da puberdade na teoria freudiana, senão um seu desaparecimento completo. Ora, não é isso o que se nota nos próprios textos freudianos: a puberdade aparece com constância, não apenas no último dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905), mas também em vários momentos do corpus freudiano, marcando presença em toda a sua produção teórica. Nosso objetivo neste artigo foi investigar a posição teórica da noção de puberdade dentro da teoria freudiana da sexualidade. Longe de perder seu papel, ela nos aparecerá como um caso privilegiado para se reavaliar essa teoria: com ela, as ideias da dupla temporalidade da sexualidade humana, da norma natural e da função reprodutiva estão postas em cena. Assim, é toda a dimensão biológica (ou naturalista) da teoria freudiana que é recolocada em primeiro plano pela noção de puberdade