RESUMEN
In recent decades, several academic studies on abortion have been produced in Brazil, with different designs, objectives, and methodologies. However, due to the diversity of situations in which Brazilian women experience abortion, the complexity of this topic, and its modulations in different political and sociocultural contexts, it still challenges academicians and the fields of health and reproductive rights. In this article, we present methodological aspects of a qualitative study on health care itineraries of women in situations of abortion, a component of the Birth in Brazil II survey, whose objective is to discuss the effects of gender; race/ethnicity; social class; generational, regional, and territorial inequalities on care itineraries. We discuss the study design development, the construction of the theoretical framework and specific analytical axes, the development of interview instrument, definition of participant selection criteria, strategies to contact participants and conduct the interviews, management of field work and materials produced, analytical procedures, and ethical issues. In total, 120 narrative interviews were conducted in order to include a diversity of women and obtain detailed results from the quantitative analysis under Birth in Brazil II survey. The context of criminalization of abortion has an impact on the production of knowledge on this subject, creating challenges such as difficult access to women, women's anonymity, privacy and data confidentiality, creation of objective and subjective conditions so that they can narrate their experiences in depth. With this article, we seek to contribute to the debate about these challenges in abortion research in Brazil.
Nas últimas décadas, produziu-se um robusto corpus de pesquisas sobre aborto no Brasil, com diferentes desenhos, objetos e metodologias. Contudo, pela diversidade de situações em que as mulheres brasileiras vivenciam o abortamento, pela complexidade do tema e por suas modulações em contextos políticos e socioculturais distintos, o assunto não cessa de desafiar a academia, o campo da saúde e dos direitos reprodutivos. Neste artigo, apresentamos aspectos metodológicos de um estudo qualitativo sobre itinerários de cuidado à saúde de mulheres em situações de abortamento, componente da pesquisa Nascer no Brasil II, que objetiva discutir efeitos das desigualdades de gênero, de raça/etnia, de classe social, geracionais, regionais e territoriais nesses percursos. Discutimos o desenvolvimento do desenho do estudo; a construção do arcabouço teórico e recortes analíticos específicos; a elaboração do instrumento de entrevista; os critérios de seleção das mulheres; as estratégias de abordagem e condução das entrevistas; a gestão do fluxo do campo e dos materiais produzidos; os procedimentos analíticos; e os problemas éticos. Para incluir uma diversidade de mulheres e aprofundar resultados do componente quantitativo do Nascer no Brasil II, serão realizadas 120 entrevistas narrativas. O contexto de criminalização do aborto impacta a produção de conhecimento sobre o tema, impondo desafios como conseguir acesso às mulheres, assegurar o anonimato e sua privacidade, além do sigilo das informações, gerar condições objetivas e subjetivas para que possam narrar em profundidade as suas experiências. Com este artigo, procuramos contribuir para o debate sobre esses desafios das pesquisas sobre aborto no Brasil.
En las últimas décadas, se produjo un robusto corpus de investigaciones sobre el aborto en Brasil, con diferentes diseños, objetos y metodologías. Sin embargo, debido a la diversidad de situaciones en las que las mujeres brasileñas vivencian el abortamiento, la complejidad del tema y sus modulaciones en diferentes contextos políticos y socioculturales, el tema continúa desafiando a la academia, el campo de la salud y los derechos reproductivos. En este artículo, presentamos aspectos metodológicos de un estudio cualitativo sobre los itinerarios de cuidados de la salud de mujeres en situación de abortamiento, componente de la encuesta Nacer en Brasil II, que tiene como objetivo discutir los efectos de las desigualdades de género, raza/etnia, clase social, generacionales, regionales y territoriales en esos recorridos. Discutimos el desarrollo del diseño del estudio, la construcción del marco teórico y los recortes analíticos específicos, la elaboración del instrumento de entrevista, los criterios de selección de las mujeres, las estrategias de abordaje y realización de las entrevistas, el manejo del flujo del campo y de los materiales producidos, los procedimientos analíticos y los problemas éticos. Para abarcar una diversidad de mujeres y profundizar los resultados del componente cuantitativo de Nacer en Brasil II, se realizarán 120 entrevistas narrativas. El contexto de criminalización del aborto impacta la producción de conocimiento sobre el tema, imponiendo desafíos, tales como conseguir acceso a las mujeres, asegurar su anonimato y privacidad y la confidencialidad de la información, generar condiciones objetivas y subjetivas para que puedan narrar en profundidad sus experiencias. Con este artículo buscamos contribuir al debate sobre estos desafíos de las investigaciones sobre el aborto en Brasil.
Asunto(s)
Aborto Inducido , Investigación Cualitativa , Humanos , Femenino , Brasil , Embarazo , Factores Socioeconómicos , Adulto , Accesibilidad a los Servicios de Salud , Adulto Joven , Entrevistas como AsuntoRESUMEN
The Brazilian research on abortion has pointed to the existence of a paradoxical dynamic about the event. If, on the one hand, it is a taboo subject surrounded by stigma, evidencing an apparent social invisibility of this practice, on the other hand, it is a common event in the reproductive life of women of all social classes, races, and religions, showing a culture of broad sharing of knowledge and practice on the subject. This paper is about the character of the "friend who has already aborted", which appears in narratives about the abortion experience shared publicly on an online platform, understood here as a virtual exchange community on the subject, maintained by the international NGO Women on Web. A virtual ethnography revealed that this person gains prominence in the narratives and the universe of the interpersonal social networks mobilized by women in its abortive course, relationships that stimulate reflection on the place of solidarity among women in the collectivization of knowledge and strategies and the production of a common resistance in the context of clandestinity and stigmatization underpinning the theme of abortion in the country.
Asunto(s)
Aborto Inducido , Amigos , Brasil , Femenino , Humanos , Embarazo , Estigma Social , EstereotipoRESUMEN
Nas últimas décadas, produziu-se um robusto corpus de pesquisas sobre aborto no Brasil, com diferentes desenhos, objetos e metodologias. Contudo, pela diversidade de situações em que as mulheres brasileiras vivenciam o abortamento, pela complexidade do tema e por suas modulações em contextos políticos e socioculturais distintos, o assunto não cessa de desafiar a academia, o campo da saúde e dos direitos reprodutivos. Neste artigo, apresentamos aspectos metodológicos de um estudo qualitativo sobre itinerários de cuidado à saúde de mulheres em situações de abortamento, componente da pesquisa Nascer no Brasil II, que objetiva discutir efeitos das desigualdades de gênero, de raça/etnia, de classe social, geracionais, regionais e territoriais nesses percursos. Discutimos o desenvolvimento do desenho do estudo; a construção do arcabouço teórico e recortes analíticos específicos; a elaboração do instrumento de entrevista; os critérios de seleção das mulheres; as estratégias de abordagem e condução das entrevistas; a gestão do fluxo do campo e dos materiais produzidos; os procedimentos analíticos; e os problemas éticos. Para incluir uma diversidade de mulheres e aprofundar resultados do componente quantitativo do Nascer no Brasil II, serão realizadas 120 entrevistas narrativas. O contexto de criminalização do aborto impacta a produção de conhecimento sobre o tema, impondo desafios como conseguir acesso às mulheres, assegurar o anonimato e sua privacidade, além do sigilo das informações, gerar condições objetivas e subjetivas para que possam narrar em profundidade as suas experiências. Com este artigo, procuramos contribuir para o debate sobre esses desafios das pesquisas sobre aborto no Brasil.
En las últimas décadas, se produjo un robusto corpus de investigaciones sobre el aborto en Brasil, con diferentes diseños, objetos y metodologías. Sin embargo, debido a la diversidad de situaciones en las que las mujeres brasileñas vivencian el abortamiento, la complejidad del tema y sus modulaciones en diferentes contextos políticos y socioculturales, el tema continúa desafiando a la academia, el campo de la salud y los derechos reproductivos. En este artículo, presentamos aspectos metodológicos de un estudio cualitativo sobre los itinerarios de cuidados de la salud de mujeres en situación de abortamiento, componente de la encuesta Nacer en Brasil II, que tiene como objetivo discutir los efectos de las desigualdades de género, raza/etnia, clase social, generacionales, regionales y territoriales en esos recorridos. Discutimos el desarrollo del diseño del estudio, la construcción del marco teórico y los recortes analíticos específicos, la elaboración del instrumento de entrevista, los criterios de selección de las mujeres, las estrategias de abordaje y realización de las entrevistas, el manejo del flujo del campo y de los materiales producidos, los procedimientos analíticos y los problemas éticos. Para abarcar una diversidad de mujeres y profundizar los resultados del componente cuantitativo de Nacer en Brasil II, se realizarán 120 entrevistas narrativas. El contexto de criminalización del aborto impacta la producción de conocimiento sobre el tema, imponiendo desafíos, tales como conseguir acceso a las mujeres, asegurar su anonimato y privacidad y la confidencialidad de la información, generar condiciones objetivas y subjetivas para que puedan narrar en profundidad sus experiencias. Con este artículo buscamos contribuir al debate sobre estos desafíos de las investigaciones sobre el aborto en Brasil.
In recent decades, several academic studies on abortion have been produced in Brazil, with different designs, objectives, and methodologies. However, due to the diversity of situations in which Brazilian women experience abortion, the complexity of this topic, and its modulations in different political and sociocultural contexts, it still challenges academicians and the fields of health and reproductive rights. In this article, we present methodological aspects of a qualitative study on health care itineraries of women in situations of abortion, a component of the Birth in Brazil II survey, whose objective is to discuss the effects of gender; race/ethnicity; social class; generational, regional, and territorial inequalities on care itineraries. We discuss the study design development, the construction of the theoretical framework and specific analytical axes, the development of interview instrument, definition of participant selection criteria, strategies to contact participants and conduct the interviews, management of field work and materials produced, analytical procedures, and ethical issues. In total, 120 narrative interviews were conducted in order to include a diversity of women and obtain detailed results from the quantitative analysis under Birth in Brazil II survey. The context of criminalization of abortion has an impact on the production of knowledge on this subject, creating challenges such as difficult access to women, women's anonymity, privacy and data confidentiality, creation of objective and subjective conditions so that they can narrate their experiences in depth. With this article, we seek to contribute to the debate about these challenges in abortion research in Brazil.
RESUMEN
This paper aims to analyze the narratives about abortion experiences available in an online community to discuss the methods and strategies to which women resort, facing the legal impossibility of voluntarily interrupting a pregnancy and the effects of the criminalization of induced abortion. The methodology used was virtual ethnography, observing the platform Women on Web, collection and analysis of 18 narratives publicly available without restrictions, selected between November 2016 and January 2017. The narratives report mixed methods to perform an abortion, with widespread use of Cytotec. Some cases include hospitals and medical clinics in the paths, whether to conduct examinations or attend to intercurrences. The internet appears as a popular tool to gather information, negotiate and even purchase abortive drugs, as well as a platform to share experiences. We concluded that the narratives point to insecurities, risks, and violence to which women are submitted in clandestine setting; they show the relevance of debate on decriminalizing abortion in Brazil, and also reinforce the existence of a shared abortion culture, as stated in other studies.
O objetivo deste artigo é analisar narrativas sobre as experiências de abortar disponíveis em uma comunidade online, buscando discutir os métodos e estratégias aos quais as mulheres recorrem frente à impossibilidade legal de interrupção voluntária de gravidez e os efeitos da criminalização do aborto induzido. Como método, utilizou-se a etnografia virtual, com observação da plataforma Women on Web, coleta e análise de 18 narrativas, disponíveis publicamente e sem restrições, selecionadas entre novembro de 2016 e janeiro de 2017. As narrativas informam métodos mesclados para a realização de aborto, com prevalência de utilização do medicamento Cytotec. Em alguns casos, hospitais e consultórios médicos são incluídos nos itinerários, seja para realização de exames ou para atendimento de intercorrências. A internet se revela uma ferramenta de informação, negociação e mesmo aquisição de medicamento abortivo bastante comum, além de uma plataforma de troca de experiências. Conclui-se que as narrativas sinalizam as inseguranças, riscos e violências às quais estão submetidas as mulheres no contexto da clandestinidade, indicam a importância do debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil, e também reforçam a existência de uma cultura compartilhada do aborto, já apontada em estudos anteriores.
Asunto(s)
Abortivos no Esteroideos/administración & dosificación , Aborto Criminal/estadística & datos numéricos , Aborto Inducido/estadística & datos numéricos , Misoprostol/administración & dosificación , Aborto Inducido/legislación & jurisprudencia , Adolescente , Brasil , Femenino , Humanos , Internet , Narración , Embarazo , Adulto JovenRESUMEN
Objetivo: compreender como a pandemia de COVID-19 afetou a vida e a saúde das mulheres, com ênfase nos aspectos da saúde sexual e reprodutiva, e refletir sobre os direitos sexuais e reprodutivos e a justiça reprodutiva no contexto da crise sanitária. Metodologia: utilizou-se questionário online com 113 perguntas objetivas e uma questão aberta para comentários. De 8.313 mulheres que responderam ao questionário, 1.838 relataram suas vivências durante a pandemia na questão aberta. Esse material passou por técnicas de análise narrativa e temática e de construção de memória. Resultados: evidenciou-se a ampliação das dificuldades de acesso a serviços de saúde, em especial de saúde sexual e reprodutiva; o aprofundamento das iniquidades na divisão sexual do trabalho, com sobrecarga de trabalho doméstico e profissional; a insegurança econômica; o tensionamentos das relações afetivo-sexuais e maior exposição à violência; e importantes repercussões na saúde psicoemocional. Todos esses aspectos afetaram as experiências de saúde e adoecimento; a vida sexual; e os planos e experiências reprodutivas nos primeiros anos de pandemia. Conclusão: no Brasil, na sobreposição da emergência sanitária com a crise democrática de direitos, fatos sociais e fatos fisiológicos se misturam e se totalizam na experiência histórica e material do corpo sexual e reprodutivo das mulheres, seguindo as linhas de força das precariedades e injustiças de gênero, de raça e de classe. Os relatos das mulheres contribuem para a construção de uma memória coletiva não necessariamente unívoca e linear da pandemia. Memórias que podem não apenas ilustrar o momento presente, como contribuir para o entendimento e enfrentamento de crises semelhantes futuras.
Objective: this study seeks to comprehend the impact of the COVID-19 pandemic on women's lives and health, with a particular focus on sexual and reproductive health, andto reflect on sexual and reproductive rights and reproductive justice within the context of the health crisis.Methods:employing an online questionnaire featuring 113 objective questions and one open-ended question for free comments, the study gathered responses from 8,313 women. Out of these, 1,838 utilized the open question to articulate their experiences during the pandemic. The collected material underwent analysis using narrative and thematic approaches, along with memory construction techniques.Results:the findings indicate heightened challenges in accessing health services, particularly for sexual and reproductive health. The pandemic deepened inequities in the sexual division of labor, leading to increased domestic and professional workloads, economic insecurity, elevated tensions in affective-sexual relationships, greater exposure to violence, and notable repercussions on psycho-emotional health. These factors collectively influenced women's health/illness experiences, sexual lives, and reproductive plans during the initial years of the pandemic. Conclusion: the intersection of the health crisis with a democratic crisis in rights has intertwined social and physiological factors into the historical and material experiences of women's sexual and reproductive bodies. These experiences follow the trajectories of gender, race, and class-based precariousness and injustices. Women's accounts contribute to the construction of a collective memory of the pandemic that is not necessarily uniform or linear. Beyond illustrating the present moment, these memories aid in understanding and addressing similar crises in the future.
Objetivo: comprender cómo la pandemia de COVID-19 afectó la vida y la salud de las mujeres, con énfasis en aspectos de salud sexual y reproductiva y reflexionar sobre los derechos sexuales y reproductivos y la justicia reproductiva, en el contexto de la crisis sanitaria. Metodología:se utilizó un cuestionario online con 113 preguntas objetivas y una pregunta abierta para comentarios libres al final. De 8.313 mujeres que respondieron el cuestionario, 1.838 relataron sus experiencias durante la pandemia, en este espacio abierto. Este material fue analizado mediante técnicas análisis de narrativa y temática y de construcción de memoria. Resultados: hubo aumento de las dificultades para acceder a los servicios de salud, especialmente de salud sexual y reproductiva, profundización de las inequidades en la división sexual del trabajo, con sobrecarga de trabajo doméstico y profesional, inseguridad económica, tensiones en las relaciones afectivo-sexuales y mayor exposición. a la violencia, e importantes repercusiones en la salud psicoemocional. Todos estos aspectos afectaron las experiencias de salud/enfermedad, la vida sexual, los planes y experiencias reproductivas, en los primeros años de la pandemia. Conclusión: en Brasil, en el solapamiento de la crisis sanitaria con la crisis democrática y de derechos, hechos sociales y hechos fisiológicos se mezclan y totalizan en la experiencia histórica y material de los cuerpos sexuales y reproductivos de las mujeres, siguiendo las líneas de fuerza de la precariedad y las injusticias. de género, raza y clase. Las narrativas de las mujeres contribuyen a la construcción de una memoria colectiva no necesariamente unívoca y lineal de la pandemia. Memorias que no sólo pueden ilustrar el momento presente, sino que también contribuyen a comprender y afrontar crisis futuras similares.
Asunto(s)
Derecho SanitarioRESUMEN
Objetivo: refletir sobre o acesso a serviços de saúde para infertilidade e reprodução humana assistida durante o período da pandemia de COVID-19, na perspectiva da justiça reprodutiva. Metodologia: utilizou-se dados do inquérito online da pesquisa Pandemia de COVID-19e práticas reprodutivas de mulheres no Brasil, que obteve 8.313 respostas de mulheres residentes em todas as regiões do país, de 18 anos ou mais. O questionário autoaplicável circulou entre julho e outubro de 2021, contendo questões fechadas e abertas. A análise descritiva das respostas objetivas de 242 mulheres que referiram buscar atendimento para infertilidade contou com o cálculo de frequências simples das variáveis. Já os textos escritos nos espaços abertos do questionário foram submetidos à análise temática. Resultados: o estudo verificou a existência de barreiras institucionais e não institucionais para os cuidados da infertilidade, ambas incrementadas pela pandemia. Conclusão: recomenda-se a efetivação de política pública que garanta acesso pleno a todas as pessoas, haja vista que o tratamento para infertilidade e reprodução assistida tende a se restringir a mulheres cisgênero, de camadas médias e altas, mais escolarizadas e majoritariamente brancas.
Objective: to critically examine access to health services for infertility and assisted human reproduction during the COVID-19 pandemic, emphasizing the perspective of reproductive justice. Methods: data for analysis were derived from the online survey titled COVID-19 Pandemic and Women's Reproductive Practices in Brazil, garnering 8,313 responses from women aged 18 years or older residing in all regions of the country. The self-administered questionnaire circulated from July to October 2021 and comprised both closed and open-ended questions. Descriptive analysis of the objective responses obtained from 242 women actively seeking infertility care involved the calculation of simple frequencies for relevant variables. Responses provided in the open-ended sections of the questionnaire underwent thematic analysis. Results: revealed the presence of both institutional and non-institutional barriers to infertility care, with a notable exacerbation during the pandemic. Conclusion: given that infertility and assisted reproduction treatment predominantly cater to cisgender women from middle and upper socio-economic strata, characterized by higher education levels and mostly white, there is a compelling need for the implementation of public policies that ensure equitable access for all individuals.
Objetivo: reflexionar sobre el acceso a los servicios de salud para la infertilidad y la reproducción humana asistida durante el período de la pandemia de COVID-19, desde la perspectiva de la justicia reproductiva. Metodología: se utilizaron datos de la encuesta en línea de la Pandemia de COVID-19y prácticas reproductivas de las mujeres en Brasil, que obtuvo 8.313 respuestas de mujeres residentes en todas las regiones del país, con edad igual o superior a 18 años. El cuestionario autoaplicado circuló entre julio y octubre de 2021, conteniendo preguntas cerradas y abiertas. El análisis descriptivo de las respuestas objetivas de 242 mujeres que relataron buscar atención por infertilidad implicó el cálculo de frecuencias simples de las variables. Los textos escritos en los espacios abiertos del cuestionario fueron sometidos a análisis temático. Resultados:el estudio verificó la existencia de barreras institucionales y no institucionales para la atención de la infertilidad, ambas aumentadas por la pandemia. Conclusión: se recomiendala implementación de una política pública que garantice el pleno acceso a todas las personas, dado que el tratamiento de la infertilidad y reproducción asistida tiende a estar restringido a mujeres cisgénero de clase media y alta, con mayor educación y en su mayoría blancas.
Asunto(s)
Derecho SanitarioRESUMEN
As pesquisas sobre aborto provocado no Brasil têm apontado para a existência de uma dinâmica paradoxal sobre o fenômeno. Se, por um lado, trata-se de um assunto tabu e cercado de estigma, conformando um tecido de aparente invisibilidade social para a prática, por outro é evento comum na vida reprodutiva das mulheres de todas as classes sociais, raças e religiões, indicando uma cultura de amplo compartilhamento de conhecimento e prática sobre o tema. Este artigo versa sobre a personagem da "amiga que já abortou", que aparece em narrativas sobre a experiência com aborto induzido compartilhadas publicamente em uma plataforma "online", entendida aqui como uma comunidade virtual de troca sobre o assunto, mantida pela organização não governamental internacional "Women on Web". A partir de uma etnografia virtual, percebeu-se que esta personagem ganha destaque nas narrativas e no universo das redes sociais interpessoais mobilizadas pelas mulheres no seu itinerário abortivo. Relações que estimulam a reflexão sobre o lugar da solidariedade entre mulheres na coletivização de saberes e estratégias e na produção de uma resistência comum diante do contexto de clandestinidade e estigmatização que conforma o tema do aborto no país.
Asunto(s)
Aborto Inducido , Red Social , InternetRESUMEN
Resumo O objetivo deste artigo é analisar narrativas sobre as experiências de abortar disponíveis em uma comunidade online, buscando discutir os métodos e estratégias aos quais as mulheres recorrem frente à impossibilidade legal de interrupção voluntária de gravidez e os efeitos da criminalização do aborto induzido. Como método, utilizou-se a etnografia virtual, com observação da plataforma Women on Web, coleta e análise de 18 narrativas, disponíveis publicamente e sem restrições, selecionadas entre novembro de 2016 e janeiro de 2017. As narrativas informam métodos mesclados para a realização de aborto, com prevalência de utilização do medicamento Cytotec. Em alguns casos, hospitais e consultórios médicos são incluídos nos itinerários, seja para realização de exames ou para atendimento de intercorrências. A internet se revela uma ferramenta de informação, negociação e mesmo aquisição de medicamento abortivo bastante comum, além de uma plataforma de troca de experiências. Conclui-se que as narrativas sinalizam as inseguranças, riscos e violências às quais estão submetidas as mulheres no contexto da clandestinidade, indicam a importância do debate sobre a descriminalização do aborto no Brasil, e também reforçam a existência de uma cultura compartilhada do aborto, já apontada em estudos anteriores.
Abstract This paper aims to analyze the narratives about abortion experiences available in an online community to discuss the methods and strategies to which women resort, facing the legal impossibility of voluntarily interrupting a pregnancy and the effects of the criminalization of induced abortion. The methodology used was virtual ethnography, observing the platform Women on Web, collection and analysis of 18 narratives publicly available without restrictions, selected between November 2016 and January 2017. The narratives report mixed methods to perform an abortion, with widespread use of Cytotec. Some cases include hospitals and medical clinics in the paths, whether to conduct examinations or attend to intercurrences. The internet appears as a popular tool to gather information, negotiate and even purchase abortive drugs, as well as a platform to share experiences. We concluded that the narratives point to insecurities, risks, and violence to which women are submitted in clandestine setting; they show the relevance of debate on decriminalizing abortion in Brazil, and also reinforce the existence of a shared abortion culture, as stated in other studies.
Asunto(s)
Humanos , Femenino , Embarazo , Adolescente , Adulto Joven , Abortivos no Esteroideos/administración & dosificación , Aborto Criminal/estadística & datos numéricos , Misoprostol/administración & dosificación , Aborto Inducido/estadística & datos numéricos , Brasil , Aborto Inducido/legislación & jurisprudencia , Internet , NarraciónRESUMEN
A interação que se estabelece na internet entre mulheres que passaram pela experiência de provocar um aborto e o que tal interação produz de narrativas e significados a respeito dessa experiência são os interesses desta dissertação. Mais especificamente, o objeto de pesquisa deste trabalho é o compartilhamento de depoimentos de usuárias brasileiras na plataforma online Fiz um aborto , do portal do grupo Women on Web. O texto ancora-se em uma epistemologia feminista que privilegia a maneira como sentidos e emoções se relacionam com as normas do dispositivo da maternidade, uma noção apresentada a partir das contribuições de Michel Foucault, Elisabeth Badinter, Mary Del Priore e Valeska Zanello. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem que mescla etnografia virtual, com entrevista e observação da plataforma, e análise de narrativa. Para a discussão, foram coletadas 22 narrativas da plataforma, selecionadas entre abril e setembro de 2018. As autoras das histórias são jovens entre 19 e 29 anos, de camadas médias/baixas, moradoras de centros urbanos, sendo a maioria cristã e sem filhos, e com uma ampla variedade de arranjos conjugais.
Asunto(s)
Aborto Inducido , Narración , Feminismo , InternetRESUMEN
A interação que se estabelece na internet entre mulheres que passaram pela experiência de provocar um aborto e o que tal interação produz de narrativas e significados a respeito dessa experiência são os interesses desta dissertação. Mais especificamente, o objeto de pesquisa deste trabalho é o compartilhamento de depoimentos de usuárias brasileiras na plataforma online "Fiz um aborto", do portal do grupo Women on Web. O texto ancora-se em uma epistemologia feminista que privilegia a maneira como sentidos e emoções se relacionam com as normas do dispositivo da maternidade, uma noção apresentada a partir das contribuições de Michel Foucault, Elisabeth Badinter, Mary Del Priore e Valeska Zanello. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de abordagem que mescla etnografia virtual, com entrevista e observação da plataforma, e análise de narrativa. Para a discussão, foram coletadas 22 narrativas da plataforma, selecionadas entre abril e setembro de 2018. As autoras das histórias são jovens entre 19 e 29 anos, de camadas médias/baixas, moradoras de centros urbanos, sendo a maioria cristã e sem filhos, e com uma ampla variedade de arranjos conjugais. Em um primeiro momento, a análise dos qualificadores das narrativas, com auxílio de nuvens de palavras, indicou que a experiência com aborto provocado mostra-se uma multiplicidade de experiências, em que o corpo tem protagonismo e as narrativas provocam uma implosão polifônica dos sentidos construídos em relação à experiência de abortar. Uma diversidade de significações relacionada à tensão com as disputas sociais, morais e políticas em torno do aborto, sobretudo no que dizem a respeito às expectativas sociais em relação à maternidade. O segundo momento busca identificar expressões do dispositivo da maternidade, que se revela na construção do amor materno como um dever, no papel da religião e dos discursos e práticas dos profissionais de saúde nessa construção e na percepção sobre a desigualdade de gênero em relação ao cuidado com os filhos. Por outro lado, as narrativas também expressam negociações e rupturas com o dispositivo que passam pela reinvenção de discursos, reconfiguração de moralidades religiosas, legitimação de outras maneiras de lidar com a maternidade e invenções de outras práticas, tanto de cuidado como de solidariedade entre mulheres, em que a personagem da "amiga que já abortou" se destaca. Nesses arranjos, o dispositivo da maternidade surge como tensão e a experiência comum compartilhada como um laço que produz sentidos e práticas em direção à autonomia.
Asunto(s)
Aborto Inducido , Narración , Feminismo , InternetRESUMEN
No Brasil, o aborto provocado é evento comum na vida reprodutiva de mulheres de todas as classes sociais, religiões e etnias, mas o interesse em estudar o tema a partir do que elas dizem sobre a experiência é dificultado pela criminalização do ato. Pesquisas de beira de leito têm sido hegemônicas, enquanto alguns estudos buscam estabelecer interlocução com as mulheres em locais e momentos diversos. Analisar o enfoque das pesquisas que abordam a perspectiva de quem realizou um aborto induzido no Brasil e o que esta literatura tem apontado em relação aos significados da experiência vocalizados pelas mulheres. Revisão bibliográfica de trabalhos cujo objeto são as percepções das mulheres sobre o evento do aborto, realizada nas plataformas Scielo e BVS, em agosto de 2017, com os seguintes termos e operadores booleanos: aborto and (perspectivas or narrativas or histórias or experiências or depoimentos or entrevistas) and mulheres. O primeiro resultado, de 77 artigos, foi filtrado segundo os seguintes critérios: trabalhos brasileiros, exclusão de trabalhos com foco em aborto espontâneo e aborto legal e exclusão de trabalhos cujo o objeto de análise não eram de fato as narrativas/depoimentos de mulheres. Ao final, foi realizada análise de conteúdo de 23 artigos, publicados entre 2000 e 2017. O enfoque central da discussão dos estudos se divide entre: participação/reação de parceiros e família, relação entre aborto e violência/coerção, cuidado recebido nos serviços de saúde; itinerários e métodos utilizados, e os sentimentos/significados associados ao processo pelas mulheres. As pesquisas realizadas em hospitais após o abortamento conformam a maior parte dos artigos e registram majoritariamente culpa e arrependimento como elementos preponderantes nas elaborações das mulheres. Mas em estudos cuja interlocução com as informantes se dá em outro momento/espaço, elementos como solidariedade, valorização da negociação com parceiros/família e sentimentos de alívio são trazidos à tona. Se, por um lado, o aborto provocado é um evento comum, por outro é uma experiência profundamente estigmatizada, inclusive nos hospitais. Assim, é possível que as pesquisas estejam visibilizando majoritariamente os significados que dialogam com o estigma socialmente constituído em relação ao tema. Para alcançar uma maior diversidade de significações sobre a experiência de abortar, é preciso diversificar, também, os contextos de pesquisa.