Os
medicamentos säo possivelmente a
tecnologia biomédica mais difundida no mundo, sendo demandados e utilizados pelas mais diversas populaçöes. Questöes que envolvem o uso e os entendimentos que os índios Kaingáng da Terra Indígena Xapecó, Santa Catarina, têm a
respeito dos
medicamentos . Para o
desenvolvimento da
pesquisa (realizada de setembro de 1999 a fevereiro de 2000), utilizou-se a perspectiva da
antropologia médica , em especial da
antropologia farmacêutica , que é uma abordagem voltada para o estudo de
medicamentos em contextos locais, analisando essa
tecnologia como um fenômeno cultural e social e näo somente como pertencente aos domínios da
farmacologia e
bioquímica . Através de
métodos antropológicos e epidemiológicos, buscou-se levantar dados sobre os diferentes setores que fazem parte dos
sistemas de saúde atuantes entre os Kaingáng. Além disso, procurou-se examinar o tema à
luz da recém implantada
política de assistência à saúde para os
povos indígenas , baseada no modelo diferenciado de
atençäo e nos
Distritos Sanitários Especiais
Indígenas (DSEI). A precariedade em que vive a maioria da
populaçäo da aldeia
Sede caracteriza-se por
moradias inadequadas e pela falta de
sistema de esgoto e de
abastecimento de água , bem como de um
tratamento adequado ao
lixo . As
doenças infecto-parasitárias nas
crianças de 0 a 14 anos foram o principal
motivo de
consulta na "
Enfermaria " da aldeia
Sede . A
análise das
prescriçöes médicas , da
dispensaçäo sem receita pelos atendentes/
auxiliares de enfermagem e da "
farmácia caseira" os
medicamentos encontrados nos
domicílios Kaingáng revelou que alguns grupos terapêuticos se sobressaem, entre eles os
antibacterianos , os
analgésicos näo opióides , os
antiparasitários , os
ansiolíticos e os
anticonvulsivantes . A pluralidade de opçöes terapêuticas disponíveis aos Kaingáng permite a busca de diferentes recursos de
cuidado , cujo
comportamento é influenciado pela maneira como os sistemas e setores de
saúde estäo organizados e interagindo, bem como pelos
conhecimentos ,
crenças , valores e práticas específicos a esse grupo indígena. Os dados desse
trabalho confirmam que näo há uma
medicina essencial, independente da
história de interaçäo entre diferentes culturas. Pensar a questäo dos
medicamentos no modelo diferenciado de
atençäo à saúde indígena permanece um desafio a ser superado. (AU)