O trabalho com pais de crianças com transtornos de desenvolvimento: ressonâncias e dissonâncias entre clínica e pesquisa

RESUMO

Este artigo discute que o conhecimento produzido em trabalhos com escala grupal, como ensaios clínicos, se refere a tendências generalizáveis ao grupo, ainda que se tenha como diretriz de intervenção a singularidade de cada caso, pois o fato de o delineamento ser tal que se produzem efeitos recolhidos como tendência do grupo, portanto generalizáveis, não torna necessário que a intervenção seja orientada por generalizações ao invés da singularidade de cada caso. Aponta-se a crença errônea de que resultados obtidos de maneira generalizável decorrem de intervenções orientadas por generalizações. Argumenta-se que a natureza generalizável do conhecimento referente à escala grupal é efeito do delineamento metodológico, e não da diretriz da intervenção, daí a importância de estudos em escala grupal lançarem mão de métodos quantitativos aptos a detectar resultados tendenciais, ou seja, generalizáveis, como também de métodos qualitativos que detectam significados singulares das experiências vividas. Apresentam-se vinhetas clínicas de atendimentos de orientação psicanalítica com pais e crianças e discutem-se aspectos epistemológicos, metodológicos e clínicos a fim de ilustrar que tensões da própria clínica podem alimentar o embate da psicanálise com outras perspectivas de trabalho que também são importantes na pesquisa e no atendimento a crianças com problemas de desenvolvimento e seus familiares

ABSTRACT

This article discusses how knowledge produced through group-based work, such as clinical trials, pertains to trends generalizable to the group, even when the intervention guidelines prioritize the uniqueness of each case. The fact that the design produces effects gathered as group trends, hence generalizable, does not imply that the intervention should be guided solely by generalizations rather than the uniqueness of each case. The misconception that generalizable results arise from generalization-based interventions is addressed. It argues that the generalizable nature of knowledge related to group-based scales results from methodological design, not from intervention guidelines. Hence, its important for studies using group-based methods to employ quantitative approaches capable of detecting trend-based, generalizable outcomes, as well as qualitative approaches that uncover the unique meanings of lived experiences. Clinical vignettes of psychoanalytically-oriented sessions with parents and children are presented, discussing epistemological, methodological, and clinical aspects to illustrate how tensions within the clinical setting can inform the confrontation of psychoanalysis with other work perspectives significant in the research and care of children with developmental issues and their families