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Alterações anatomopatológicas em lobos-marinhos (Otariidae) encontrados na costa do Brasil

LAURA CHRISPIM REISFELD.
Tese em Português | VETTESES | ID: vtt-204846

Resumo

Diversas doenças emergentes, lesões e agentes infecciosos em mamíferos marinhos foram identificados pela primeira vez em animais encalhados. No Brasil, é comum a ocorrência de encalhes de lobos marinhos que se encontram debilitados e/ou enfermos. Devido à falta de estudos recentes que descrevam as principais causas de morte e alterações histopatológicas nos animais encalhados, o presente trabalho visa contribuir para a patologia comparada e, indiretamente, para a conservação de pinípedes por meio da investigação das principais lesões, enfermidades e causas de morte que acometem estas espécies no sul do Brasil. Para esse estudo, foram analisadas amostras de tecidos de 50 indivíduos de duas espécies de lobos marinhos: lobo-marinho-sul-americano (Arctocephalus australis) e lobo-marinho-subantártico (Artocephalus tropicalis), que foram encontrados ao longo da costa brasileira, incluindo cadáveres e animais recebidos vivos e que vieram a óbito em centros de reabilitação no Brasil. Essas amostras estão armazenadas no Banco de Tecido de Mamíferos Marinhos e foram avaliadas, identificadas e processadas no Laboratório de Histologia do VPT/FMVZ. Os achados histopatológicos que tiveram ocorrência superior ou igual a 30% foram: pneumonia (90%; 44/49), hiperplasia linfoide em linfonodo (59%; 19/32), congestão hepática (55%; 27/49), hiperplasia linfoide esplênica (55%; 24/44), edema pulmonar (53%; 26/49), enterite em intestino delgado (51%; 18/35), traqueíte (45%; 14/31), hepatite (43%; 21/49), enterite em intestino grosso (42%; 13/31), congestão pulmonar (33%; 16/49), expansão folicular em linfonodo (31%; 10/32) e glomerulonefrite membranosa (30%; 14/47). Dois casos de interesse especial foram reportados; um indíviduo de A. australis com possível causa de morte associada a meningoencefalite causada por protozoário da família Sarcocystidae e um indíviduo de A. tropicalis em que foi observado linfoma. Em uma análise geral, o principal sistema acometido foi o respiratório com 34% (17/50) dos casos, seguido por processos infecciosos, registrados em 28% (14/50) dos casos, sendo que infecções parasitárias por parafilaroides representaram 30,7% (4/13) das causas de morte de A. tropicalis. Dentre os infecciosos, a septicemia representou 42% (6/14) dos casos e foi reportada com maior frequência em A. australis. As outras causas de morte também observadas foram: nutricional (caquexia) 10% (5/50), indeterminada 10% (5/50), digestivo (enterite e hepatite) 6%(3/50), circulatório (choque) 6% (3/50), metabólico (estresse) 4% (2/50) e neoplasia (linfoma), observada em um único caso. Acreditamos que a análise dos dados obtidos no presente trabalho poderá fornecer um panorama sobre as doenças que indivíduos dessas espécies em vida livre possam apresentar em situações de encalhe e durante a reabilitação. Quantificar e entender as causas de encalhe de pinípedes irá fornecer importantes dados aos centros de reabilitação, que por sua vez, poderão utilizar essas informações para planejar cuidados veterinários adequados.
Many emerging diseases, injuries and infectious agents in marine mammals have been identified for the first time in stranded animals. Stranding of fur seals that are weak and/or debilitated is common in Brazil. Due to lack of recent studies describing the main causes of death and histopathological changes in stranded animals, this paper aims to contribute to the comparative pathology and indirectly, for the conservation of pinnipeds, by investigating major injuries, illnesses and causes of death that affect these animals in southern Brazil. For this study, we analyzed tissue samples from 50 individuals from two species of sea lions: South American fur seal (Arctocephalus australis) and Sub-Antarctic fur seal (Artocephalus tropicalis), which were found along the Brazilian coast, including carcasses and animals that died in rehabilitation centers in Brazil. These samples are stored in the Marine Mammal Tissue Bank and were evaluated, identified and processed in the Laboratory of Histology (VPT/FMVZ). Histopathological findings that had occurrence equal to 30 % or higher were: pneumonia (90%; 44/49), lymphoid hyperplasia in lymph node (59%; 19/32), hepatic congestion (55%; 27/49), splenic lymphoid hyperplasia (55%; 24/44), pulmonary edema (53%; 26/49), small intestine enteritis (51%; 18/35), tracheitis (45%; 14/31), hepatitis (43%; 21/4 9), large intestine enteritis (42%; 13/31), pulmonary congestion (33%; 16/49), follicular expansion in lymph node (31%; 10/32) and membranous glomerulonephritis (30%; 14/47). Two cases of special interest were reported; one individual of A. australis, with cause of death possibly associated with meningoencephalitis caused by protozoa of Sarcocystidae family, and one individual of A. tropicalis, where lymphoma was observed. In an overview, the main affected system was respiratory with 34% (17/50) of the cases, followed by infectious processes, recorded in 28% (14/50) of the cases, in which Parafilaroides parasitic infections accounted for 30.7% (4/13) of the causes of death for A. tropicalis. Among the infectious process, septicemia accounted for 42% (6/14) of the cases and was more frequently reported in A. australis. Other causes of death that were also observed were: Nutritional (cachexia) 10% (5/50), undetermined 10% (5/50), digestive (enteritis and hepatitis) 6% (3/50), circulatory (shock) 6% (3/50), metabolic (stress) 4% (2/50) and neoplasia (lymphoma), observed in a single case. We believe that the analysis of the data obtained in this study may provide an overview of the diseases that wild individuals of these species can present in stranding situations and during rehabilitation. Quantifying and understanding the causes of strandings in pinnipeds, will provide important data for rehabilitation centers, which in turn may use this information to plan appropriate veterinary care.
Biblioteca responsável: BR68.1