Níveis de metais traço em cultivos semi-intensivos de tambaqui (Colossoma macropomum Cuvier, 1818) no Estado do Amazonas

RESUMO

Os estudos avaliando a concentracao de metais traco em pisciculturas no Brasil, sao escassos. E no Amazonas, inexistentes. Estudos investigando a presenca e dos niveis desses metais na biota aquatica, especialmente nos tecidos dos peixes sao essenciais para o desenvolvimento de estrategias adequadas para mitigar o impacto causado por metais toxicos. Neste trabalho investigou-se os niveis de metais traco (Cr, Mn, Co, Ni, Cu, Zn, Al, Ag, Cd, Pb, Fe, Na, Mg, Ca, K e Ba) na agua, racao, sedimento, bem como os fatores de bioconcentracao e bioacumulacao na musculatura de tambaqui (Colossoma macropomum). Para isso, foram selecionadas oito pisciculturas comerciais que praticam em paralelo outras atividades agropecuarias. Juvenis de tambaqui nao parasitados (n = 21 por piscicultura; total = 168 peixes) foram eutanasiados por seccao medular e amostras do musculo dorsal e figado dos peixes coletados para determinacao dos niveis de metais traco. Amostras do sedimento, agua e racao fornecida aos peixes tambem foram coletadas. As concentracoes de metais traco foram determinados por espectrometria de emissao optica com plasma indutivamente acoplado (ICP- OES). As concentracoes de Fe, Zn, Mg e Cr no musculo de tambaquis foram superiores ao recomendado pela legislacao brasileira, considerando o consumo diario para adultos. Os elementos Mn, Zn, Al, Pb, Fe, Na, Cu, Co, Ag, Cd e Ba foram significativamente maiores no tecido hepatico quando comparados ao musculo de tambaquis. Na racao, os metais mais prevalentes foram Ca, K, Na, Mg e Fe, enquanto os niveis de Cr e Cd no sedimento, e Pb, Mn, Cu e Fe na agua apresentaram valores acima dos limites maximos permitidos pela legislacao brasileira. Os maiores valores dos fatores de bioconcentracao foram observados para os metais Na, Zn e K com concentracoes ate 4.74, 12.61 e 72.08 vezes maiores no musculo de tambaqui quando comparados a agua, enquanto os fatores de bioacumulacao dos elementos Cr e K apresentaram niveis ate 5.36 e 6.32 vezes maiores no musculo em relacao a racao comercial fornecida aos peixes. Os fatores de bioacumulacao dos elementos Ca, Zn, Mg, Na e K tambem foram 2.90, 6.96, 21.21, 212.33 e 492.02 vezes maiores no musculo quando comparados aos valores presentes no sedimento dos viveiros entre todas as pisciculturas, respectivamente. Portanto, os resultados obtidos neste trabalho sugerem que tambaquis possuem alta capacidade de bioacumular metais traco, especialmente essenciais, podendo ser classificado como especie bioindicadora de qualidade ambiental. Alem disso, notamos que mesmo a agua apresentando a maior prevalencia e diversidade de elementos acima dos valores recomendados na legislacao brasileira, o sedimento e a principal fonte de contaminacao de metais traco para tambaquis.

ABSTRACT

In Brazil, there are few studies evaluating the concentration of trace metals in fish farms, and in Amazonas, they do not exist. Therefore, studies investigating the presence and levels of these trace metals in aquatic biota, especially in fish tissue, are essential for the development of adequate strategies to mitigate the impact caused by toxic metals. Here, we investigate the levels of trace metals (Cr, Mn, Co, Ni, Cu, Zn, Al, Cd, Pb, Fe, Na, Mg, Ca, K and Ba) in water, feed, sediment, as well as factors of bioconcentration and bioaccumulation in tambaqui musculature (Colossoma macropomum). For this, eight commercial fish farms that practice other agricultural activities in parallel were selected. Non-parasitized tambaqui juveniles (n = 21 per fish farm; total = 168 fish) were euthanized by medullary section and dorsal muscle and liver samples were collected from the fish to determine trace metals levels. Samples of sediment, water and feed provided to the fish were also collected. Trace metals concentrations were determined by inductively coupled plasma optical emission spectrometry (ICP-OES). The concentrations of Fe, Zn, Mg and Cr in tambaquis muscle were higher than recommended by Brazilian legislation, considering the daily consumption for adults. The elements Mn, Zn, Al, Pb, Fe, Na, Cu, Co, Ag, Cd and Ba were significantly higher in liver tissue when compared to tambaquis muscle. In feed, the most prevalent metals were Ca, K, Na, Mg and Fe, while the levels of Cr and Cd in the sediment, and Pb, Mn, Cu and Fe in the water presented values above the maximum limits allowed by Brazilian legislation. The highest values of bioconcentration factors were observed for the metals Na, Zn and K with concentrations up to 4.74, 12.61 and 72.08 times higher in tambaqui muscle when compared to water, while the bioaccumulation factors of Cr and K elements showed levels up to 5.36 and 6.32 times greater in muscle compared to commercial feed fed to fish. The bioaccumulation factors of the elements Ca, Zn, Mg, Na and K were also 2.90, 6.96, 21.21, 212.33 and 492.02 times greater in muscle when compared to the values present in pond sediment among all fish farms, respectively. Therefore, our results suggest that tambaquis have a high capacity to bioaccumulate trace metals, especially essential, and can be classified as a bioindicator species of environmental quality. In addition, we note that even water with the highest prevalence and diversity of elements above the values recommended in Brazilian legislation, sediment is the main source of trace metals contamination for tambaquis.