RESUMO
A prestação de cuidados de enfermagem de saúde mental culturalmente sensíveis envolve o conhecimento da cultura, da linguagem e da expressão do sofrimento, próprio dessa cultura. A comunidade chinesa tem vindo a aumentar em Portugal, mas o conhecimento relativo à forma como vivem e sentem a doença mental é quase inexistente. Este estudo exploratório de tipo qualitativo, procura fazer emergir algumas definições, interpretações e práticas de saúde mental dos imigrantes chineses. Foi efetuado um conjunto de 15 entrevistas, recorrendo ao método snow-ball, a imigrantes chineses residentes em Portugal, assentes num guião semiestruturado e culturalmente validado, com recurso a tradutor com habilitação linguística e cultural, O estudo sugere, que as experiências migratórias são tão mais positivas, quanto as pessoas tenham uma rede de suporte eficaz, baseada principalmente na presença da família, amigos e concidadãos, quanto na capacidade de dominar a língua portuguesa e comunicar com os portugueses. Estes fatores, associados à saúde do próprio e dos seus, são tidos como fundamentais para um sentido de bem-estar e felicidade. As conceções de saúde e doença apresentam-se como distintos, com linguagem própria, por vezes incompreensível para os nossos próprios padrões culturais, o que contribui para a não procura de serviços de saúde por esta população, a não ser que falhem todas as estratégias de auto ajuda ou de respostas dentro da comunidade mais próxima de familiares e amigos, acabando por preferir muitas vezes regressar à China do que recorrer a profissionais de saúde em Portugal. A doença mental é claramente assustadora para este grupo, uma vez que se apresenta fortemente estigmatizada na sua cultura de origem, sendo tradicionalmente fonte de vergonha e embaraço para os seus portadores e famílias, muitas vezes ligada à ideia de agressividade, levando a que se evite a todo o custo qualquer assunto ou linguagem a esta relacionados.
