Os
acidentes por
serpentes são um importante problema de
saúde pública em diversas regiões da
Ásia,
África e
América Latina. Apesar do grande número de
acidentes, os dados de
incidência e
mortalidade são, na maioria dos
casos, incompletos, devido à
falha na identificação da serpente causadora do
acidente e/ou no atendimento dos
pacientes pela falta ou baixa qualidade das notificações, que apesar de obrigatórias no
país, não refletem a realidade existente. Um dos fatores que agrava a situação dos
acidentes ofídicos no
país é o desconhecimento dos
profissionais da
área da saúde na identificação correta da serpente, o que se reflete diretamente no preenchimento das notificações. O
soro antiofídico, produzido com o
veneno das próprias
serpentes, é o único
tratamento específico existente para os
acidentes ofídicos. Para a
produção de um
soro de boa qualidade é fundamental um plantel de
serpentes sadias e livres de
parasitas e
infecções. Uma vez que a
alimentação básica das
serpentes peçonhentas em cativeiro e na
natureza é feita com
roedores (
Mus musculus) vivos, que possivelmente podem estar infectados por um grande número de
bactérias e/ou
vírus, passa a ser imprescindível o
desenvolvimento de
protocolos que avaliem, ao máximo, as
condições sanitárias das
serpentes, identificando possíveis agentes
patógenos que possam interferir na
saúde destes
animais Sabendo que o
gênero Bothrops é responsável por cerca de 90% dos
acidentes por
serpentes no
Brasil, a correta identificação das
serpentes, particularmente neste
gênero, é de grande importância para o
diagnóstico do
acidente. Para o estudo da
epidemiologia dos
acidentes no município do Rio de Janeiro, foram analisadas as fichas individuais de
notificação no
Hospital Municipal Lourenço Jorge, onde, pode ser verificado que o elevado número de
acidentes por
serpentes se mantém, superando em muito o número de
acidentes por
aranhas e
escorpiões. Visando analisar a
saúde das
serpentes produtoras de
veneno para
produção de
soro foram feitos
testes hematológicos e seus resultados comparados com a
literatura, na qual foi possível verificar a
ausência de um padrão hematológico para as
serpentes brasileiras. Foram analisados
carrapatos parasitando
serpentes de cativeiro utilizadas na
produção de
veneno para fabricação de
soro e observou-se a presença de R. bellii, Ca. '
Rickettsia colombianensi',
Anaplasma sp e Hepatozoon sp., possibilitando estender a
distribuição geográfica de Ca. '
Rickettsia colombianensi' e apresentar o
registro inédito de R. bellii em A. dissimile. Diante dos resultados obtidos nos
carrapatos analisados, a possibilidade de
transmissão destes agentes para os
profissionais que manuseiam
serpentes precisa ser considerada, assim como as
medidas para controle da qualidade
animal e de
proteção do profissional.