RESUMO
Resumo: O Vírus da Hepatite A 1 (VHA1) é o agente etiológico da hepatite A, doença diretamente relacionada ao baixo desenvolvimento econômico, falta de água potável e carência de saneamento. O Brasil é endêmico para hepatite A com destaque para as regiões Norte e Nordeste. A transmissão do vírus ocorre pela via fecal-oral, através da ingestão de água e alimentos contaminados ou por contato direto com uma pessoa infectada, que elimina grandes quantidades de partículas virais em suas fezes, contaminando os corpos hídricos. Este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade microbiológica, físico-química e climatológica, incluindo a pesquisa do VHA1 em águas superficiais destinadas ao abastecimento público, bem como avaliar a água após tratamento no município de Belém no período de janeiro de 2012 a dezembro 2014. Um total de 108 amostras de água foram coletadas e analisadas mensalmente no Lago Bolonha (n=36), Lago Água Preta (n=36) e ETA (n=36). A concentração das amostras para detecção do VHA1 foi baseada no método de adsorção-eluição em membrana filtrante. O RNA viral foi extraído utilizando o kit comercial QIAamp Viral RNA (QIAGEN), seguida da transcrição reversa e NestedPCR. Para sequenciamento foram utilizados amplicons obtidos na Nested-PCR. Os produtos foram purificados com Kit comercial Pure Link® PCR Purification (InvitrogenTM) e submetidos a reação de sequenciamento utilizando o Kit BigDye® Terminator Cycle sequencing v 3.1 (Applied Biosystems), seguida de precipitação e posterior sequenciamento na plataforma 3130xlGenetic Analyzer (Applied Biosystems). Para alinhamento e edição das sequências utilizou-se o programa Geneious v. 7.1.8 e comparação com aquelas disponíveis no GenBank usando o programa BLAST do NCBI (National Center for Biotechnology Information). Para colimetria utilizou-se o kit comercial Colilert 18 IDEXX©. De um total de 108 amostras, 44% (48/108) foram positivas, com destaque para o Lago Água Preta que apresentou maior percentual de amostras positivas 37,75% (18/48), seguido do Lago Bolonha com 31,25% (15/48) e saída da ETA com 31,25% (15/48), entretanto, esta diferença não é significativa (p=0.435). A densidade de E.coli, entre os lagos Bolonha e Água Preta foi significativamente diferente, com destaque para o Bolonha que se mostrou mais contaminado (p=0.0001). Na saída da ETA, o exame bacteriológico foi sistematicamente negativo, entretanto, em 41,93% (15/36) das amostras o VHA1 foi detectado, mostrando a permanência do vírus mesmo após o tratamento da água a ser distribuída para população. Entre as variáveis físicoquímicas, foi observado associação positiva entre VHA1 e pH e associação negativa entre VHA1 e cloro livre e OD. Este estudo demonstrou a circulação de ambos os genótipos IA e IB em amostras de água superficial e na água de consumo humano. Os resultados apontam para degradação ambiental dos mananciais superficiais, além evidenciar que o processo de tratamento da água que resulta na ETA não interfere na ocorrência do VHA1, corroborando com a falta de correlação entre os indicadores bacteriológicos e a presença de vírus, o que chama atenção para necessidade de revisão da legislação vigente, tendo em vista, a disseminação do vírus no ambiente e o potencial de risco à saúde pública.
Assuntos
Vírus da Hepatite A/patogenicidade , Hepatite A/transmissão , Água Potável/análise , Microbiologia da Água , Coliformes , Doenças Transmitidas pela Água/virologia , Abastecimento de ÁguaRESUMO
Resumo: Bacteriófagos são os organismos mais abundantes e diversos do planeta. Estima-se que 1031 partículas de fagos circulam praticamente em todos os ambientes da terra. Fagos desenvolvem complexas interações com seus hospedeiros as bactérias, apresentando um papel ecológico de fundamental importância enquanto solubilizadores e sumidouros globais de carbono, além de controlar a abundância e diversidade bacteriana. Nem todos os ciclos infecciosos mediados por fagos resultam na morte da bactéria e fagos podem desenvolver complexos processos de lisogenia, integrando-se ao genoma e coexistindo com suas hospedeiras por tempo indeterminado. No processo de lisogenia fagos oferecem arcabouço genético às suas hospedeiras, podendo transformar fenótipos e induzir processos de conversão, como por exemplo, transformar bactérias inofensivas em virulentas. O Vibrio cholerae é uma bactéria ambiental, cuja evolução enquanto patógeno humano está associada à aquisição de genes através da infecção por um ou mais fagos temperados. Esta mudança drástica, no entanto, pode não ser um evento isolado na biologia da espécie. É possível que um grupo mais amplo de fagos interaja com a espécie nos diversos locais de sua existência, determinando alterações fenotípicas e linhagens evolutivas. O presente estudo avalia o fenômeno da conversão lisogênica do V. cholerae sob uma ótica global de evolução da espécie. O "profagoma" da espécie foi determinado em 162 sequências genômica, definindose a relação deste com a filogenia, filogeografia e relógio molecular da espécie. Diferentes relações entre fagos e populações de V. cholerae foram identificadas, mostrando que estes organismos co-evoluem com a bactéria desde o tempo de seu ancestral comum mais recente. Três cepas de V. cholerae que compunham a amostragem genômica foram estudadas detalhadamente a partir de ensaios fenotípicos, considerando diferentes faixas de temperatura, pH e concentrações de sais. Seus fenótipos foram associados com a expressão mRNA de genes de fagos, verificando-se a expressão diferencial destes genes com variações fenotípicas, sugerindo que as diferentes espécies de profagos associadas a genomas de V. cholerae configuram-se como agentes de evolução rápida e diversificação ecotípica da bactéria.