DIETA, PERFIS MORFOMÉTRICO E BIOQUÍMICO DOS PRIMATAS EXÓTICO (Saimiri sciureus) E NATIVO (Callithrix jacchus) NO ESTADO DE PERNAMBUCO, NORDESTE DO BRASIL

RESUMO

A presença do primata amazônico Saimiri sciureus no estado de Pernambuco, Nordeste do Brasil, é conhecida há três décadas. Mas, pouquíssimas informações foram levantadas sobre o seu comportamento, hábito alimentar e interação com outras espécies de animais, como Callithrix jacchus, primata nativo da região. Dados publicados em várias pesquisas, revelaram a exploração de amplas áreas de vida e dieta frugívora de S. sciureus e uso de pequenas áreas e dieta gomívora de C. jacchus. Essas diferenças repetem-se e são determinantes no ambiente onde S. sciureus e C. jacchus são simpátricos? Além do comportamento e dieta, informações sobre a morfometria e bioquímica de S. sciureus de vida livre são inexistentes, assim como há poucos dados de C. jacchus nessa condição. Há diferenças sexo-etárias na morfometria e bioquímica de S. sciureus e C. jacchus? Buscando elucidar essas e outras questões, entre os anos de 2017 e 2019, dois grupos de S. sciureus (S G1 e S G2) e dois grupos de C. jacchus (C G1 e C G2) foram monitorados na Reserva Biológica de Saltinho, localizada no litoral Sul de Pernambuco. A Varredura Instantânea foi aplicada no registro dos comportamentos e um GPS foi utilizado para marcar os deslocamentos dos animais e calcular o tamanho das áreas de vida. Todas as Ocorrências foi o método usado no registro da dieta e amostras de plantas coletadas foram identificadas. Frutos foram mensurados e analisados nutricionalmente. Espécimes de S. sciureus e C. jacchus foram capturados para avaliar a saúde, através da mensuração corporal e coleta de amostras de sangue para análise laboratorial. A locomoção ultrapassou 50,0% do orçamento de atividades de todos os grupos, cujas atividades foram realizadas principalmente no estrato arbóreo entre 5 m - 10 m de altura do solo pelos grupos de S. sciureus e 0 m - 5 m de altura pelos grupos de C. jacchus. Os grupos de S. sciureus usaram áreas de vidas maiores (18,7 ha e 28,0 ha) do que os grupos de C. jacchus (1,8 ha e 2,1 ha). A dieta de S. sciureus foi frugívora, com preferência para a ingestão de Henriettea succosa, que apresentou maior valor de extrato etério (1,01%) em relação aos demais frutos analisados. A gomivoria de C. jacchus foi acentuada, principalmente a ingestão de gomas de Tapirira guianensis. A massa corpórea média de C. jacchus fêmeas foi de 284 g e os espécimes jovens superaram os adultos em seis parâmetros morfométricos. S. sciureus machos obtiveram massa corpórea média de 742 g e superaram as fêmeas em todos os parâmetros morfométricos. Ambas as espécies apresentaram altas concentrações no perfil lipídico, principalmente colesterol total e HDL e no perfil proteico. As diferenças no uso dos estratos arbóreos, no tamanho das áreas de vida e na preferência alimentar foram fatores determinantes para o favorecimento da simpatria desses primatas na área de estudo. Visto que os espécimes avaliados estavam clinicamente saudáveis, os resultados dos perfis morfométrico e bioquímico podem ser utilizados como referência para C. jacchus e S. sciureus na natureza.

ABSTRACT

The presence of the Amazonian primate, Saimiri sciureus, in the state of Pernambuco, Northeastern Brazil, has been known for three decades. However, very little information has been gathered about their behavior, feeding habits and interaction with other species, such as Callithrix jacchus, a native primate in the region. Data published in several studies revealed the exploitation of a wide home range and frugivorous diet of S. sciureus and the use of small areas and gomivorous diet of C. jacchus. Are these differences repeated and are they decisive in the environment where S. sciureus and C. jacchus are sympatric? In addition to their behavior and diet, information on the morphometry and biochemistry of free-living S. sciureus are nonexistent, just as there is little data for C. jacchus in this condition. Are there sex-age differences in the morphometry and biochemistry of S. sciureus and C. jacchus? Seeking to elucidate these and other issues, between the years 2017 and 2019, two groups of S. sciureus (S G1 and S G2) and two groups of C. jacchus (C G1 and C G2) were monitored in the Reserva Biológica de Saltinho, located on the South coast of Pernambuco. Scan sampling was applied to record behaviors and a GPS was used to mark the routes of the animals and to calculate their home range sizes. The All Occurrences method was used to record the diet and samples of collected plants were identified. Fruits were measured and nutritionally analyzed. Specimens of S. sciureus and C. jacchus were captured to assess health, through body measurement and collection of blood samples for laboratory analysis. Locomotion exceeded 50.0% of the activity budget of all groups, whose activities were carried out mainly in the arboreal stratum between 5 m - 10 m above the ground by the S. sciureus groups and 0 m - 5 m high by the C. jacchus groups. The S. sciureus groups used a larger home range (18.7 ha and 28.0 ha) than the C. jacchus groups (1.8 ha and 2.1 ha). The diet of S. sciureus was frugivorous, demonstrating a preference for the intake of Henriettea succosa, which presented a higher value of ether extract (1.01%) in relation to the other analyzed fruits. The gomivory of C. jacchus was accentuated, mainly through the intake of Tapirira guianensis gums. The mean body mass of C. jacchus females was 284 g and the juvenile specimens surpassed adults for six of the morphometric parameters. S. sciureus males obtained a mean body mass of 742 g and surpassed females for all morphometric parameters. Both species showed high concentrations in their lipid profiles, mainly total cholesterol and HDL and in the protein profile. The differences in the use of arboreal stratum, home range sizes and in food preference, were determining factors for favoring the sympatry of these primates in the study area. Since the specimens evaluated were clinically healthy, the results of the morphometric and biochemical profiles can be used as a reference for C. jacchus and S. sciureus in nature.