Sobre a institucionalização da psicanálise no Brasil: transformações

Este trabalho analisa o processo de institucionalização da psicanálise no Brasil, com foco no problema da criação dos cursos de bacharelado que pretendem graduar psicanalistas. Esse cenário inédito implica o risco significativo de uma regulamentação da profissão de psicanalista, sem que a comunidade dos profissionais que a praticam e a transmitem no país dela participem. Em paralelo, a própria comunidade psicanalítica se vê pressionada pelos movimentos contracoloniais e identitários a repensar os dispositivos de formação, transmissão e ensino da psicanálise, de modo que se incluam em seus sistemas discursivos os problemas inerentes à sociedade brasileira em sua diversidade, e que se tornem acessíveis o tratamento e a formação psicanalítica às populações menos privilegiadas e, mesmo, subalternizadas, em busca de uma psicanálise comprometida com o ideal democrático de defesa universal dos direitos humanos

This paper analyzes the process of institutionalization of psychoanalysis in Brazil, focusing on the problem of the bachelors degree creation programs that aim to graduate psychoanalysts. This unprecedented scenario implies the consequent risk of regulating the profession of psychoanalysis without the participation of the professional community who practice and transmit it around the crountry. At the same time, the psychoanalytic community finds itself under pressure from anti-colonial and identity movements to rethink the mechanisms of training, transmission, and teaching of psychoanalysis, in order to include in its discursive systems the problems inherent to Brazilian society in its diversity and to make psychoanalytic treatment and training accessible to less privileged and even subalternized populations, seeking for a psychoanalysis committed to the democratic ideal of universal defense of human rights

A clínica, o entredito e o entrevisto: vicissitudes da análise on-line

A pandemia da Covid-19 implicou uma série de transformações nas modalidades de vínculo. Para nós, psicanalistas, a questão se colocou com contundência: a clínica iria sobreviver? Mas, a partir do enfrentamento da crise, saídas criativas foram sendo encontradas, de modo que os atendimentos remotos, antes considerados uma exceção, passaram a assumir protagonismo. Assim, levantamos, neste artigo, questões acerca da análise on-line, por meio de articulações entre a psicanálise e o cinema documental de Eduardo Coutinho. A experiência da capacidade negativa, explorada nos filmes do cineasta e apresentada por nós em uma vinheta clínica, apontam para circuitos transferenciais que podem favorecer o surgimento de caminhos simbólicos

The Covid-19 pandemic implied a series of transformations in bond procedures. For us, psychoanalysts, the question was posed with force: would the clinic survive? But, while facing the crisis, creative solutions were found, so that remote assistance, previously considered an exception, began to take on a leading role. Thus, in this article, one raises the question about online analysis, through articulations between psychoanalysis and Eduardo Coutinhos cinema. The experience of negative capacity, explored in the filmmakers documentary work and presented by us in a clinical vignette, points to transference circuits that can favor the emergence of symbolic paths

Viagem e exílio no filme A vida secreta das palavras: uma leitura inspirada na traumatogênese de Sándor Ferenczi

A vida secreta das palavras, filme de Isabel Coixet, explora as potencialidades do

encontro entre uma enfermeira, Hanna, e um trabalhador acidentado em uma plataforma

de petróleo, Joseph. Hanna leva uma vida monótona e anestesiada; Joseph demanda

cuidados, como auxílio para fazer as necessidades básicas. Ambos viveram experiências

intensamente traumáticas. O filme, que versa sobre as dificuldades de viver, mostra-se

uma obra sobre as dificuldades de falar. Pela perspectiva da traumatogênese de Sándor

Ferenczi, A vida secreta das palavras é uma história de dedicação ao outro e da potência

transformadora de um encontro sensível. Seu argumento nos confronta com os limites do

testemunho e da perlaboração das experiências radicalmente traumáticas, perturbando

nossa inabalável esperança nos poderes curativos da palavra

Ferenczi e Freud para além do princípio do prazer: a construção das hipóteses, o debate e algumas derivações clínicas

Neste artigo pretendemos demonstrar, a partir da análise da obra de

Sándor Ferenczi e de sua correspondência com Freud, como certas ideias propostas

em Além do princípio do prazer prolongaram, por um lado, hipóteses antecipadas

pelo psicanalista húngaro e, por outro, lhe forneceram importantes subsídios

para seus derradeiros avanços clínicos

Um lugar para pensar: uma hipótese sobre o enquadre interno do psicanalista

Pretendemos contribuir para os debates acerca da formação do

psicanalista mais especificamente, sobre a forma como se constitui, na

trajetória de um psicanalista, o modo de pensar que caracteriza essa práxis.

Situamos essa proposta como uma alterativa às investigações que se pautam

nos dispositivos institucionais voltados à formação, acreditando que a ênfase

no processo vivido pelo psicanalista em formação oferece subsídios mais

claros em relação àquilo que uma formação, quando bem-sucedida, promove.

Nesse contexto salientamos o lugar peculiar que cabe à teoria e à imago dos

autores canônicos, tentando sugerir formas de evitar que sejam promotores

de paralisia e submissão, mas sim promotores de rigor e criatividade

A virada de 1928: Sándor Ferenczi e o pensamento das relações de objeto na psicanálise

Demonstramos nesse artigo que as origens do pensamento das relações de objeto na psicanálise

podem ser encontradas na virada de 1928 realizada no campo psicanalítico por Sándor Ferenczi

por meio da publicação de três ensaios: A adaptação da família à criança, A elasticidade da técnica

psicanalítica e O problema do fim da análise. Nessa trilogia Ferenczi tece contribuições em

três dimensões metapsicologia/psicopatologia, teoria da clínica, e ética da psicanálise que

apontam para o desenvolvimento de um estilo clínico empático, inspirado em uma ética do

cuidado, que foi a força motriz para a constituição do pensamento das relações de objeto na

psicanálise

A maldição egípcia e as modalidades de intervenção clínica em Freud, Ferenczi e Winnicott

Pretende-se, neste artigo, apresentar as modalidades de intervenção clínica experimentadas por Sigmund Freud, Sándor Ferenczi e Donald Woods Winnicott, de maneira a atender às demandas impostas pelos diferentes quadros de sofrimento psíquico. Por meio de um percurso histórico-crítico, buscou-se desconstruir a ideia, ainda bastante difundida no campo psicanalítico, de que a clínica é, privilegiadamente, um exercício interpretativo. A partir dos impasses vividos por Freud no caso conhecido como "Homem dos Lobos", assistiu-se, primeiro, ao advento da técnica ativa; depois, à inauguração, por Ferenczi, de um estilo clínico que enfatizou o princípio de relaxamento e a neocatarse, em diálogo direto com a problemática da elaboração psíquica (Dürcharbeitung) discriminada por Freud; por fim, ao desenvolvimento, realizado por Winnicott, dos aspectos clínicos e metapsicológicos da regressão à dependência e do brincar compartilhado

Introjeção, corpo erógeno e simbolização

Mais importante contribuição de Ferenczi para a metapsicologia, o conceito de introjeção corresponde ao processo de constituição simultânea de um corpo erógeno e de um campo de objetalidade oriendo do auto-erotismo

Princípios para uma ética do cuidado

A partir de Ferenczi, as concepções que regiam a técnica psicanalítica, como a abstinência e a neutralidade, deram lugar à hospitalidade, à empatia e à saúde psíquica do analista, novas categorias éticas do cuidado em psicanálise

Presença sensível: a experiência da transferência em Freud, Ferenczi e Winnicott

Através de uma análise histórico-crítica das concepções de transferência apresentadas nas obras de S. Freud, S. Ferenczi e D. W. Winnicott, pretende-se demonstrar que o estilo clínico desenvolvido por esses autores não pode ser dissociado do contexto no qual exercem a psicanálise, especialmente das formas de sofrimento psíquico nele predominantes. Tendo a neurose como matriz clínica privilegiada, Freud concebe a transferência como atualização dos complexos inconscientes infantis dos analisandos, seu manejo estando regulado pelo princípio da abstinência e pela interpretação da resistência e do recalcado. Por seu turno, Sándor Ferenczi e D. W. Winnicott lidaram com pacientes severamente traumatizados e comprometidos em seus processos de subjetivação e, baseando seu estilo clínico na regressão à dependência e no brincar compartilhado, indicaram que é a qualidade do encontro afetivo que se estabelece entre analista e analisando o que pode conduzir à produção de sentidos na experiência psicanalítica

A progressão traumática: algumas conseqüências para a clínica na contemporaneidade

Um reflexão sobre o resgate de um olhar genealógico para o fenomeno traumático na clínica contemporânea, marcada pela incidência de subjetividades caracterizadas pela pobreza dos processos de simbolização e da capacidade de fantasiar

A libido e o álibi do psicanalista: uma incursão pelo Diário clínico de Ferenczi

Este ensaio pretende destacar algumas das principais contribuições ao entendimento do que é o psicanalisar encontradas no Diário clínico de Sándor Ferenczi

Da institucionalização do mal-estar ao mau humor instituído: sobre a cultura dos psicanalistas e os impasses na transmissão da psicanálise

Diálogo entre o processo de institucionalização da psicanálise e os correspondentes discursos psicanalíticos sobre a cultura; pretende contrastar o modo pelo qual os psicanalistas pensam a cultura, o laço social e a maneira pela qual se relacionam, se associam e questionam a transmissão de seu saber