Resumo
Plantas tóxicas de interesse pecuário são aquelas que quando ingeridas espontaneamente, provocam danos à saúde ou a morte de animais. Sistemas orgânicos ou órgãos específicos podem ser afetados, e sinais clínicos e patológicos irão ser variados a depender de cada planta. Esta tese está dividida em dois artigos: o primeiro objetivou relatar surtos naturais e descrever a intoxicação experimental por Froelichia humboldtiana em bovinos, delineando seus aspectos epidemiológicos e clínico-patológicos; o segundo artigo tem por objetivo descrever um surto de intoxicação espontânea por Prosopis juliflora em caprinos. No primeiro artigo, casos de intoxicações por F. Humboldtiana, foram investigadas nos Municípios de Cachoeirinha e São Caetano, Pernambuco. Vinte e dois bovinos apresentaram sinais clínicos e lesões cutâneas compatíveis com fotossensibilização primária, dentre os quais, dois bezerros lactentes. Para reproduzir experimentalmente a intoxicação, três vacas, uma delas com bezerro ao pé, foram mantidas em um piquete de um hectare (ha) composto por F. humboldtiana, durante 14 dias consecutivos. Foram realizadas biópsias de pele e coletadas amostras de sangue para realização de bioquímica hepática. Os sinais clínicos surgiram três dias após a ingestão da planta e se caracterizaram por prurido e hiperemia em áreas despigmentadas de pele, que evoluíam para edema, dermatite exsudativa e necrose de áreas extensas de pele. À microscopia observou-se edema e infiltrado inflamatório composto por eosinófilos, linfócitos e plasmócitos principalmente ao redor dos vasos sanguíneos. Em todos os bovinos examinados, os níveis séricos de aspartato aminotransferase (AST), gamaglutamiltransferase (GGT), bilirrubinas total, direta e indireta estavam normais. Nos bovinos adultos sinais de fotodermatite surgiram após o 3º dia e no bezerro lactente no 8º dia do experimento. Estimou-se que o consumo médio de matéria seca de F. humboldtiana necessário para iniciar os sinais clínicos em cada bovino adulto foi de 78 kg. No segundo artigo, os casos de intoxicação por Prosopis julifora ocorreram no Município de Jataúba, Pernambuco. Foram obtidos dados epidemiológicos e observados sinais clínicos, e realizadas as necropsias e coletas de fragmentos de órgãos das cavidades abdominal e torácica, encéfalo, medula espinhal, nervo facial e músculos masseteres, para posterior avaliação microscópica. Seis caprinos adoeceram, destes, cinco morreram e dois foram necropsiados. Na necropsia observou-se diminuição do volume do músculo masseter, atrofia da mucosa gengival, protrusão dos dentes molares em direção ao plano palatino, fígado friável e com coloração amarelada e conteúdo ruminal ressecado e com a presença das sementes da planta. Microscopicamente, as lesões consistiram em degeneração neuronal no núcleo motor do nervo trigêmeo, degeneração axonal com dilatação da bainha de mielina e presença de vacúolos, geralmente em cadeia, contendo, ocasionalmente, restos axonais ou macrófagos nas raízes do nervo trigêmeo. Além de severa atrofia por desnervação do músculo masseter caracterizada pela diminuição do tamanho das fibras, presença de fibras triangulares e desaparecimento de fibras com substituição por tecido conjuntivo. O diagnóstico da intoxicação por F. humboldtiana nos bovinos foi confirmado a presença da planta na pastagem, histórico de consumo da planta, epidemiologia, sinais clínicos e lesões encontradas semelhantes a outros casos, a qual foi comprovada através de experimentos. A condição determinante para a ocorrência da intoxicação por P. juliflora nos caprinos foi a escassez de alimento o que levou os animais a se alimentarem da planta por um período de quatro a seis meses.
Toxic plants of animal interest are those that when ingested spontaneously cause damage to the health or death of animals. Organ systems or specific organs may be affected, and clinical and pathological signs will be varied depending on each plant. This thesis is divided in two papers: the first objective was to report natural outbreaks and to describe the experimental poisoning by Froelichia humboldtiana in cattle, outlining its epidemiological, clinical and pathological aspects; the second article aims to describe an outbreak of Prosopis juliflora intoxication in goats. In the first article, cases of intoxication by F. Humboldtiana, were investigated in the Municipalities of Cachoeirinha and São Caetano, Pernambuco. Twenty-two cattle presented clinical signs and skin lesions compatible with primary photosensitization, including two lactating calves. In order to experimentally reproduce the intoxication, three cows, one of them with calves at the foot, were kept in one-hectare paddock composed of F. humboldtiana for 14 consecutive days. Clinical signs appeared three days after ingestion of the plant and were characterized by pruritus and hyperemia in depigmented areas of skin, which evolved to edema, exudative dermatitis and necrosis of extensive areas of skin. Edema and inflammatory infiltrate composed of eosinophils, lymphocytes and plasma cells were found mainly around the blood vessels. Serum levels of aspartate aminotransferase (AST), gammaglutamyltransferase (GGT), total, direct and indirect bilirubin were normal in all cattle examined. In the adult bovine photodermatitis signs appeared after the 3rd day and in the calf suckling on the 8th day of the experiment. It was estimated that the average dry matter intake of F. humboldtiana required to initiate clinical signs in each adult bovine animal was 78 kg. In the second article, the cases of poisoning by Prosopis julifora occurred in the Municipality of Jataúba, Pernambuco. Epidemiological data were obtained and clinical signs were observed, and necropsies were performed and organ fragments were collected from the abdominal and thoracic cavities, encephalon, spinal cord, facial nerve and masseter muscles for subsequent microscopic evaluation. Six goats became ill, of these, five died and two were necropsied. At necropsy, masseter muscle volume decreased, gingival mucosal atrophy, protrusion of the molar teeth and directed to the palatine plane, friable liver with a yellowish color and dried ruminal content and the presence of the plant's seeds were observed. Microscopically, the lesions consisted of neuronal degeneration in the trigeminal nerve motor nucleus, axonal degeneration with dilatation of the myelin sheath, and presence of vacuoles, usually in chain, occasionally containing axonal or macrophages in the trigeminal nerve roots. Beside of masseter muscle with severe atrophy due to deprivation, with decrease in fiber size, presence of triangular fibers and disappearance of fibers with substitution by connective tissue. The diagnostic of F. humboldtiana intoxication in cattle was the presence of the plant in the pasture, history of plant consumption, epidemiology, clinical signs and lesions found similar to other cases, which was verified through experiments. The determinant condition for the occurrence of P. juliflora intoxication in goats was the food shortage, which caused the animals to feed on the plant for a period of 4 to 6 months.