Psicanálise de crianças: relatos à luz de Klein, Bion, Meltzer

Autora: Marisa Pelella Mélega

Editora: Edizioni Universitaries Romanne, 2017

O desenvolvimento estético: o espírito poético da psicanálise: ensaios sobre Bion, Meltzer e Keats

Autora: Meg Harris Williams

Editora: Blucher, Karnac, 2018

O paciente, o analista e a terceira ópera

Neste artigo, a partir de um encontro pessoal com o seu analista, motivado pela morte do mesmo, o autor descreve a importância da pessoa do analista e do campo criado entre paciente-analista, bem como, em decorrência deste processo inexorável de perda, ocorre a introjeção do segundo no primeiro, levando à análise ao binômio terminável-interminável

Wilfred Bion: autobiografia e poética

A autora traz à luz o manejo e a necessidade literária e cultural do analista para o desenvolvimento de uma capacidade de apreensão poética de elementos que, a princípio, são esparsos, fora do senso comum e que passam a fazer parte de sua epistemologia pessoal. Ilustra essa ideia a partir de trechos de poetas citados por Bion em sua autobiografia que consubstanciam sua própria metapsicologia

Segunda conferência

Dr. Wilfred Bion, a convite da Professora Virgínia Bicudo e contando com a colaboração do Instituto de Psicanálise de São Paulo, esteve durante todo o mês de abril de 1975 em Brasília, quando se dispôs a atender a numerosos pedidos de estudiosos das Ciências Humanas fazendo conferências na Universidade de Brasília sobre seus últimos trabalhos e investigações em psicanálise.

As conferências foram pronunciadas em inglês, com tradução em paralelo.

A tradução do traduzido-falado ao traduzido-escrito esteve sob a responsabilidade de Jansy Berndt de S. Mello. Este trabalho, embora liberado

pelo o autor para a publicação exclusiva em Alter, não contou com sua revisão

Primeira conferência1

Dr. Wilfred Bion, a convite da Professora Virgínia Bicudo e contando com a colaboração do Instituto de Psicanálise de São Paulo, esteve durante todo o mês de abril de 1975 em Brasília, quando se dispôs a atender a numerosos pedidos de estudiosos das Ciências Humanas fazendo conferências na Universidade de Brasília sobre seus últimos trabalhos e investigações em psicanálise.

As conferências foram pronunciadas em inglês, com tradução em paralelo.

A tradução do traduzido-falado ao traduzido-escrito esteve sob a responsabilidade de Jansy Berndt de S. Mello. Este trabalho, embora liberado

pelo o autor para a publicação exclusiva em Alter, não contou com sua revisão

Psicanálise, regulação e tensão

Por meio de exemplos históricos, os autores tecem considerações acerca das tensões existentes entre a natureza e as especificidades da psicanálise com as normas jurídicas. Destacam que as críticas aos procedimentos e ao método psicanalítico são antigas, mas que a comunidade psicanalítica ainda não se dedicou à devida reflexão a tais críticas

Fanatismo e negacionismo

A partir do estudo do mito de Narciso propõe-se que as configurações fanáticas envolvem um complexo defensivo que ataca a percepção da alteridade e, por consequência, a consideração pelo outro. O fanático se refugia na idealização mortífera da Verdade, considerada única. Compulsivamente busca seduzir o outro a sua Causa, controlando-o. Caso não consiga terá que eliminá-lo. O negacionista, por sua vez, sente-se ameaçado por tudo aquilo que abala suas crenças e, ao negá-las, busca mantê-las ou substitui-las por construções que remontam a um passado idealizado. Os conceitos freudianos de negação (Verneinung) e recusa (Verleugnung) auxiliam sua compreensão. Demonstra-se que fanatismo e negacionismo podem superpor-se. O texto termina com a descrição de fatos similares que podem obstruir o conhecimento e a formação psicanalítica

A perversão no cotidiano: o estranho na parte obscura de nós mesmos

Descrita por diversos autores como uma passagem da fantasia inconsciente ao ato, a perversão combina sentimentos de vingança, de triunfo e de controle, como meios de defesa contra a experiência emocional do trauma e da impotência. O conceito de perversão é amplamente utilizado em psicanálise na elucidação da dinâmica inconsciente da adição, do abuso sexual, da delinquência, do homicídio, do assédio sexual e até da extorsão. Os conceitos de narcisismo, fetichismo, voyeurismo e sadomasoquismo são úteis para a compreensão da perversão. Em quase tudo o que li sobre perversão, encontrei uma palavra que se repete: desumanização, ou seja, perda da essência humana. Este é o ponto importante que se articula com a perversão, pois, o sujeito, em seu estado perverso, desumaniza as pessoas, coisificando-as, ignorando suas qualidades, anulando sua subjetividade e tornando-as apenas metas de seu próprio interesse, envolto no manto da hostilidade e desconsideração com o outro vivo. Refiro-me aos estados perversos, porque acredito que, embora a perversão esteja presente no nosso cotidiano, como analista, entendo que a mente humana se encontra em constante trânsito e oscilação. Gostaria de me ater aos aspectos perversos da mente humana, para pensar o trânsito emocional que acontece quando o ser humano não pode ser humano, quando o ser que desumaniza o outro se encontra com ele mesmo desumanizado dentro de si

Uma experiência de escuta psicanalítica a céu aberto

Este artigo aborda um trabalho de escuta psicanalítica realizado com um grupo de mulheres de um movimento social localizado numa comunidade carente no entorno de Brasília. Essa comunidade vivia em estado de privação e carecia de condições básicas de vida. O grupo era aberto e as sessões foram realizadas quinzenalmente no ano de 2019. Foi interrompido em razão da pandemia de covid-19. A escuta psicanalítica teve um papel relevante no referido contexto como veículo de acolhimento. A intensificação dos vínculos, a instalação da transferência, a emergência do inconsciente grupal, a linguagem e os afetos, favoreceram as identificações e fizeram emergir a força grupal, trazendo mudanças nas narrativas

Encontros reais e encontros virtuais

O autor contrasta a qualidade dos atendimentos online com a dos presenciais, retomados sob condições propiciadas pelas vacinas e com protocolos de saúde adotados em consultório. Menciona situações que surgem apenas no atendimento presencial e que somente nele podem ser observadas, principalmente no que diz respeito a camadas mais primordiais e primitivas da mente. Ressalta modos de caminhar, de deitar, de reagir a estímulos (como perfumes e cheiros) que são comuns a analista e analisando no consultório e não servem de referência nos atendimentos online. Destaca também o fato de o analisando ser aquele que determina o setting, e não o analista, além de sérios problemas que podem interferir na privacidade do atendimento. Considera os atendimentos virtuais de grande importância quando os presenciais se tornam inviáveis, como ocorreu nos picos da pandemia, mas enfatiza dimensões psíquicas que ficam muito mais difíceis, ou impossíveis, de serem acessadas sem a presença do analista e do paciente na sala do consultório

Compulsão à repetição: a marca no psiquismo do além do princípio de prazer

Os textos freudianos acerca do fenômeno da repetição escritos após 1920 demonstram uma mudança significativa em termos teóricos. Presenciamos “uma virada” nas elaborações do mestre vienense e entendemos que esta expressão diz respeito à mudança no interior do pensamento de Freud no que se refere à posição do aparelho psíquico em relação ao princípio de prazer. Freud abriu o caminho para se pensar em algo que se inscreve e que marca o psiquismo a partir das primeiras experiências de dor e de satisfação vividas após o nascimento. Encontramos em Freud a premissa de que o sujeito repete as experiências de dor quando se depara com situações irredutíveis ao princípio de prazer, mas também encontramos um princípio de repetição que reconduz à pulsão de morte. Este trabalho propõe-se a mostrar como o conceito de compulsão à repetição que deu entrada de maneira formal nos textos freudianos a partir de 1920 se localiza, do ponto de vista genético, como um fenômeno que se sobrepõe ao princípio de prazer

Somatização no bebê e construção de envelopes psíquicos e corporais: observação de um caso

Este artigo propõe mostrar como uma falha na construção dos primeiros envelopes psíquicos pode conduzir a uma somatização no bebê e as repercussões no conjunto das relações e regulações intersubjetivas precoces. Uma pesquisa em pediatria sobre a expressão somática nos bebês permitiu delimitar diferentes origens ligadas à desorganização somatopsíquica. A apresentação do caso Madras, um bebê de 2 meses e 15 dias mostra as consequências das dificuldades de continência primária e de construção de envelopes psíquicos. Essa situação revela a importância da qualidade das ligações precoces e suas vicissitudes, igualmente na maneira na qual corpo e psiquismo se constituem, sempre em interrelação e estreita interdependência.

Este artigo também permite observar como o modelo conceitual dos

envelopes psíquicos se aplica às interações precoces da tríade. A expressão

somática do bebê é considerada aqui como uma resposta a uma falha do continente

que permite a evacuação de tensões residuais excessivas não ligadas

Perseu e Medusa: o mito revisitado na clínica

Neste trabalho o sentido da visão foi considerado em destaque, tendo expressão no mito do Olhar de Medusa e o Escudo de Perseu, como via para a compreensão da situação transferencial. Sabemos que cada mito refere-se a um inconsciente ancestral, primordial. Detenho-me em algumas questões ligadas à busca e ao medo do conhecimento no âmbito da Psicanálise. O legado da antropologia para a compreensão dos mitos é ressaltado. Apresentando forte resistência à análise, denotativa de núcleos esquizoides e defesas narcísicas, surgiu uma situação especial com uma paciente, propiciada por uma diminuição das angústias persecutórias e maior confiança no vínculo, situação essa que pretendo relatar aqui, costurando recortes de uma experiência passada. Controvérsias quanto à evolução da técnica psicanalítica também serão examinadas

Da pandemia e de psicanálise

Ao mesmo tempo que alguns imaginam como será a vida pós-pandemia outros precisaram se ajustar de imediato a nova realidade. Ospsicanalistas entre eles, mesmo sem entender por completo o que aconteciae como seria manter o método com outra tecnologia

Figurabilidade e a Menina que não teme o tempo

Neste artigo, os estudos sobre a figurabilidade são a base para se apresentar o desenvolvimento da análise de uma paciente centenária, chamada aqui de Dona Menina. A partir da apresentação de alguns excertos clínicos, percebe-se que a analisanda tenta “deixar-se ir”, ou seja, Dona Menina, com seus quase 100 anos, procura um fôlego na análise para sustentar a crueza da inexorável iminência da morte. Com a aplicação desta ferramenta a figurabilidade –, intenta-se levar o psiquismo da paciente ao gozo de uma existência vivida, ressoando assim, neste corpo, as tentativas de um “bem morrer”

Paixão, turbulência e crescimento na clínica contemporânea

A autora faz uma correlação entre paixão e sofrimento, que na vivência de turbulência da análise de Alexandra acompanha o surgimento de

conhecimento e crescimento, por um lado; por outro, levanta a hipótese

de estarmos expostos ao contato com aspectos da mente primordial que são diferenciáveis de manifestações alucinatórias. Essas ganham vida na sessão e se confundem com elementos simbolizáveis, que entretanto não podem ser pensados, somente sentidos e tolerados pela dupla. Destaca que o trabalho clínico baseado em um novo modelo de mente, que Bion propõe a partir de Transformações (1965), enfatiza um inconsciente a ser construído e a ser reconhecido em seus limites de cognoscibilidade. Faz uma reflexão sobre algumas formas de aproximação à clínica: o vértice pelo qual podemos nos aproximar da situação clínica e quais as teorias que sustentam o meu olhar