BEM ESTAR E COMPORTAMENTO DE CÃES: ORIENTAÇÃO PARA MÉDICOS VETERINÁRIOS CLÍNICOS

RESUMO

A relação entre o ser humano e os animais domésticos data de milhares de anos (1-2). Desde que os cães foram domesticados, a relação entre eles e o ser humano foi se alterando. Ocorreu, cada vez mais, o aumento do número de lares com animais de estimação; sendo que a interação da família com seu animal de estimação também se modificou, e, recentemente, os cães passaram a ser considerados membros da família (3-4). Pesquisas recentes revelaram que 98% dos proprietários sentem que o cão é, ou quase é, um membro da família (5-6). O vínculo ser humano-animal é uma relação dinâmica e mutuamente benéfica. Esta relação inclui atitudes, emoções e as profundas interações físicas e psicológicas entre as pessoas, animais e meio ambiente (7). Com isso, o comportamento de apego, mecanismo de coalizão essencial para à sobrevivência de animais sociais, foi o resultado de um processo evolutivo onde ser social mostrou-se vantajoso no vínculo entre o ser humano e os outros animais(8). Atualmente, o número de cães e gatos como animais de estimação é crescente, oferecendo sustentação à ideia de que a vida humana, compartilhada com os animais, está instituída como uma nova forma de existência (9). Cada vez, mais e mais, as pessoas têm tratado seus animais de estimação como se fossem pessoas, principalmente como se fossem crianças. À essa humanização dos animais dá-se o nome de antropomorfização (2,5,8). Essa proximidade levanta um novo questionamento será que como os animais tem sido tratados é bom para eles? Este comportamento de alguns proprietários, geralmente, é aceitável desde que o funcionamento biológico e fisiológico de cada espécie seja respeitado. Entretanto, o antropomorfismo exagerado é cientificamente inaceitável, por ser nocivo ao ponto de gerar transtornos comportamentais nos animais (2). Entretanto, nem sempre o vínculo ser humano e animal de companhia se estabelece solidamente. Devido a problemas de comportamento, cerca de vinte milhões de animais de estimação, a cada ano, são abandonados em abrigos nos EUA 12 12 e, pelo menos a metade destes-por questões legais daquele pais- sofre eutanásia (10). No Brasil, até o presente momento, não há casuística nacional dos problemas de comportamento dos cães domésticos, nem de como os casos existentes são conduzidos; e não há cultura, e nem respaldo legal, de eutanásia de cães em razão de distúrbio de comportamento (11). Nos Estados Unidos é comum entre os veterinários a recomendação do uso de medicamentos (ansiolíticos e antidepressivos), inclusive de maneira preventiva, quando da ida dele ao veterinário caso haja algum problema de comportamento mais grave, como medo, ansiedade ou agressividade, a fim de que a consulta seja agradável e não o traumatize. Porém, há controvérsias, pois algumas vezes não se sabe, realmente, qual será o estado de saúde do animal antes da consulta acontecer (12). A sociedade, atualmente, demanda uma atuação profissional do médico veterinário que englobe capacidade crítica em questão de bem-estar animal e amplo respaldo técnico no que tange à análise das condições de vida dos animais. O médico veterinário deve ser ainda capaz de criar alternativas para melhorar a interação ser humano-animal com o objetivo de proteger os animais de sofrimento. Portanto, é importante que futuros profissionais tenham contato com a ciência do bem-estar animal durante a formação acadêmica (13). Neste sentido ê importante comentar que em um grupo de 86 médicos veterinários da Baixada Santista foi identificado desconhecimento sobre princípios básicos importantes de Bem-Estar Animal. Devido à falta de conhecimento, os profissionais não usavam tecnicamente o Bem-Estar Animal considerando as adequações no local de atendimento clínico, nem eticamente considerando a venda de produtos em pet shops (14). A boa notícia e que a profissão médico-veterinária está passando por uma transformação significativa, buscando atender à crescente valorização de bem-estar dos animais, com uma demanda de conhecimento e atuação reconhecida nesta área (15). Um exemplo sito e que há uma crescente preocupação em evitar o estresse do animal desde o momento em que ele entra na clínica até quando sai, e depois para o proprietário conseguir manter o tratamento em casa (12). No entanto, na literatura 13 13 profissional veterinária, a atenção dispensada ao vínculo entre proprietário-cão tem sido minimante discutida (16). Muitos animais de estimação e seus proprietários assossiam o hospital veterinário ao medo e a dor. Essa imagem se dá por vários elementos por exemplo, a mesa fria de aço inoxidável usado no exame físico,o uso do termômetro intra-anal, agulhas e o uso de gaiolas. O medo advindo de tudo isso, muitas vezes,altera os resultados dosexames,contribui para a ocorrência de mordidas, e impede ou dificulta a realização de exame minucioso ou o tratamento (17). Muitos proprietários não percebem que a ação em casa pode contribuir para que as visitas ao veterinário sejam mais calmas. Eles devem receberuma orientação técnica mostrando que simples mudanças em suas atitudes influenciam bastante no comportamento do seu animal (17).

ABSTRACT

The relationship between humans and domestic animals dates back thousands of years (1-2). Since the dogs were domesticated, the relationship between them and the human being was changing. There has been an increasing number of households with pets; being that the interaction of the family with their pet has also changed, and dogs have recently been considered members of the family (3-4). Recent research has revealed that 98% of owners feel that the dog is, or almost is, a member of the family (5-6). The human-animal bond is a dynamic and mutually beneficial relationship. This relationship includes attitudes, emotions and the deep physical and psychological interactions between people, animals and the environment (7). Thus, attachment behavior, the essential coalition mechanism for the survival of social animals, was the result of an evolutionary process in which being social was advantageous in the link between humans and other animals (8). Currently, the number of dogs and cats as pets is increasing, supporting the idea that human life, shared with animals, is instituted as a new form of existence (9). Increasingly, people have treated their pets as if they were people, mostly as children. This humanization of animals is called anthropomorphization (2,5,8). This proximity raises a new questioning is it that how animals have been treated is good for them? This behavior of some owners is generally acceptable as long as the biological and physiological functioning of each species is respected. However, exaggerated anthropomorphism is scientifically unacceptable because it is harmful to the point of causing behavioral disorders in animals (2). However, not always the bond being human and companion animal establishes solidly. Due to behavioral problems, about twenty million pets each year are abandoned in shelters in the USA and at least half of them - for legal reasons in that country - suffers euthanasia (10). In Brazil, to date, there is no national casuistry of domestic dog behavior problems, nor how the existing cases are conducted; and there is no culture, nor legal support, for dog euthanasia because of behavioral disturbance (11). In the United States, it is common for veterinarians to recommend the use of medications (anxiolytics and antidepressants), including preventive measures, when they go to the veterinarian if there is a problem of more serious behavior, such as fear, anxiety or aggression, in order to that the consultation be pleasant and not traumatize. However, there are controversies, because sometimes it is not known, really, what will be the state of health of the animal before the consultation happens (12). The society nowadays demands a professional performance of the veterinary doctor that encompasses critical capacity in the matter of animal welfare and ample technical support regarding the analysis of the living conditions of the animals. The veterinarian should still be able to create alternatives to improve human-animal interaction with the aim of protecting animals from suffering. Therefore, it is important that future professionals have contact with the science of animal welfare during the academic training (13). In this sense it is important to mention that in a group of 86 veterinarian doctors from Baixada Santista, a lack of knowledge about important basic principles of Animal Welfare was identified. Due to the lack of knowledge, the professionals did not technically use Animal Welfare considering the adequacies in the place of clinical care, nor ethically considering the sale of products in pet shops (14). The good news is that the veterinary profession is undergoing a significant transformation, aiming to attend to the increasing appreciation of animal welfare, with a demand for knowledge and recognized action in this area (15). One example is that there is a growing concern about avoiding the animal's stress from the moment it enters the clinic until when it leaves, and then for the owner to be able to keep the treatment at home (12). However, in the literature professional attention, the attention given to the bond between owner-dog has been minimized (16). Many pets and their owners assied the veterinary hospital to fear and pain. This image is given by several elements for example the stainless steel cold table used in physical examination, the use of intra-anal thermometer, needles and the use of cages. Fear of all this often alters the results of the examinations, contributes to the occurrence of bites, and prevents or hinders the scrutiny or treatment (17). Many homeowners do not realize that action at home can help make veterinary visits calmer. They should receive technical guidance showing that simple changes in their attitudes greatly influence the behavior of their animal (17).