Resumo
O presente trabalho foi desenvolvido com base em três estudos avaliando o óleo de soja (OS) como suplemento lipídico para vacas leiteiras. O primeiro estudo objetivou avaliar os efeitos da suplementação com OS em diferentes forragens sobre a produção de gás, emissão de metano (CH4) e digestibilidade da fibra em detergente neutro potencialmente digestível (IVFDNpdD) in vitro. Amostras de silagem de milho de planta inteira (SM), cana-de-açúcar (CA), Azevem (AZ), capim brachiaria (CB) e capim mombaça (CM) foram incubadas por 72 horas com três concentrações de OS (0, 30 e 60 g/kg de matéria seca (MS)) em um sistema in vitro totalmente automatizado. O aumento do OS afetou a proporção de acetato nos ácidos graxos voláteis (AGV), a relação acetato:propionato e a produção total de gás as 72 horas diferentemente de acordo com a forragem. A inclusão de OS não afetou a produção de gás para AZ e CM, no entanto a mesma decresceu quadraticamente para SM e CA e aumentou quadraticamente para BG. O OS diminuiu a emissão de CH4 tanto em mL/g de matéria orgânica (MO) quanto em % da produção de gás total. A IVFDNpdD diminuiu 21,2 e 12,9% quando o OS foi aumentado para SM e CA, respectivamente, sem efeitos significativos para AZ, CB e CM. Conclui-se que SM e CA são mais susceptíveis aos efeitos adversos da suplementação com OS de 30 a 60 g/kg de MS sobre a IVFDNpdD do que AZ, CM e CB. O segundo estudo objetivou quantificar as alterações no desempenho, digestão e metabolismo de vacas leiteiras alimentadas com concentrações de OS e dietas com cana-de-açúcar e alto nível de concentrado. Foram utilizadas oito vacas multíparas da raça Holandês (peso vivo (PV) = 574 ± 19,1 kg e 122 ± 6,9 dias em lactação) fistuladas no rúmen. Os animais tinham produção de leite inicial de 22,5 ± 1,22 kg/dia e foram distribuídas em dois quadrados latinos 4 × 4 paralelos. O período experimental durou 21 dias, sendo os 14 primeiros para adaptação, seguidos de um período de coletas entre os dias 15 e 21. As dietas foram formuladas com concentrações crescentes de OS (% da MS): controle, baixo (BOS; 1,57%), médio (MOS; 4,43%) e alto (AOS; 7,34%). O consumo de matéria seca (CMS) diminuiu quadraticamente em resposta ao aumento de OS. O maior decréscimo no CMS foi observado entre as dietas MOS e AOS. Tanto a produção de leite e produção de leite corrigida para energia foram quadraticamente afetadas pela inclusão de OS, com um menor decréscimo até o MOS e maior decréscimo na dieta AOS. A concentração de gordura no leite diminuiu de 3,78% no controle para 3,50% na dieta AOS. A digestibilidade ruminal da fibra em detergente neutro potencialmente digestível (FDNpd) diminuiu de 55,7% no controle para 35,2% na dieta AOS. A taxa de digestão da FDNpd no rúmen diminuiu de 3,13 para 1,39%/h do controle para a dieta AOS. A taxa de passagem da fibra em detergente neutro indigestível foi afetada quadraticamente, com valor menor (2,25 %/h) na dieta AOS. O pH ruminal aumentou de 6,42 para 6,67 e o nitrogênio amoniacal ruminal diminuiu de 28,1 para 21,4 mg/dL do controle para a dieta AOS, respectivamente. A concentração ruminal de AGV diminuiu quadraticamente com o maior decréscimo observado entre as dietas MOS e AOS. As concentrações séricas de glicose, ácidos graxos não esterificados e beta-hidroxi-butirato não foram afetadas pela inclusão de OS. No entanto as concentrações séricas de colesterol total, HDL e LSL diminuíram linearmente com o aumento da concentração de OS na dieta. A suplementação com OS até 1,57% da MS demonstrou ser uma concentração segura para vacas alimentadas com alto nível de concentrado e cana-de-açúcar como volumoso. A inclusão de óleo de soja entre 4,43 a 7,34% da MS da dieta diminuiu o CMS, produção de leite, a digestibilidade da fibra e a fermentação ruminal, não sendo recomendada. O terceiro estudo objetivou avaliar os efeitos do aumento das concentrações de OS sobre o perfil de ácidos graxos (AG) da digesta omasal e no leite de vacas alimentadas com com cana-de-açúcar, com foco sobre a concentração de ácido linoleico conjugado (CLA) no leite. Foram realizados dois experimentos com as mesmas dietas anteriormente descritas para o segundo estudo (controle, BOS, MOS e AOS). O experimento 1 (EXPI) foi delineado para quantificar o fluxo omasal de AG e o perfil de AG no leite. No EXPI foram utilizadas oito vacas multíparas da raça Holandês (PV = 574 ± 19,1 kg e 122 ± 6,9 dias em lactação) fistuladas no rúmen. Os animais tinham produção de leite inicial de 22,5 ± 1,22 kg/dia e foram distribuídas em dois quadrados latinos 4 × 4 paralelos. O experimento 2 (EXPII) foi delineado para quantificar o perfil de AG no leite de vacas no pós-parto. No EXPII foram utilizadas 14 vacas da raça Holandês primíparas (PV= 545 ± 17,2 kg) e oito multíparas (PV=629 ± 26,7 kg) após o parto. As concentrações de AG 11trans-18:1, 9cis,11trans-18:2 CLA e 9cis,11trans-18:2 CLA na digesta omasal aumentaram linearmente com o aumento de OS. O aumento no OS aumentou quadraticamente a taxa de biohidrogenação de AG poli-insaturados (PUFA), com um aumento pequeno da dieta MOS para AOS. A concentração de gordura no leite em ambos experimentos diminuiu com o aumento de OS, no entanto a produção de gordura não foi afetada no EXPII. Em ambos experimentos a concentração (g/kg) de 9cis,11trans-18:2 CLA no leite aumentou linearmente, diferentemente do aumento quadrático da produção (g/d) que aumentou quadraticamente. A presença de 10trans,12cis-18:2 CLA no leite foi detectada nas dietas MOS e AOS. A adição de OS demonstrou ser uma alternativa viável para aumentar o fluxo omasal de 11trans-18:1 e a concentração de 9cis,11trans-18:2 CLA no leite. No entanto a suplementação com OS acima de 1,57% da MS da dieta diminuiu a concentração de gordura no leite e a produção de gordura, sem resposta aditiva na produção de 9cis,11trans-18:2 CLA.
The present work was a compilation of three studies evaluating soybean oil (SBO) as fat supplement for dairy cows. The first study aimed to to evaluate the effects of SBO supplementation with different forages on in vitro gas production kinetics, methane (CH4) emissions and potentially digestible neutral detergent fibre (pdNDF) digestibility (IVpdNDFD). Samples of whole-crop maize silage (MS), sugarcane (SC), ryegrass (RG), brachiaria grass (BG) and guinea grass (GG) were incubated for 72h with three concentrations of SBO (0, 30 and 60 g/kg of dry matter (DM)) in a fully automated in vitro gas system. Three runs were conducted using buffered rumen fluid from three cows. The SBO increase affected acetate proportion in VFA, acetate to propionate ratio, and total gas production at 72h differently according to the forage. Soybean oil inclusion did not affect total gas production for RG and BG; however, decreased quadratically for MS and SC and increased quadratically for BG. The SBO quadratically decreased CH4 emission both as mL/g of OM and % of total gas production. The IVpdNDFD decreased 21.2 and 12.9% when SBO level was increased for MS and SC, respectively, without showing any effects for GG, BG and RG. In conclusion MS and SC are more sensitive to adverse effects of SBO addition from 30 to 60 g kg-1 MS on rumen digestion of pdNDF than RG, GG and BG. The second study aimed to quantify the productive and metabolic responses, and digestive changes in dairy cows fed various concentrations of SBO in high concentrate, sugarcane-based diets. Eight rumen-cannulated multiparous Holstein cows (body weight (BW) = 574 ± 19.1 kg and 122 ± 6.9 days in milk), averaging 22.5 ± 1.22 kg/d of milk were assigned to replicated 4 × 4 Latin squares. The experimental period lasted 21 d as follows: 14 d for adaptation, followed by a sampling period from d 15 to 21. The diets were formulated with increasing concentrations of SBO (% of DM): control (0%), low (LSBO; 1.57%), medium (MSBO; 4.43%) and high (HSBO; 7.34%). Dry matter intake (DMI) decreased quadratically in response to SBO addition. The greatest decrease in DMI was observed in MSBO and HSBO diets. Both milk and energy corrected milk (ECM) yield were quadratically affected by the SBO inclusion, with a slight decrease up to MSBO and substantial decrease in the HSBO diet. The milk fat concentration linearly decreased from 3.78% in the control to 3.50% in the HSBO diet. The potentially digestible neutral detergent fiber digestibility in the rumen decreased from 55.7% in the control to 35.2% in the HSBO diet. The fractional rate of digestion of potentially digestible neutral detergent fiber in the rumen decreased linearly from 3.13 to 1.39%/h from the control to HSBO diet. The fractional rate of indigestible neutral detergent fiber passage in the rumen was quadratically affected, with the lowest value (2.25%/h) for the HSBO diet. Rumen pH increased from 6.42 to 6.67, and ammonia nitrogen decreased from 28.1 to 21.4 mg/dL, in the control and HSBO diets, respectively. Rumen volatile fatty acids decreased quadratically, with the greatest decrease observed in MSBO and HSBO diets. Serum concentrations of glucose, non-esterified fatty acids and beta-hydroxybutyrate were unaffected by SBO inclusion. However, serum concentrations of total cholesterol and high-density and low-density lipoproteins linearly increased with increasing concentrations of SBO in the diet. Soybean oil supplementation at 1.57% of the diet DM proved to be a safe concentration for dairy cows fed high concentrate diets with sugarcane as the sole forage. Inclusion of SBO at concentrations from 4.43 to 7.34% of the diet DM decreased DMI, ECM production, fiber digestibility and rumen fermentation being not recommended. The third study aimed to investigate the effects of increasing concentrations of SBO in sugarcane-based diets on omasal digesta and milk fatty acids (FA) profile, focusing on conjugated linoleic acid (CLA) in milk. The diets were the same reported for the second study (control, LSBO, MSBO and HSBO) Experiment 1 (EXPI) was designed to quantify the flow of FA to the omasum and milk FA profile. In EXPI, eight rumen-cannulated multiparous Holstein cows averaging 574 ± 19·1 kg BW and 122 ± 6·9 days in milk were used in a replicated 4 × 4 Latin square design. Experiment 2 (EXPII) was designed to quantify the milk FA profile in cows after calving. In EXPII 14 primiparous (545 ± 17·2 kg BW) and eight multiparous (629 ± 26·7 kg BW) Holstein cows were used after calving. The concentration of 11trans-18:1, 9cis,11trans-18:2 CLA, and 9cis,11trans-18:2 CLA in omasal digesta increased linearly with the addition of SBO. Soybean oil increased quadratically the biohydrogenation rate of polyunsaturated FA (PUFA), with a slightly increase from MSBO to HSBO. Milk fat concentration in both experiments decreased with SBO supply; however, fat yield was not affected in EXPII. In both experiments, the concentration (g/kg) of 9cis,11trans-18:2 CLA in milk increased linearly in despite of the yield (g/d) increased quadratically. 10trans,12cis-18:2 CLA in milk was detected in MSBO and HSBO diets. The addition of SBO proved to be a feasible alternative to increase the rumen outflow of 11trans-18:1 and milk 9cis,11trans-18:2 CLA concentration; however, SBO supplementation greater than 15.7 g SBO/kg DM decreases milk and fat yield without additive response on 9cis,11trans-18:2 CLA yield.
Resumo
Foram comparadas as estimativas da cinética da fase sólida do capim-elefante (Pennisetum purpureum, Schum.) picado, mordentado com cromo (Cr), obtidas do ajuste de dois modelos não-lineares (bicompartimental tempo-independente e multicompartimental tempo-dependente) a resultados de excreção fecal de vacas Holandês x Zebu em lactação. Utilizaram-se dados de dois experimentos realizados em anos diferentes com capim-elefante cortado aos 60 e 45 dias, e suplementado, 3,3kg/vaca/dia, base matéria natural, ou não com concentrados. Foram utilizadas quatro e três vacas, respectivamente, no primeiro e no segundo ano de experimentação, havendo sempre duas fases de coleta de dados, necessárias para permitir que cada vaca pudesse ser avaliada em cada tratamento. As taxas de passagem ruminal estimadas variaram de 3,0 a 3,2 por cento/h no modelo bicompartimental tempo-independente, e de 2,6 a 3,0 por cento/h no modelo multicompartimental tempo-dependente, enquanto as respectivas taxas de passagem pós-ruminal variaram de 4,9 a 7,4 por cento/h e de 7,4 a 10,9 por cento/h. Os tempos médios de retenção do capim-elefante no trato gastrintestinal das vacas variaram de 66,0 a 76,2h no modelo bicompartimental tempo-independente, e de 48,1 a 57,8h no modelo multicompartimental tempo-dependente. O processo de dependência de tempo imposto pelo modelo multicompartimental permitiu melhor ajuste aos dados de excreção fecal do Cr, em relação ao modelo bicompartimental.(AU)
Particulate kinetics estimates of chopped elephantgrass (Pennisetum purpureum, Schum.) mordanted with Chromium (Cr) were obtained and compared by the adjustment of two nonlinear models - age-independent double-compartmental model and age-dependent multicompartmental model - to a Cr faecal excretion dates of lactating crossbred Holstein x Zebu cows. Results from two trials carried out in different years with elephantgrass cut at 60 and 45 days of growth and supplemented, 3,3 kg/cow/day, wet basis, or not with concentrates were used. Four cows in the first and three cows in the second year were used and in each year there were two phases of collection of data, necessary to allow that each cow could be evaluated in each treatment. The ruminal particulate passage rates of chopped elephantgrass ranged from 3.0 to 3.2 percent/h in age-independent double-compartmental model, and from 2.6 to 3.0 percent/h in age-dependent-multicompartmental model, while that the respective post-ruminal passage rates ranged from 4.9 to 7.4 percent/h and from 7.4 to 10.9 percent/h. The total mean retention time of the elephantgrass in the gastrointestinal tract ranged from 66.0 to 76.2 h in age-independent double-compartmental model, and from 48.1 to 57.8 h in age-dependent-multicompartmental model. The implicit assumption of age-dependence for the multicompartimental model allowed better fit to the data of faecal excretion Cr than that one of the double-compartmental model.(AU)