Resumo
Há evidências de que a suplementação dietética de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 (AGPI-3) possa modificar o metabolismo lipídico e glicêmico de indivíduos diabéticos, aspecto não estudado em cães. Dessa forma, este estudo objetivou avaliar as respostas glicêmicas e lipídicas de cães com diabetes mellitus após a ingestão de ômega-3. Os cães diabéticos adultos, machos ou fêmeas, sem outras afecções, foram selecionados na rotina do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Estes foram incluídos em dois períodos experimentais de 12 semanas cada, nos quais receberam as dietas isonutrientes indicadas para cães diabéticos, denominadas como controle (sem óleo de peixe) e alimento teste (5,0% de óleo de peixe). Os resultados encontrados nas variáveis da curva glicêmica convencional e por sistema de mensuração contínua; curva de trigliceridemia e colesterolemia; perfil plasmático de lipoproteínas e variáveis do esvaziamento da vesícula biliar foram comparados por meio dos testes de Wilcoxon ou T pareado e, valores de p<0,05 foram considerados significativos. Foi observado que a ingestão média de 142,9±34,2mg/kg da soma de ácido eicosapentaenóico e docosaexaenóico resultou em menor colesterolemia média (p=0,01); mínima (p=0,02); máxima (p=0,01); em jejum (p=0,03); duas (p<0,01), quatro (p=0,01) e 10 horas pós-prandial (p=0,02); menor oscilação na colesterolemia ao longo do dia (p=0,03); nas concentrações das frações de colesterol em VLDL (p<0,01) e nas lipoproteínas não-HDL (p=0,05). Não foi observado efeito nas variáveis relacionadas ao esvaziamento da vesícula biliar e trigliceridemia (p>0,05). Observou-se maior concentração intersticial de glicose média total (p=0,04), média noturna (p=0,02), máxima diurna (p=0,01) e noturna (p<0,01), maior tempo em hiperglicemia (p<0,01), com menor tempo em hipoglicemia (p<0,01). A suplementação de óleo de peixe resultou em efeitos positivos na hipercolesterolemia mas, piorou a glicemia de cães diabéticos
There is evidence that dietary supplementation of omega-3 polyunsaturated fatty acids (PUFA-3) can modify the lipid and glycemic metabolism of diabetic subjects, an aspect not studied in dogs. Thus, this study aimed to evaluate the glycemic and lipid responses of dogs with diabetes mellitus after omega-3 intake. Adult diabetic dogs, male or female, without other conditions, were selected in the routine of the Veterinary Hospital of School of Veterinary Medicine and Animais Science of University of São Paulo. These were included in two experimental periods of 12 weeks each, in which they received the isonutrient diets indicated for diabetic dogs, named as control (without fish oil) and test food (5.0% fish oil). The results found in the variables of the conventional glycemic curve and by continuous measurement system; triglyceridemia and cholesterolemia curve; plasma lipoprotein profile and gallbladder emptying variables were compared using Wilcoxon or paired T tests, and p values <0.05 were considered significant. It was observed that the average intake of 142.9±34.2mg of the sum of eicosapentaenoic and docosahexaenoic acid/kg resulted in lower cholesterolemia variables: mean (p=0.01); minimal (p=0.02); maximum (p=0.01); fasting (p = 0.03); two (p<0.01), four (p=0.01) and 10 hours postprandial (p=0.02); lower fluctuation throughout the day (p=0.03); and lower cholesterol concentration in VLDL fraction (p<0.01) and in non-HDL lipoproteins (p=0.05). There was no effect on variables related to gallbladder emptying and triglyceridemia (p>0.05). There was a higher interstitial concentration of total mean glucose (p=0.04), nocturnal average (p=0.02), maximum daytime (p=0.01) and nighttime (p<0.01), longer time in hyperglycemia (p<0.01), with less time in hypoglycemia (p<0.01). Fish oil supplementation resulted in positive effects on hypercholesterolemia, but it worsened the blood glucose levels of diabetic dogs
Resumo
O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença que causa hiperglicemia pela deficiência de insulina, a qual pode levar a morte. A administração de insulina e o manejo alimentar que minimize a glicemia são a base do tratamento. A quantidade, fonte e o processamento do amido podem interferir na curva glicêmica em cães, mas poucas pesquisas avaliaram estes aspectos em cães diabéticos. Este estudo objetivou avaliar os efeitos do amido resistente decorrente do processo de extrusão no controle glicêmico de cães diabéticos. Foram incluídos 10 cães diabéticos, sem outras afecções, selecionados na rotina do HOVET-FMVZ/USP. Os animais foram alimentados com três rações secas extrusadas: Ba (alta fibra e proteína, baixa gordura e moderado amido oriundos de diversas fontes), Co (ervilha e cevada como fontes de amido, moderada gordura, amido, proteína e fibra) e AR (a base de milho e processada para apresentar menor índice de gelatinização do amido). Foi realizada curva glicêmica de 48 horas por sistema de mensuração contínua de glicemia, após 60 dias de tratamento com cada dieta e mesma dose de insulina. Testes estatísticos paramétricos e não paramétricos foram utilizados para comparar a quantidade de alimento e nutrientes ingeridos, efeitos dietéticos em parâmetros glicêmicos e lipídicos entre as diferentes dietas. Os animais alimentados com a ração Co apresentaram menor ingestão de amido (p=0,01), comparado à AR, e entre as duas, a Co resultou em menores valores de glicemia máxima (p=0,02), maior tempo em hipoglicemia (p<0,01), menor tempo em hiperglicemia (p<0,01), e valores semelhantes de colesterolemia em relação ao alimento Ba (p<0,01). Assim, pôde-se concluir que a dieta com o amido de digestão lenta resultou em melhores parâmetros de controle glicêmico e lipídico de cães diabéticos, quando comparado ao alimento processado para apresentar menor índice de gelatinização do amido.
Diabetes Mellitus (DM) is a disease that causes hyperglycemia by insulin deficiency, which can lead to death. Administration of insulin and feeding management that minimizes the glucose are the mainstay of treatment. The amount, source and starch processing may interfere on glycemic curve in dogs, but few researches have evaluated these aspects in diabetic dogs. This study aimed to evaluate the effects of resistant starch derived from extrusion process on glycemic control of diabetic dogs. It was included 10 diabetic dogs without other disorders, selected in routine from Veterinary Hospital (School of Veterinary Medicine and Animal Science University of São Paulo). The animals were fed three extruded dry feed: Ba (high fiber and protein, low fat and moderate starch from various sources), Co (pea and barley as starch sources, moderate fat, starch, protein and fiber) and RS (use corn as a source of starch and was processed to generate lower gelatinization index of starch). Glucose curve was performed by a continuous glucose measurement system for 48 hours, after 60 days of treatment in every diet and under the same dose of insulin. Statistical tests parametrics and non-parametrics were used to compare the amount of food and nutrient intake and dietary effects on parameters of glucose and lipids concentration. The animals fed with Co presented less starch intake (p=0.01) compared to RS, and between Co and RS, Co resulted in lesser values of maximum glucose (p=0.02), greater time under hypoglycaemia (p<0.01), lesser time under hyperglycemia (p<0.01) and remained similar values of cholesterolemia compared to Ba (p<0.01). Thus, it was concluded that the diet with slow digestion starch resulted in better glycemic and lipidic parameters in diabetic dogs when compared to the food processed to have lower starch gelatinization index.