A relação pais-filhos e a inibição intelectual / The parent-children relationship and the intellectual inhibition

RESUMO

Esta pesquisa investiga os aspectos psicodinâmicos da relação pais-filhos que interferem na inibição intelectual. Para tanto, utilizou-se o estudo de caso de uma criança de 10 anos encaminhada para avaliação psicológica em clínica-escola de Psicologia. Uma vez que a avalição do nível intelectual demonstrou um resultado considerado normal, verificou-se através do modelo de psicodiagnóstico de Ocampo (1990) e Trinca (1984), os motivos latentes que determinavam tal inibição. Procurou-se explicitar quais fatores poderiam estar impedindo que a criança pudesse fazer uso de seus recursos e potencialidades e se os elementos que se destacaram da dinâmica familiar - a saber a curiosidade como elemento indesejável e merecedora de punição e um episódio de abuso sexual ocorrido com a criança e mantido pelos pais como segredo - poderiam interferir neste processo. A análise do material revelou uma família com predomínio de fantasias persecutórias de ataque e roubo, sendo a curiosidade vivida como algo muito perigoso. A curiosidade tão temida pelos pais relaciona-se à sexualidade que na família não pode ser considerada e nem explorada. Nesse sentido, não falam sobre o episódio de abuso sexual, mas criam fantasia, que circulam no meio familiar, de que a criança possa se tornar um homossexual. Observou-se no material produzido pela criança, também o predomínio de fantasias persecutórias de ataque e destruição em relação às figuras parentais. Tal vivência dificultou o desenvolvimento de seu mundo de fantasias, o processo de simbolização e o pensamento. A fantasia e a conduta assustada dos pais tendem a reiterar para a criança que a curiosidade é algo perigoso e destrutivo, confirmando-se, assim, a hipótese inicial da interferência da dinâmica da relação pais-filhos na inibição intelectual