Resumo
A tainha apresenta um trato gastrointestinal sofisticado, o que lhe permite aproveitar alimentos nutricionalmente pobres. Devido ao trato ser modulado pelos diferentes tipos de alimentos disponíveis no meio, o objetivo do presente estudo foi avaliar as alterações morfofisiológicas do trato digestório de tainhas, Mugil liza, provenientes de diferentes ambientes. Foram utilizados 20 exemplares de M. liza, sendo cinco provenientes da praia do Cassino (PC), 10 da Lagoa dos Patos (LP), destes cinco foram mantidos por 147 dias em sistema de recirculação (LP-RAS) e cinco de tanque rede (RAS-TR). Os organismos da LP-RAS foram alimentados duas vezes ao dia com ração comercial com 38% de PB e os de RAS-TR com 42% de PB. Todas as tainhas foram eutanasiadas com benzocaína (500 mg/L) e logo após os organismos da PC, LP e RAS-TR foram transportados até o laboratório em isopor com água+gelo (temperatura <4ºC). Foram analisados o peso, comprimento total, quociente intestinal (QI), índice estomacal (IE), índice de conteúdo estomacal (ICE), pH do trato e distribuição de células caliciformes nos cecos e intestino. Os exemplares do ambiente apresentaram um QI, IE e ICE estatisticamente maior que o de cativeiro. O pH estomacal dos peixes RAS-TR foi mais ácido em relação aos da PC, sendo que os tratamentos LP e LP- RAS permaneceram em uma condição intermediária. A partir dos cecos não houve diferença no pH entre as diferentes origens, exceto no intestino médio. Foi verificado maior número de células caliciformes no intestino distal e cecos pilóricos, seguido do intestino proximal e intestino médio. Os dados sugerem que as alterações morfofisiológicas são adaptações moduladas pelo grau de facilidade de digestão e absorção dos nutrientes que cada alimento contém devido a sua composição, de modo que as rações por serem assimiladas mais rápido, tendem a reduzir o peso do estômago e a área de absorção do intestino. Além disso, acredita-se que a presença de alimentos mais proteicos aumenta a liberação de suco gástrico reduzindo o pH estomacal. O maior número de células caliciformes foi verificado justamente nos locais onde há necessidade de aumentar a absorção, lubrificação e proteção do epitélio.
Morphophysiological differences of the gastrointestinal tract of grey mullet, Mugil liza, from confinement and environment Grey mullet has a sophisticated gastrointestinal tract that allows the use of nutritionally poor foods. Due to the tract to be modulated by available food types in the environment, the goal of this study was to evaluate the morphophysiological changes in grey mullet, Mugil liza from different environments. It was used 20 individuals of M. liza, being 5 from Cassino beach (PC), 10 from Patos Lagoon (LP), from which 5 were reared in a recirculating aquaculture system (LP-RAS) and others 5 from RAS and reared in cages (RAS-TR). Fish of the LP-RAS and RAS-TR were fed twice a day on a commercial food with 38 and 42% of crude protein, respectively. All grey mullets were euthanized with benzocaine (500mg/L) and the fish from PC, LP and RAS-TQ were carried to the laboratory in a styrofoam box with water+ice (temperature <4ºC). It was analyzed the weight, total length, intestinal quotient (QI), stomach index (IE), stomach content index (ICE), pH of different sections of the tract and goblet cells distribution on mucosal surface of the pyloric ceca and intestine. Grey mullets from environment showed a higher QI, IE and ICE than those from captivity. Stomach pH of fish from RAS-TR was more acid in relation to PC, being that fish from LP and LP-RAS were intermediary. The pH from pyloric ceca until distal intestine did not change among origins, except in the mid intestine. It was verified a higher number of goblet cells in the distal intestine and pyloric ceca, following by proximal and mid intestine. Data suggest that morphophysiological changes are adaptations modulated by the easiness degree of the nutrient digestion and absorption that each food has due to own composition, so that the weight of the stomach and the absorption area of intestine trend to decrease. Moreover, it is believed that more protein food increase the release of gastric juice, decreasing the stomach pH. In relation to goblet cells, it was verified a higher number precisely in places where it was necessary increasing the absorption, lubrication and protection of the epithelium.