Muitas humanidades

RESUMO

Nos anos de 2020 e 2021, a humanidade enfrentou uma grave crise devido à pandemia global e às consequências das mudanças climáticas. A esperança de uma mudança de atitude diante da vida foi efêmera a extrema direita avançou em vários países, levando a políticas de exclusão social, xenofobia, racismo e violência, agudizando os “mundos de morte” descritos por Achille Mbembe. Proponho discutir a crise ambiental a partir de uma perspectiva pós-colonial e psicanalítica, buscando um diálogo com as culturas que o colonialismo atacou. Visito a visão de Freud sobre a relação entre natureza e cultura para em seguida dialogar com Winnicott e explorar perspectivas alternativas, como as cosmogonias ameríndias, que veem a natureza como parte da humanidade. Enquanto a cultura ocidental busca dominar e controlar a natureza, outras veem a natureza como parte intrínseca da humanidade, valorizando a ética do cuidado e do acolhimento, em contraste com a ética punitivista da cultura ocidental. A psicanálise, em diálogo com essas culturas, pode oferecer uma perspectiva diferente da relação entre natureza e cultura e ampliar sua escuta. Convido, assim, a repensarmos, como psicanalistas, nossa concepção de natureza, cultura e ética em meio à crise ambiental

ABSTRACT

In the years 2020 and 2021, humanity faced a severe crisis due to the global pandemic and the repercussions of climate change. The hope for a change in attitude towards life was short-lived the far-right movement advanced in several countries, leading to policies of social exclusion, xenophobia, racism, and violence, exacerbating the “death worlds” described by Achille Mbembe. This article proposes discussing the environmental crisis from a post-colonial and psychoanalytic perspective, seeking a dialogue with the cultures that colonialism attacked. It explores Freuds view on the relationship between nature and culture, engaging with Winnicott and exploring alternative perspectives such as Amerindian cosmogonies that perceive nature as an integral part of humanity. While Western culture seeks to dominate and control nature, others view nature as an intrinsic part of humanity, valuing an ethics of care and hospitality, in contrast to the punitive ethics of Western culture. Through dialogue with these cultures, psychoanalysis can offer a different perspective on the relationship between nature and culture, expanding its attention toward the matter. The article invites psychoanalysts to reconsider their concepts of nature, culture, and ethics amidst the environmental crisis