Avaliação da ação de secreções e excreções larvais de Chrysomya megacephala (Fabricius) (Diptera: Calliphoridae) na recuperação de lesões tegumentares em ratos Wistar

RESUMO

A terapia larval (TL) consiste na aplicação de larvas estéreis de moscas necrófagas, criadas em condições de laboratório, sobre lesões tegumentares agudas, crônicas e/ou infectadas visando promover ou acelerar a cicatrização. Os métodos convencionais para o tratamento de lesões incluem, atual e comumente, o desbridamento mecânico e/ou uso de diversos curativos especiais. As larvas particularmente podem estimular o processo de cicatrização por dois caminhos através da remoção do tecido necrosado (durante o ato de alimentação) e por desinfecção do leito da ferida (ao excretar substâncias bactericidas). A TL tem sido usada com sucesso em mais de 20 países e tem chamado a atenção, no Brasil, por representar uma alternativa viável e segura para o tratamento de lesões de difícil cicatrização. Este estudo objetivou avaliar a ação de secreções e excreções larvais de uma espécie de mosca, Chrysomya megacephala (Fabricius) (Diptera Calliphoridae) sobre o processo de cicatrização de lesões tegumentares em ratos Wistar. Os animais (N= 16), machos com idade em torno de 48 semanas e peso entre 396 e 641 gramas, foram divididos em quatro grupos experimentais, cada qual constituído por quatro indivíduos, sendo assim denominados grupo TLT (submetidos à terapia larval clássica, isto é, com uso de larvas vivas e íntegras sobre as lesões); grupo TLM (aplicação de larvas maceradas); grupo TLS (aplicação de secreções e excreções larvais); e grupo CONT (grupo controle, isto é, sem tratamento). Todas as larvas de C. megacephala usadas neste estudo foram obtidas a partir de colônias estabelecidas em laboratório, tendo sido os ovos previamente desinfectados, antes da aplicação terapêutica, para assegurar a assepsia da técnica. A cicatrização do tecido injuriado ocorreu em menor intervalo de dias, 24 e 25, nos animais submetidos aos tratamentos TLT e TLS, respectivamente, quando comparado ao controle. Adicionalmente, nos grupos TLT e TLS a neovascularização foi bastante evidente. Esses dados tornam evidente a importância de elucidar os mecanismos de ação das larvas nos processos de cicatrização de lesões e interação com a resposta imune do hospedeiro vertebrado visando, sobretudo, a redução no tempo de internação hospitalar e dos casos que resultam em agravamento ou morte por septicemia.

ABSTRACT

Larval therapy (LT) consists in applying sterile necrophagous fly larvae, reared under laboratory conditions, on acute, chronic and/or infected wounds in order to promote or accelerate wound healing. Conventional methods for the treatment of injuries include current and commonly, mechanical debridement and/or use of several special dressings. Larvae can particularly stimulate the healing process in two ways by removing the necrotic tissue (during the act-feeding) and disinfecting the wound bed (to excrete bactericidal substances). LT has been used successfully in more than 20 countries and has drawn attention in Brazil to represent a viable and safe alternative for the treatment of difficult to heal injuries. This study aimed to evaluate the action of larval secretions and excretions of the species Chrysomya megacephala (Fabricius) (Diptera Calliphoridae) on the healing process of tegumental injury in Wistar rats. The animals (N= 16), male aged approximately 48 weeks and weighing between 396 and 641 grams, were divided into four groups, each consisting of four individuals, named as follows group TLT (submitted to classical maggot therapy, i.e., with the use of intact and living larvae on injuries); group LTM (with application of macerated larvae); group LTS (with application of larval secretions and excretions); and group CONT (control group, i.e., without treatment).All larvae of C. megacephala used in this study were obtained from the colonies established in laboratory, and the eggs were previously disinfected before application to ensure the asepsis of the therapeutic technique. The healing of the injured tissue occurred in a shorter interval of days, 24 and 25, in the animals submitted to the both TLT and LTS treatments, respectively, when compared to the control. Additionally, in TLT and LTS groups the neovascularization was very evident. These data clearly demonstrate the importance of elucidating the mechanisms of action of the larvae in the wound healing processes and interaction with the immune response of the vertebrate host, aiming mainly to a reduction in the time of hospitalization and the number of cases that result in aggravation or death from sepsis.