CARACTERIZAÇÃO RACIAL E PRODUTIVA DO ECÓTIPO BERGANÊS VIA MORFOMETRIA GEOMÉTRICA

RESUMO

O ecótipo Berganês formou-se na década de 80, no município de Dormentes estado de Pernambuco a partir de cruzamentos da raça Santa Inês, de origem brasileira com a raça Bergamácia, de origem Italiana. Os animais Berganês são criados em ambientes desfavoráveis, típicos das regiões semiáridas, o que favorece sua utilização nos sistemas de criação de baixo investimento. O reconhecimento desse ecótipo como raça, é de grande importância para o uso e conservação desses animais, contribuindo ainda para o desenvolvimento socioeconômico da região, fortalecendo em longo prazo a cadeia produtiva de ovinos na região semiárida do Nordeste. A morfometria geométrica é uma abordagem, com aplicação recente em animais de produção, que permite avaliar características morfométricas independente do tamanho, através da inserção de marcos anatômicos geometricamente homólogos entre estruturas, permitindo descrever e localizar mais claramente as regiões de mudanças na forma. Assim, objetivou-se caracterizar fenotipicamente o ecótipo Berganês quanto aos carácteres raciais e produtivos por meio da morfometria geométrica. Para caracterização racial, utilizou-se 175 ovelhas dos grupos genéticos Berganês (137), Bergamácia (11) e Santa Inês (27). Já na caraterização produtiva foram utilizadas 216 ovelhas dos grupos genéticos Berganês (137), Morada Nova (29), Somális (30) e Santa Inês (20). Foram capturadas imagens da orelha direita, da região frontal da cabeça e lateral do corpo e, posteriormente, inseridos 26, 25 e 22 marcos e semimarcos anatômicos, respectivamente. Foram encontradas diferenças significativas (p<0,01) quanto à forma da orelha, da região frontal da cabeça e da lateral do corpo entre os rebanhos. A maior parte da variação para região da orelha ocorreram nas áreas apical, medial e basal. Na região frontal da cabeça a maior variação ocorreu na fronte, no arco superciliar e nas extremidades nasais. Já na forma do corpo houve maior variação nas regiões do anterior, entre a tuberosidade do úmero-escapular, do posterior, correspondente às regiões da garupa e do traseiro, e dorso-ventral. Em maioria, os animais Berganês apresentam tipo de orelhas medianas a longas, pendulosas e largas, possuem também, fronte larga, curta e com expansão no arco superciliar. Quanto a forma do corpo apresentam características de animais de maior tamanho e estatura, com regiões anterior e posterior mais desenvolvida e posterior mais expressiva. Diferenças significativas (p<0,01) de tamanho foram observadas, sendo que o ecótipo Berganês apresentou maior tamanho de orelha, fronte e corpo. Observou-se alta variabilidade fenotípica do ecótipo Berganês, o que pode ser atribuído ao fato de ser um material genético em formação. Entretanto, verifica-se alguma prática de seleção, mesmo que empírica, justificando seu maior desempenho correlacionado as características de cortes nobres de carcaça, sendo evidenciado pela análise de forma do corpo. O uso da morfometria geométrica possibilitou avaliar a diversidade fenotípica entre e dentro da população de ovinos Berganês, permitindo diferenciá-los das suas raças de origem, principalmente para a forma da orelha, fornecendo informações importantes e necessárias para sua caracterização racial.

ABSTRACT

The Berganês ecotype was formed in the 80s decade in the municipality of Dormentes, Pernambuco State, Brazil, from crosses between Santa Inês, a Brazilian breed, and Bergamacia, an Italian breed. Berganês animals are created to the typical unfavorable environments of the semi-arid region, which favors their use in low-investment rearing systems. Recognizing this ecotype as a breed is a step of great importance for the use and conservation of those animals which will also contribute to the socioeconomic development of the region. In the long term, this action will strengthen the sheep production chain in the semi-arid region of Brazils Northeast. Geometric morphometrics is an approach that has been recently applied on production animals. Through this technique, morphometric traits can be evaluated regardless of animal size, which is achieved by inserting geometrically homologous anatomical landmarks between structures. In this way, it provides a description and clearer location of regions undergoing changes in shape. The present study proposes to undertake a phenotypic characterization of the Berganês ecotype regarding breed and productive traits through geometric morphometrics. For the breed characterization, 175 sheep of the Berganês (137), Bergamácia (11) and Santa Inês (27) genetic groups were used. Production analysis, in turn, involved 216 sheep of the Berganês (137), Morada Nova (29), Somális (30) and Santa Inês (20) genetic groups. Images of the right-ear, frontal region of the head, and lateral region of the body were captured and then 26, 25, and 22 anatomical landmarks and semi-landmarks were inserted in the respective regions. Significant differences were detected (p<0.05) for ear shape, frontal region of the head, and lateral region of the body across the herds. The greatest variation for the ear region occurred in the apical, medial and basal areas. In the frontal region of the head, most variations were present in the forehead, superciliary arch and nasal extremities. In body shape, greater variations occurred in the forequarter region, in the humeroscapular tuberosity; in the hindquarter region, corresponding to the rump; and in the dorsoventral region. The majority of Berganês animals have medium to long, pendulous and wide ears and a wide, short forehead with an expanded superciliary arch. As for their body shape, they exhibit characteristics of larger and taller animals, with better developed forequarter and hindquarter regions. Significant differences (p<0.05) were observed in size, with the Berganês ecotype showing larger ear, forehead and body. The ecotype also showed high phenotypic variability, which may be attributed to the fact that its genetic material is still under formation. However, some selection practice even if empirical was observed, which explains their greater performance correlated with the characteristics of prime carcass cuts, as evidenced by body shape analysis. The use of geometric morphometrics made it possible to evaluate the phenotypic diversity between and within the Berganês sheep population and thus differentiate it from its breeds of origin, especially for ear shape, providing important and useful information for its breed characterization.