Resumo
As doenças de pele em suínos podem causar importantes prejuízos econômicos, com perdas relacionadas à morte dos acometidos, custo com tratamentos, atraso no crescimento e condenações nos frigoríficos. Para reduzir estas perdas, o diagnóstico correto e rápido é de suma importância, porém são escassos na literatura trabalhos que reúnam as lesões de pele em suínos e descrevam seus aspectos macroscópicos, histológicos e imuno-histoquímicos. Nesta tese estão incluídos dois artigos científicos relacionados ao tema. No primeiro artigo realizou-se um estudo retrospectivo de 2006 a 2018, para determinar a frequência e descrever os achados histopatológicos das doenças de pele em suínos nas diferentes faixas etárias. Foram analisados 154 casos conclusivos, incluindo as doenças restritas a pele e as secundárias a doenças sistêmicas. As lesões de pele bacterianas representaram 46,1%, as virais 26,6%, as alérgicas 12,3%, as neoplásicas 1,3 e outras corresponderam a 13,6%. A erisipela suína foi a enfermidade mais diagnosticada (47/154), seguida por síndrome dermatite nefropatia suína (23/154), dermatite alérgica (19/154) e epidermite exsudativa (15/154). Observamos ainda dermatite vesicular (9/154), pitiríase rósea (9/154), septicemia bacteriana com manifestações cutâneas (9/154), varíola suína (9/154) e hemorragias múltiplas de causa não determinada (7/154). Em menor número, cisto folicular (3/154), hiperqueratose sem causa definida (2/154), papiloma (1/154) e hemangioma escrotal (1/154). A idade foi informada em 138 casos, e a maior parte das lesões de pele foram observadas na linha de inspeção, durante o abate (56/138). Para o segundo artigo realizou-se um estudo retrospectivo de 2006 a 2019, com o objetivo de descrever os aspectos anatomopatológicos e avaliar o uso da imuno-histoquímica nos casos de erisipela em suínos de abate. A erisipela suína, é uma doença de distribuição mundial, que causa prejuízos econômicos e caracteriza-se como doença zoonótica de caráter ocupacional. Estima-se que 30% a 50% dos suínos sejam portadores da bactéria e fatores estressantes podem predispor o aparecimento da doença clínica. O diagnóstico de erisipela em lesões cutâneas de suínos de abate torna-se um desafio aos patologistas, uma vez que os processos de escaldagem e depila, rotineiros em abatedouros frigoríficos, geram artefatos histológicos que muitas vezes dificultam ou impossibilitam o diagnóstico final. Foram analisados 43 casos de erisipela oriundos de suínos de abate. Macroscopicamente, eram lesões multifocais romboides, retangulares ou quadradas, de coloração rosa, vermelho ou roxo característicos. Histologicamente, na derme e subcutâneo, havia vasculite supurativa associada a degeneração e necrose da parede de vasos, hidradenite e foliculite supurativas, bem como trombose, hiperemia de capilares e necrose multifocais. A técnica imuno-histoquímica se mostrou uma eficaz ferramenta diagnóstica, com imunomarcação positiva em 93% dos casos. A marcação foi discreta em 23/40, moderada em 9/40 e acentuada em 8/40.
Skin diseases in pigs can cause important economic losses, with losses related to the death of the affected, cost of treatments, growth retardation and condemnations in the slaughterhouses. To reduce losses, the correct and quick diagnosis is of the utmost importance, however there are few studies in the literature that group skin lesions in pigs and describe their macroscopic, histological and immunohistochemical aspects. This thesis includes two scientific articles related to the topic. In the first article, a retrospective study was carried out from 2006 to 2018, to determine the frequency and describe the histopathological findings of skin diseases in pigs in different age groups. One hundred fifty-four cases were analyzed, including skin restricted diseases or skin lesions secondary to systemic diseases. Bacterial skin lesions accounted 46.1%, viral 26.6%, allergic 12.3%, neoplastic 1.3% and others 13.6%. Swine erysipelas was the most frequent diagnosis (47/154), followed by porcine dermatitis and nephropathy syndrome (23/154), allergic dermatitis (19/154) and exudative epidermitis (15/154). Vesicular dermatitis (9/154), pityriasis rosea (9/154), septicemia with cutaneous manifestations (9/154), swinepox (9/154) and multiple hemorrhages without definite cause (7/154) were also observed. Follicular cyst (3/154), hyperkeratosis without definite cause (2/154), papilloma (1/154), and scrotal hemangioma (1/154) were less frequently described. Age was reported in 138 cases, and most skin lesions were observed at the inspection process during slaughter (56/138). For the second article, a retrospective study was carried out from 2006 to 2019, with the objective of describe the anatomopathological aspects and evaluate the use of immunohistochemistry in cases of erysipelas in slaughter pigs. Swine erysipelas is a disease of worldwide distribution, that causes economic losses and considered an occupational zoonotic disease. It is estimated that 30% to 50% of pigs are carry the bacterium and stressors can predispose the appearance of clinical disease. The diagnosis of erysipelas in cutaneous lesions of slaughter pigs becomes a challenge for pathologists, since the scalding and dehairing processes, routine in slaughterhouses, generate histological artifacts that often make the final diagnosis difficult or impossible. Forty-three cases of erysipelas from slaughter pigs were analyzed. Grosslly, were multifocal lesions characteristic rhomboid, rectangular or square pink, red or purple. Histologically, in the dermis and subcutaneous tissue, there were suppurative vasculitis associated with degeneration and necrosis of the vessel wall, suppurative hidradenitis and folliculitis, as well as thrombosis, capillary hyperemia and multifocal necrosis. The immunohistochemical technique proved to be an effective diagnostic tool, with positive immunostaining in 93% of cases. The immunostaining was mild in 23/40, moderate in 9/40 and accentuated in 8/40.
Resumo
As doenças entéricas na suinocultura são responsáveis por expressivas perdas econômicas e podem ser causadas por vários agentes etiológicos. Esta dissertação teve por objetivo fazer o diagnóstico anatomopatológico e determinar a frequência de lesões intestinais em suínos abatidos em um frigorífico na Região do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul (RS), com Serviço de Inspeção Federal (SIF). A colheita das amostras ocorreu durante 18 dias nos meses de verão (janeiro e fevereiro) e 19 dias nos meses de inverno (junho, julho e agosto) de 2016. Os suínos eram provenientes de 55 municípios diferentes, que correspondem a sete microrregiões do RS (microrregião de Passo Fundo, Soledade, Guaporé, Santa Cruz do Sul, Lajeado-Estrela, Montenegro e São Jerônimo). Acompanhou-se o abate de 31.708 suínos no verão e 35.151 no inverno. Nesse período foram condenados 2.523 e 2.747 intestinos e linfonodos mesentéricos na linha de inspeção, dos quais, 216 e 199 foram selecionados aleatoriamente para serem analisados. Os três principais diagnósticos foram serosite crônica (43,1%), ascaridiose (21,4%) e enteropatia proliferativa suína (20%). Outros casos foram: tampão caseoso em válvula ileocecal (5,0%), abscesso intestinal (1,0%), pneumatose (1,0%), circovirose (0,7%), esofagostomíase (0,7%), salmonelose (0,7%) e um caso de intussuscepção (0,2%). A serosite crônica foi diagnosticada em 82/216 (38%) casos no verão e 97/199 (48,7%) no inverno e ascaridiose teve maior ocorrência no verão com 64/216 (29,6%), comparado com o inverno 25/199 (12,6%). A enteropatia proliferativa suína (EPS) foi diagnosticada em 37/216 (17,1%) no verão e 46/199 (23,1%) no inverno. Na região de válvula ileocecal observou-se tampão caseoso, em 15/216 (7,0%) casos no verão e 6/199 (3,0%) no inverno. Observou-se 4/199 (2,0%) casos de abscessos intestinais na serosa, no período do inverno, observou-se o mesmo número de casos de pneumatose nos diferentes períodos. Circovirose foi observada em 2/216 (0,9%) casos no verão e 1/199 (0,5%) no inverno, com marcação imuno-histoquímica (IHQ) intracitoplasmática em macrófagos de linfonodos mesentéricos, e em um caso também de intestino delgado. Diagnosticou-se esofagostomíase em 1/216 (0,5%) casos no verão e 2/199 (1,0%) no inverno. Salmonelose foi observada apenas no inverno 3/199 (1,5%), com marcação na IHQ na superfície das vilosidades e em áreas de necrose intestinal.
Enteric diseases in swine are responsible for significant economic losses and can be caused by several etiological agents. This dissertation aimed to diagnose the pathology and to determine the frequency of intestinal lesions in pigs slaughtered in a slaughterhouse in the Vale do Taquari area, Rio Grande do Sul (RS), with Federal Inspection Service (SIF). The samples were collected during 18 days in the summer months (January and February) and 19 days in the winter months (June, July and August) of 2016. The pigs came from 55 different counties, corresponding to seven RS micro-regions (Microregion of Passo Fundo, Soledade, Guaporé, Santa Cruz do Sul, Lajeado-Estrela, Montenegro and São Jerônimo). The slaughter of 31,708 pigs in the summer and 35,151 pigs in the winter were condemned. During this period 2,523 and 2,747 intestines and mesenteric lymph nodes were sentenced in the inspection line, of which, 216 and 199 were randomly selected to be analysis. The three main diagnoses were chronic serositis (43.1%), ascaridiosis (21.4%) and porcine proliferative enteropathy (20%). Other cases were: plug caseous in ileocecal valve (5.0%), intestinal abscess (1.0%), pneumatosis (1.0%), circovirosis (0.7%), oesophagostomyiasis (0.7%), salmonellosis (0.7%) and intussusception (0.2%). Chronic serositis was diagnosed in 82/216 (38%) cases in summer and 97/199 (48.7%) in winter and ascaridiosis had a higher occurrence in summer with 64/216 (29.6%), compared with winter 25/199 (12.6%). Swine proliferative enteropathy (EPS) was diagnosed in 37/216 (17.1%) in summer and 46/199 (23.1%) in winter. In the ileocecal valve region, a caseous plug was observed in 15/216 (7.0%) cases in the summer and 6/199 (3.0%) in winter. It was observed 4/199 (2.0%) cases of intestinal abscesses in serosa, in the winter period, the same number of cases of pneumatosis was observed in the different periods. Circovirosis was observed in 2/216 (0.9%) cases in the summer and 1/199 (0.5%) in the winter, with i ntracytoplasmic immunohistochemical staining (IHC) in macrophages of mesenteric lymph nodes, and in one case also in small intestine. Oesophagostomy was diagnosed in 1/216 (0.5%) cases in summer and 2/199 (1.0%) in winter. Salmonellosis was observed only in winter 3/199 (1.5%), marked in IHC on the surface of the villi and in areas of intestinal necrosis.