Resumo
Estudos em diversas áreas relacionadas a biologia das espécies de morcegos, até o presente momento, são escassos sobre a morfologia do tubo digestório da espécie Molossus rufus. O presente trabalho objetivou avaliar alguns aspectos morfológicos da parede do tubo digestório da cavidade abdominal de morcegos da espécie Molossus rufus oriundos da região noroeste do estado do Paraná. Para isso foram capturados cinco exemplares machos, da espécie Molossus rufus, autorizada pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio - SisBio No 60061-1), mediante aprovação do Comitê de Ética (protocolo n. 34563/2018) da Universidade Paranaense. As coletas foram realizadas em uma área situada na região noroeste do estado do Paraná, Brasil. Após a captura os animais foram identificados utilizando chave dicotômica, acondicionados e transportados em saco de algodão até o laboratório, onde os animais foram pesados e seguiram para eutanásia com supra dose de isoflurano. Em seguida os animais foram laparatomizados e os segmentos do tubo digestório foram avaliados quanto as características macroscópicas e então foram coletados e fixados em formol neutro a 10%. Após a fixação por 48horas os segmentos seguiram para o processamento histológico de rotina de emblocamento, corte e coloração. Um fragmento foi destinado as técnicas de coloração básica Giemsa, e a histoquímica da NADPH-diaforase, que permitiu avaliar o arranjo ganglionado do plexo mioentérico. Todos os segmentos foram fotografados. A localização do plexo mioentérico encontrava-se entre os estratos circular e longitudinal, na túnica muscular e os neurônios apresentavam-se em gânglios envoltos por fibras colágenas. O peso médio dos animais foi de 39,33g, o estômago com tamanho médio de 1cm e o intestino 15cm. As características macroscópicas do tubo digestório permitiram identificar o segmento esofágico na cavidade abdominal, o estômago do tipo sacular em forma de J, e o intestino delgado sendo dividido em duodeno, jejuno-íleo e íleo terminal. Quanto ao intestino grosso este foi identificado como uma dilação do órgão a partir do segmento final do intestino delgado, com trajeto único no sentido oral-aboral terminando no ânus, o qual foi denominado cólon descendente. As características morfológicas da parede de todos os segmentos podem ser comparadas aquelas descrições existentes para mamíferos, contudo, algumas peculiaridades foram observadas como a ausência de glândulas esofágicas, glândulas de Brunner do intestino, do ceco, e de apêndices. O intestino grosso não é subdivido, mas sim formado por um único segmento o cólon descendente. A localização e o arranjo do plexo mioentérico é similar a outros mamíferos. A disposição anatômica dos segmentos correspondente ao tubo digestório, bem como, o padrão tissular destes segmentos em Molossus rufus, são similares aqueles encontrados em outras espécies de morcegos insetívoras. Porém, algumas destas características chamam atenção para possíveis adaptações do tubo digestório ao hábito alimentar das espécies insetívoras, que podem ser impactadas com as ações humanas nos ambientes de forrageio, alterando as populações de insetos que naturalmente são encontradas nestes locais, podendo impactar fortemente na sobrevivência destas espécies de morcegos que são parceiras no controle biológico de insetos.
Studies in several areas related to the biology of bat species, so far, are scarce on the morphology of the digestive tube of the species Molossus rufus. This study aimed to evaluate some morphological aspects of the digestive tube wall of the abdominal cavity of Molossus rufus bats from the northwest region of the state of Paraná. For this purpose, five male specimens of the species Molossus rufus were captured, authorized by the Chico Mendes Institute of Biodiversity (ICMBio - SisBio No 60061-1), with the approval of the Ethics Committee (protocol no. 34563/2018) of the Universidade Paranaense. The collections were carried out in an area located in the northwest region of the state of Paraná, Brazil. After capture, the animals were identified using a dichotomous key, packed and transported in a cotton bag to the laboratory, where the animals were weighed and then euthanized with a supradose of isoflurane. Afterwards, the animals were laparatomized and the segments of the digestive tube were evaluated for macroscopic characteristics and then they were collected and fixed in 10% neutral formalin. After fixation for 48 hours, the segments were followed for routine histological processing of blocking, cutting and staining. A fragment was destined to Giemsa basic staining techniques, and NADPH-diaphorase histochemistry, which allowed evaluating the ganglionic arrangement of the myenteric plexus. All segments were photographed. The location of the myenteric plexus was found between the circular and longitudinal strata, in the tunica muscularis, and the neurons were in ganglia surrounded by collagen fibers. The average weight of the animals was 39.33g, the average size of the stomach was 1cm and the intestine was 15cm. The macroscopic characteristics of the digestive tube allowed the identification of the esophageal segment in the abdominal cavity, the J-shaped saccular stomach, and the small intestine being divided into duodenum, jejunum-ileum and terminal ileum. As for the large intestine, this was identified as a dilation of the organ from the final segment of the small intestine, with a single path in the oral-aboral direction, ending in the anus, which was called descending colon. The morphological characteristics of the wall of all segments can be compared to those existing descriptions for mammals, however, some peculiarities were observed as the absence of esophageal glands, Brunner's glands of intestine, cecum, and appendages. The large intestine is not subdivided, but formed by a single segment, the descending colon. The location and arrangement of the myenteric plexus is similar to other mammals. The anatomical disposition of the segments corresponding to the digestive tube, as well as the tissue pattern of these segments in Molossus rufus, are similar to those found in other species of insectivorous bats. However, some of these characteristics draw attention to possible adaptations of the digestive tube to the feeding habits of insectivorous species, which can be impacted by anthropic actions in foraging environments, changing the insect populations that are naturally found in these places, which can strongly impact survival of these bat species that are partners in the biological control of insects.