Rickettsia parkeri em focos de febre maculosa no bioma Pampa brasileiro
Thesis
em Pt
| VETTESES
| ID: vtt-207755
Biblioteca responsável:
BR68.1
RESUMO
A febre maculosa é uma doença febril aguda, com sintomatologia inespecífica, causada por bactérias do gênero Rickettsia e transmitida por carrapatos. Nesse trabalho relatamos a investigação eco-epidemiológica de dois casos da doença ocorridos no bioma Pampa brasileiro, nas cidades de Rosário do Sul em 2011, e Toropi, área de transição com Mata Atlântica, em 2014. Foram coletados carrapatos das duas áreas de foco, de capivaras, cães e do ambiente. Em Rosário do Sul foram coletadas também amostras de sangue dos cães da propriedade foco e vizinhança. Realizaram-se ainda, nas propriedades em que foram coletadas amostras, entrevistas que abrangiam perguntas sobre carrapatos e febre maculosa. Todos os carrapatos coletados foram processados individualmente para obtenção do DNA genômico. A pesquisa de Rickettsia spp. foi realizada por reação em cadeia da polimerase (PCR), utilizando primers específicos para fragmentos rickettsiais dos genes gltA, ompA e htrA. Nas amostras de soro canino foram pesquisados anticorpos contra Rickettsia spp. através da reação de imunofluorescência indireta (RIFI). Na investigação realizada no município de Rosário do Sul foram encontradas as seguintes espécies de carrapatos 251 Amblyomma dubitatum em carcaças de capivaras e no ambiente; 60 larvas de Amblyomma spp. no ambiente; 62 adultos de Amblyomma tigrinum, dois Amblyomma aureolatum e quatro Rhipicephalus sanguineus nos cães da propriedade foco e vizinhança. Amostras de 24 A. tigrinum (38%) e uma de Rh. sanguineus foram positivas em todas as análises de PCR para Rickettsia spp. (gltA, ompA e htrA). No município de Toropi foram coletados 18 A. dubitatum de carcaças de capivaras, dos quais quatro foram positivos para presença de DNA de Rickettsia spp. Também foram testados 210 A. dubitatum obtidos de capivaras mortas em rodovias de outras localidades do bioma Pampa, nenhum deles foi positivo. Todas as amostras positivas (Rosário do Sul e Toropi) mostraram 100% de identidade com sequências de Rickettsia parkeri cepa Portsmouth. Na sorologia dos cães, todas as amostras (100%) continham anticorpos que reagiram pelo menos para uma espécie de Rickettsia, com títulos variando de 128 a 16384. Foi possível determinar R. parkeri como provável agente responsável pela infecção natural em 12 amostras (66,66%). Nas entrevistas observamos que o hábito de caça é frequente e os cães das propriedades são criados livres em contato com a mata, sendo observada alta taxa de parasitismo por carrapatos nesses animais. A abundância de carrapatos encontrados, o hábito da caça, e a criação dos animais de estimação livres em contato com a mata, atuando como hospedeiros-ponte, são fatores que oferecem risco de exposição à Rickettsia spp.. Cabe ressaltar que os dados clínicos de pacientes suspeitos não fornecem informações suficientes para determinar o agente e o vetor envolvidos, principalmente devido ao fato do diagnóstico oficial da febre maculosa se basear unicamente na sorologia do paciente para R. rickettsii. Nosso trabalho reforça a necessidade de que o diagnóstico molecular deveria ser adotado em todos os casos humanos em novas áreas, para determinação da espécie/cepa de Rickettsia spp. circulante em cada região. Considerando as espécies de Rickettsia e seus carrapatos vetores, este trabalho acrescenta um terceiro cenário eco-epidemiológico de febre maculosa para o país (i) Rickettsia rickettsii associada a Amblyomma sculptum e A. aureolatum; (ii) Rickettsia sp. cepa Mata Atlântica associada a Amblyomma ovale; (iii) R. parkeri associada a A. tigrinum e A. dubitatum. Este trabalho evidencia que a vigilância permanente é necessária para preencher lacunas sobre agentes, reservatórios e vetores de febre maculosa. Em busca do aperfeiçoamento de políticas públicas de vigilância e educação em saúde, é essencial uma melhor compreensão da relação entre natureza, seres humanos e a ocorrência de doenças, particularmente dentro de cada contexto sócio-ambiental.
ABSTRACT
Spotted fever is an acute febrile disease with nonspecific symptoms. It is caused by bacteria of genus Rickettsia and transmitted by ticks. In this work, we report an eco-epidemiological investigation of two human cases of spotted fever which occurred in Brazilian Pampa biome, in the municipalities of Rosario do Sul in 2011, and Toropi in 2014. In these two areas, ticks were collected from capybaras, dogs and the environment. In Rosário do Sul, blood samples were collected from dogs from the patient domicile and the neighborhood. Also, interviews were carried out with local inhabitants covering questions about ticks and spotted fever. All collected ticks were processed individually to obtain genomic DNA. The search for Rickettsia spp. was carried out by polymerase chain reaction (PCR), which targets the rickettsial fragments of the gltA, ompA and htrA genes. The canine serum samples were also investigated for the presence of antibodies against Rickettsia spp. by indirect immunofluorescence reaction (IFI). In the municipality of Rosário do Sul, the following tick species were found 251 Amblyomma dubitatum of capybaras carcasses and environment; 60 larvae of Amblyomma spp. from the vegetation; 62 adults of Amblyomma tigrinum, two Amblyomma aureolatum and four Rhipicephalus sanguineus of dogs from patient domicile and neighborhood. Samples of 24 A. tigrinum (38%) and one of Rh. sanguineus were positive in all PCR analyzes (gltA, ompA and htrA) to detect Rickettsia spp. In the municipality of Toropi, 18 A. dubitatum ticks were collected from capybaras carcasses, which four of them were positive for the presence of Rickettsia spp. DNA. Also, 210 A. dubitatum ticks obtained from dead capybara on highways from other locations in the Pampa biome were subjected to PCR analysis, being none of them positive. All positive tick samples (from Rosário do Sul and Toropi) showed 100% identity with Rickettsia parkeri strain Portsmouth. The serology analyses showed that all dogs (100%) have antibodies that reacted with at least one species of Rickettsia, with titres ranging from 128 to 16,384. It was possible to determine R. parkeri as a probable agent responsible for natural infection in 12 samples (66.66%). In the interviews it was observed that the habit of hunting is frequent. All dogs are raised with free contact to forest, and a high rate of parasitism by ticks was observed in these animals. The abundance of ticks, the habit to hunt and to raise the dogs with free contact within the forest (acting as bridge-host) are factors that offer an increased risk of exposure to Rickettsia spp. It is noteworthy, that clinical data of patients do not provide enough information to determine the agent and vector involved, particularly the official diagnosis of spotted fever in Brazil is based solely on the serology of the patient against R. rickettsii. Our research reinforces that molecular diagnosis must be adopted in all human cases of spotted fever to determine which species of Rickettsia circulates in each region. Taking into account the species of Rickettsia and ticks vectors, the set of results showed in this work adds a third eco-epidemiological scenario of spotted fever in Brazil (i) Rickettsia rickettsii associated with Amblyomma sculptum and A. aureolatum ticks; (ii) Rickettsia sp. strain Atlantic rainforest associated with Amblyomma ovale ticks; (iii) R. parkeri associated with A. tigrinum and A. dubitatum ticks. This work evinces that a permanent survey is necessary to fill the gaps about the agent, reservoirs and vectors of spotted fever. For the improvement of public health surveillances and education policies is necesserary a better understanding about the relationship among nature, human beings and disease ocurrence, particularly considering each socio-enviromental context.
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VETTESES
Idioma:
Pt
Ano de publicação:
2017
Tipo de documento:
Thesis