Prevalência de dor, interferência funcional e sua relação com variáveis clínicas: um estudo em doentes renais crónicos em tratamento de hemodiálise / Prevalence of pain, functional interference and its relationship with clinical variables: a study in chronic renal failure patients on haemodialysis treatment

RESUMO

A dor é um sintoma frequente nos doentes renais crónicos que fazem hemodiálise como tratamento de substituição da função renal, os quais referem sentir diferentes tipos, de dor, de intensidade e de localização variáveis. Objetivos: O objetivo geral do presente estudo foi avaliar a prevalência da dor e interferência funcional em doentes renais crónicos em tratamento de hemodiálise e a sua relação com variáveis clínicas. Metodologia: Foi realizado um estudo transversal analítico, de abordagem quantitativa, numa amostra de 140 indivíduos com doença renal crónica e que efetuam tratamento de hemodiálise como meio de substituição renal. Como instrumento de recolha de dados utilizou-se um questionário, repartido em três partes caracterização de variáveis sociodemográficas e variáveis clínicas do doente renal crónico em programa de hemodiálise e o inventário "Brief Pain Inventory- Short Form" (BPI). Este inventário é formado por 15 itens que avaliam a existência, severidade, localização, interferência funcional, estratégias terapêuticas aplicadas e eficácia do tratamento da dor. Resultados: Amostra na sua maioria de homens (62,9%), com idades entre os 51 e 80 anos (63,6%), com manifestação de dor durante a HD (57,86%) e com perceção de dor que persiste no domicílio. 42,9% referiram dor máxima (6 a 10) na última semana e a maioria (82,9%) recorreu ao paracetamol para o alívio da dor, com apenas 20% a referir alívio total. Verificaram- se algumas relações estatisticamente significativas (p<0,05) quem realiza hemodiálise há mais tempo é mais suscetível de apresentar dor não comum, com persistência no domicílio; menos tempo em tratamento maior interferência da dor nas atividades de vida diária; doentes com cateter venoso central referem mais queixas quanto à interferência nas atividades de vida diária e no trabalho normal. Conclusão: A dor não comum é prevalente entre os pacientes hemodialisados. Os resultados destacam a importância de uma abordagem interdisciplinar para a prevenção, tratamento e alívio da dor nesses pacientes, usando, além de terapias farmacológicas, também não-farmacológicas, tais como a fisioterapia e terapia ocupacional.

ABSTRACT

Pain is a frequent symptom in chronic kidney disease patients undergoing hemodialysis as a replacement treatment for renal function, who report feeling different types of pain, variable intensity and location. Objectives: The general objective of the present study was to evaluate the prevalence of pain and functional interference in chronic kidney patients undergoing hemodialysis treatment and its relationship with clinical variables. Methodology: An analytical cross-sectional study, with a quantitative approach, was carried out in a sample of 140 individuals with chronic kidney disease and undergoing hemodialysis treatment as a means of renal replacement. As a data collection instrument, a questionnaire was used, divided into three parts characterization of sociodemographic variables and clinical variables of chronic kidney disease patients undergoing hemodialysis and the inventory"Brief Pain Inventory- Short Form" (BPI). This inventory consists of 15 items that assess the existence, severity, location, functional interference, applied therapeutic strategies and effectiveness of pain treatment. Results: Sample mostly comprised of men (62.9%), aged 51 to 80 years (63.6%), with pain during hemodialysis (57.86%) and persistent pain perception at home. 42.9% reported maximum pain (6 to 10) in the last week, and the majority (82.9%) used paracetamol for pain relief, with only 20% reporting complete relief. Some statistically significant relationships (p <0.05) were found patients who had been undergoing hemodialysis for longer periods were more likely to present with non-common pain with persistence at home; less time in treatment meant more interference of pain in daily activities; patients with central venous catheters reported more complaints regarding interference in daily activities and normal work. Conclusion: Non-common pain is prevalent among hemodialysis patients. The results highlight the importance of an interdisciplinary approach for the prevention, treatment, and relief of pain in these patients, using not only pharmacological therapies but also non- pharmacological therapies such as physiotherapy and occupational therapy.