RESUMO
A partir da análise da literatura sobre a abordagem do empoderamento do paciente no campo da diabetologia, discute-se o impacto dessa perspectiva sobre os significados das transformações nas relações de cuidado, explorando as implicações para a posição ocupada por profissionais da saúde e pacientes. Consideram-se as dificuldades e os incômodos apontados pelos profissionais da saúde frente às mudanças requeridas pelo empoderamento do paciente. Esses dados são problematizados por meio de um enfoque antropológico, apoiando-se nas elaborações sobre o contraste entre a lógica da escolha e a lógica do cuidado, e considerando a diferença entre as representações dos agentes da biomedicina e dos pacientes a partir da oposição entre os modelos indivíduo/pessoa. O percurso analítico é concluído com a constatação da necessidade de relativizar a ideia de que o empoderamento do paciente representa o incremento do individualismo nas relações de assistência à saúde, o que contribui para matizar as reflexões que os cientistas sociais têm desenvolvido acerca da tendência atual de atribuir ao indivíduo a responsabilidade pela própria saúde.
Based on an analysis of the literature on patient empowerment in the field of diabetology, I discuss the impact of this perspective on the meanings of changes in the relations of care, and explore implications to the position occupied by health professionals and patients. The analysis considers the difficulties and embarrassments mentioned by health professionals regarding the changes that are required by patient empowerment. Through an anthropological approach, the analysis is supported by theoretical conceptions about the contrast between the logic of choice and the logic of care, and problematizes the difference among the representations of biomedicine agents and patients, based on the opposition between the individual/person models. The analytical course allows to conclude that it is necessary to relativize the idea that patient empowerment represents an increase in individualism in health care relationships. This contributes to include other nuances in the social scientists' reflections on the current tendency of attributing to individuals the responsibility for their own health.