Sobre silenciamentos

RESUMO

O presente artigo propõe reflexões e levanta questionamentos a respeito das dinâmicas institucionais das sociedades de psicanálise quanto aos temas do racismo, branquitude e negritude. Apresenta a realidade do número baixíssimo de negros, pardos e indígenas membros dos institutos de formação dessas instituições e o consequentemente também baixo número de psicanalistas não brancos. Propõe que a expressão de tal realidade nas instituições psicanalíticas compõe o tecido social mais amplo que também reproduz e expressa a exclusão de negros, pardos e indígenas de determinados ambientes sociais, culturais e educacionais, e procura contextualizar historicamente o movimento que naturaliza tal exclusão e silencia qualquer possibilidade de debate e discussão sobre tais fatos. Como membro e ex-coordenadora do Projeto Ubuntu, da Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre, programa de bolsas sociais para a formação de psicanalistas negros e indígenas, a autora propõe que políticas afirmativas como essa podem ser um dos instrumentos para fazer frente à injusta exclusão e ao silenciamento diante dela

ABSTRACT

This article proposes reflections and raises questions regarding the institutional dynamics within psychoanalytic societies concerning issues of racism, whiteness, and blackness. It addresses the extremely little presence of Black, Mixed-race, and Indigenous individuals within the training institutes of these institutions, and consequently, the disproportionately low number of non-White psychoanalysts. The article suggests that the manifestation of this reality within psychoanalytic institutions is intertwined with the broader social fabric that also reproduces and manifests the exclusion of Black, Mixed-race, and Indigenous individuals from certain social, cultural, and educational environments. It also seeks to historically contextualize the movement that normalizes such exclusion and stifles any possibility of debate and discussion on such matters. As a member and former coordinator of the “Projeto Ubuntu” (Ubuntu Project) by the Brazilian Society of Psychoanalysis of Porto Alegre –a social scholarship program for the training of Black and Indigenous psychoanalysts–, the author proposes that affirmative policies like this can serve as tools to confront unjust exclusion and the ensuing silence