O
aborto representa um problema de
saúde pública e, sobretudo, nos países em que é clandestino,
mulheres são expostas a
riscos à saúde . O reconhecimento de desigualdades de
gênero , na experiência das
mulheres , é condição essencial para os serviços darem respostas às demandas por
cuidado na rede de
saúde . No sentido de oferecer ao
sistema de saúde subsídios para incorporação da
perspectiva de gênero às práticas, foi desenvolvida
pesquisa cujos
objetivos foram sintetizar as evidências qualitativas sobre a experiência de
mulheres submetidas a
abortamento induzido, resultante de
gravidez não planejada ; identificar
elementos de
gênero na experiência de
mulheres submetidas ao
abortamento induzido resultante de
gravidez não planejada ; construir instrumento para o
cuidado à
saúde das mulheres com
história de
abortamento , a partir de marcadores qualitativos de
gênero resultantes de
revisão sistemática . Caracteriza-se como estudo de
desenvolvimento metodológico, com abordagem qualitativa, e compreendeu três etapas. A primeira consistiu na
realização de uma
revisão sistemática da
literatura científica baseada na proposta do Joanna Briggs Institute (JBI), sobre as experiências de
mulheres submetidas ao
abortamento induzido, resultante de
gravidez não planejada . A segunda etapa consistiu em reunir os
elementos de
gênero presentes nos resultados dos estudos empíricos por convergência de temas, construindo-se categorias e a partir dessas os marcadores de
gênero para a
saúde da mulher com
história de
abortamento . A terceira correspondeu à
construção do instrumento baseado nos
elementos de
gênero identificados. Os aspectos éticos foram respeitados em todas as etapas da
pesquisa . A
revisão sistemática foi realizada a partir de 42 estudos primários dos quais foram extraídos 200 findings agrupados por congruência em 51 categorias que, por convergência temática, resultaram em 15 metassínteses. Aplicando a categoria
gênero e reorganizando as categorias, foram elaborados oito marcadores, compostos por 64
elementos de
gênero presentes na experiência de
mulheres que abortaram1) Responsabilização da
mulher pela
contracepção e pela ocorrência da
gravidez e vulnerabilidades; 2) Participação do parceiro e da
família no processo de
decisão da
mulher pelo
aborto ; 3)
Dificuldades financeiras como razão para o
aborto ; 4) Participação de
amigas /os, no processo de
decisão da
mulher pelo
aborto ; 5)
Aborto por
decisão pessoal ; 6)
Sentimentos vivenciados pelas
mulheres pós -
aborto ; 7) Atendimento
profissional de saúde no processo de
abortamento e 8)
Adoção de posição
política pela descriminalização do
aborto . Esses marcadores e
elementos foram organizados, e foram construídas perguntas que compuseram o instrumento. Considera-se que, para a incorporação da
perspectiva de gênero às práticas e a consequente implementação do instrumento construído, são necessárias a validação do mesmo e a
educação permanente junto à equipe profissional, como também desde a graduação, em especial da
enfermagem por seu lugar no espaço dos
cuidados em qualquer nível de
atenção , voltado à
integralidade do
cuidado e alinhada às
relações de gênero , temáticas que constituem eixos da
Política Nacional de
Atenção Integral à Saúde das
Mulheres .(AU)