Resumo
CAVALCANTE, D. N. Características de cães e gatos vítimas de trauma admitidos em hospital escola veterinário: 301 casos (2018-2019). Salvador, 2020. 117p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia Universidade Federal da Bahia. O trauma representa uma das principais causas de morbimortalidade em cães e gatos e constitui desafio emergencial na prática médica veterinária. Objetivou-se avaliar prováveis fatores de risco para a não sobrevivência pós-trauma em cães e gatos, assim como analisar a utilidade de variáveis de admissão hospitalar como o sistema de pontuação Triagem de Traumatismo Animal (TTA) e a Escala de Coma de Glasgow Modificada (ECGM) para predição de prognóstico. Para tal, realizou-se estudo transversal avaliando cães e gatos vítimas de trauma atendidos na rotina de admissão de um Hospital Veterinário Universitário da Bahia no período de 12 meses. A predição de sobrevivência foi calculada por meio de análise de curva ROC. Durante os 12 meses foram atendidos 301 animais com trauma, 70% (212/301) eram cães e 30% (89/301) gatos. A taxa de mortalidade dos animais admitidos por trauma foi de 14%. Os resultados da dissertação foram apresentados em dois capítulos, delineados conforme a espécie avaliada. Para ambas as espécies, o trauma contuso devido à queda, foi o mais prevalente, destacando-se o acometimento de machos, jovens, não castrados e sem raça definida em cães e gatos. Os fatores de risco avaliados no momento da admissão hospitalar estatisticamente associados à não sobrevivência em gatos foram atropelamento (RP 4,43; IC95% 1,8-10,4) e trauma torácico (RP 3,8; IC95% 1,7-8,6). Os gatos que não sobreviveram apresentaram na sua maioria hipotermia (Md 36°C; IIQ 34±37,2; P=0.0002). Para cães, os fatores de risco associados a não sobrevivência foram traumas crânio encefálico (RP 2,9; IC95% 1,2-6,6), trauma torácico (RP 4,24; IC95% 2,03-8,83); afecções pré-existentes (RP 2,37; IC95% 1,16-4,83), idade avançada (RP 3,04; IC95% 1,3- 11) e mucosas hipocoradas (RP 3,2; IC95% 1,62-6,5). Adicionalmente os cães que vieram a óbito apresentaram na sua maioria hipotermia (Md 37,2; IIQ 36,1±38,5; P=0.0015) e frequência respiratória alta (Md 44; IIQ 24±60; P=0.0230). A temperatura corpórea 37,1°C (AUC=0,80) em gatos foi preditivo de não sobrevivência, juntamente com os sistemas de pontuação TTA (Gato [AUC=0,73]; Cão [AUC=0,87]) e ECGM (Gato [AUC=0,66]; Cão [AUC=0,68]) nas duas espécies. Os resultados desse estudo apontam a aplicabilidade das escalas prognósticas, bem como identificaram quais características no momento da admissão do animal são fatores de riscos para não sobrevivência. Esses achados poderão nortear abordagens emergenciais futuras de cães e gatos vítimas de trauma visando melhorar seu prognóstico.
CAVALCANTE, D. N. Salvador, 2020. Characteristics and prognosis of traumatized dogs and cats admitted to a veterinary teaching hospital: 301 cases (2018-2019) 117p. Thesis (Master in Animal Science on Tropics) School of Veterinary Medicine and Zootechny Federal University of Bahia. Trauma represents one of the main causes of morbidity and mortality in dogs and cats and constitutes an emergency challenge in veterinary medical practice. The aim of this study was to evaluate probable risk factors for post-trauma non-survival in dogs and cats, as well as to analyze the usefulness of hospital admission variables Animal Trauma Triage (ATT) scoring system and Modified Coma Scale of Glasgow (MGCS) to predict prognosis. To this end, a cross-sectional study was carried out evaluating trauma-victim dogs and cats treated in the routine admission of a University Veterinary Hospital of Bahia in a period of 12 months. Of the 301 animals admitted with trauma, 70% (212/301) were dogs and 30% (89/301) cats, with an overall mortality rate of 14%. The results were presented in two chapters, outlined according to the species in question. For both species, blunt trauma, due to the fall, was the most prevalent, highlighting the involvement of young, intact and mongrel males. The risk factors statistically associated with non-survival in cats were being run over (PR 4.43; 95% CI 1.8-10.4), chest trauma (PR 3.8; 95% CI 1.7-8.6) and hypothermia (Md 36 ° C; IIQ 34 ± 37.2; P=0.0002). For dogs, traumatic brain (PR 2.9; 95% CI 1.2-6.6) and thoracic (PR 4.24; 95% CI 2.03-8.83) trauma; pre-existing conditions (PR 2.37; 95% CI 1.16- 4.83), age group (elderly) (PR 3.04; 95% CI 1.3-11); pale mucous membranes (PR 3.2; 95% CI 1.62-6.5); hypothermia (Md 37.2; IIQ 36.1 ± 38.5; P=0.0015) and high respiratory rate (Md 44; IIQ 24 ± 60; P=0.0230) were more associated with death. Body temperature 37.1 ° C (AUC = 0,80) in cats was predictive of non-survival, along with the ATT scoring systems (Cat [AUC = 0.73]; Dog [AUC = 0.87]) and MGCS scoring systems (Cat [AUC = 0.66]; Dog [AUC = 0.68]) in both species. The results of this study point to the applicability of prognostic scales, as well as risk factors that may guide future emergency approaches for traumatized dogs and cats.
Resumo
Objetivou-se avaliar as implicações e os resultados obtidos frente aos tratamentos conservativo e cirúrgico em 37 cães sem distinção de sexo, raça ou idade, que apresentaram fraturas e luxações vertebrais (FLV) toracolombares. Cada paciente passou por anamnese, seguida por exames clínico, neurológico e radiográficos para se obter o diagnóstico neuroanatômico e a severidade da lesão. Os cães foram submetidos ao tratamento conservativo ou cirúrgico de acordo com as características de cada caso. Dos 37 animais deste estudo, 37,7% tinham percepção de dor profunda (PDP) intacta. Vinte animais foram submetidos ao tratamento conservativo, 14 ao tratamento cirúrgico e três animais faleceram antes do tratamento. Dos animais que mantiveram a PDP intacta, a taxa de recuperação foi de 100%, com tempo de recuperação total variando de sete a 75 dias, ao passo que, dos animais que perderam a PDP, nenhum recuperou a deambulação voluntária. Dos 14 animais operados, 42,8% apresentaram alterações vertebrais não visibilizadas ao exame radiográfico convencional, sendo necessária mudança na técnica cirúrgica planejada em 14,2% desses casos. Nos animais que mantiveram a PDP, não houve diferença significante nas taxas nem no tempo de recuperação da deambulação voluntária, independentemente do tipo de tratamento. Entretanto, houve diferença altamente significante entre os graus que mantiveram a PDP intacta com os animais que perderam a percepção de dor profunda em relação à taxa de recuperação. A taxa de eutanásia foi menor que em outros trabalhos descritos na literatura. Dos animais sem PDP submetidos ao tratamento conservativo ou cirúrgico, 31,25% readquiriram a capacidade de caminhar sem recuperar a PDP, sendo essa deambulação involuntária atribuída ao caminhar espinal.
Our aim of this paper was to study the implications and results associated with conservative and surgical treatment of dogs with thoracolumbar Vertebral fractures and luxations (VFL) so that the information obtained can be used to obtain guidelines that lead to greater recovery rates. For such, 37 dogs presenting VFL were examined, without distinction of sex, breed, or age. Each patient had detailed history obtained, followed by clinical, neurologic and radiographic exams for obtaining neuroanatomic location and severity of the nervous and vertebral lesions. The dogs were submitted to conservative or surgical treatment according to each case. Deep pain perception (DPP) was intact in 37.7% of the 37 dogs in this study. Twenty dogs received conservative treatment, 14 underwent surgery and three dogs died before treatment. Of the dogs with intact DPP, 100% recovered, with a recovery time varying between seven and 75 days, while none of the dogs that lost DPP recovered voluntary motion. Of the 14 dogs submitted to surgery, 42.8% had vertebral lesions that weren't detected using conventional radiography, which demonstrates the low sensitivity of this exam, and led to a need for a change in the planned surgical technique in 14.2% of these cases. In dogs with intact DPP there was no significant difference in time or rate of recovery of voluntary motion, regardless of the treatment method. However, there was a highly significant difference between the dogs which retained and lost DPP regarding recovery rates. The percentage of euthanasia was less than in other reports, probably due to the greater awareness and protectiveness of owners nowadays. Of the dogs without DPP treated either surgically or conservatively, 31.25% recovered ambulation without recovery of DPP, characterizing this ambulation as involuntary, attributed to spinal walk.