Resumo
Malassezia spp. são leveduras que compõem o microbioma cutâneo de animais e do homem, podendo eventualmente causar infecções. Em cães, as infecções são particularmente associadas a M. pachydermatis, que é zoofílica e não lipodependente. Embora a malasseziose não seja considerada zoonose, se aventou a possibilidade da transmissão da doença a neonatos por profissionais de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) que possuíam cães. Há poucos estudos sobre a ocorrência de intercâmbio de espécies de Malassezia entre animais e homens que mantenham contato estreito. O objetivo deste trabalho foi isolar espécies de Malassezia em cães com otite e/ou dermatite, verificando-se a relação com as espécies encontradas no tutor. Foram estudados 18 cães com sinais condizentes com a infecção, dos quais foram colhidas amostras de conduto auditivo e pelame. De seu tutor, foram colhidas três amostras clínicas, da região superior do tronco, retroauricular e couro cabeludo. Em paralelo, foram colhidas amostras clínicas das mesmas regiões de 24 pessoas que não mantinham contato com animais (não-tutores). As amostras foram isoladas em meio de Dixon modificado e a identificação fenotípica realizada por macro e micromorfologia e provas bioquímicas. Após extração do DNA, o gene 26S rDNA foi amplificado através de PCR. Isolou-se Malassezia spp. em 77,8% (14/18) dos cães com sinais clínicos condizentes com malasseziose. Não se verificou predileção por sexo ou faixa etária. Malassezia spp. foram verificadas em porcentagens similares em pessoas que conviviam e que não conviviam com cães, respectivamente, 78,6% (11/14) e 83,3% (20/24). Malassezia pachydermatis foi a espécie mais prevalente em cães, sendo verificada em 95,7% (22/23) dos isolados. Em relação às pessoas, M. pachydermatis foi a espécie mais frequente no microbioma cutâneo dos tutores e representou 66,7%% (10/15) das cepas isoladas nas amostras clínicas, e Malassezia lipodependente 33,3% (5/15). Malassezia pachydermatis foi isolada dos três sítios amostrados, couro cabeludo, tronco superior e região retroauricular. Quanto aos indivíduos que não conviviam com cães, M. pachydermatis não foi isolada, verificando-se apenas Malassezia lipodependentes. Estatisticamente o fator convivência com cães influenciou na presença de M. pachydermatis, espécie considerada zoofílica, no microbioma cutâneo dos tutores (p<0.05). Os resultados obtidos nesta pesquisa comprovam que há alteração no microbioma cutâneo das espécies de Malassezia em pessoas que convivem com cães com malasseziose.
Malassezia spp. represent a type of yeasts occurring in the cutaneous microbiome of animals and humans, and may eventually cause infections. In dogs, infections are particularly associated with M. pachydermatis, which is zoophilic and not lipodependent. Although malasseziosis is not considered a zoonosis, the possibility of transmission of the disease to neonates by professionals from Intensive Care Units (ICUs) who had dogs was suggested. There are a few studies on the occurrence of exchange of Malassezia species between animals and men those are in close contact. The aim of this study was to isolate Malassezia spp. in dogs with otitis and/or dermatitis and to establish the relationship between the species found and their owners. Eighteen dogs with the signs suggestive of infection were studied. Of them, samples from the ear canal and haircoat were collected. From their owners, three clinical samples were collected from the upper trunk, retroauricular area, and scalp. Clinical samples were collected from the same areas from 24 people who did not have contact with animals (not-tutor). The samples were seeded on modified Dixons medium and phenotypic identification was performed by analysis of macro- and micromorphology and biochemical tests. After DNA extraction, the 26S rDNA gene was amplified by PCR. Malassezia spp. were isolated in 77.8% (14/18) of dogs with clinical signs consistent with malasseziosis. There was no predilection for gender or age. Malassezia spp. were verified in similar percentages, as 78.6% (11/14) and 83.3% (20/24), in people who lived and those who did not live with dogs, respectively. Malassezia pachydermatis was the most prevalent species in dogs and was verified in 95.7% (22/23) of the isolates. It was also the most frequent species in the cutaneous microbiome of the dog owners and represented 66.7% (10/15) of the isolates, while lipodependent Malassezia spp. represented 33.3% (5/15). M. pachydermatis was isolated from the three sampled sites: scalp, upper trunk and retroauricular region. As for individuals who did not live with dogs, M. pachydermatis was not isolated, and they showed only lipodependent Malassezia. Statistically, living with dogs influenced the presence of M. pachydermatis, a species considered zoophilic, in the cutaneous microbiome of the owners (p<0.05). The results obtained in this research reinforce an alteration in Malassezia species in the cutaneous microbiome of people living with dogs showing malasseziosis.