RESUMO
A prevenção cardiovascular é tema fundamental, pois as doenças cardiovasculares que têm como substrato a aterosclerose, têm grande impacto na morbidade e mortalidade cardiovascular no Brasil e no mundo. Estima-se que 80% dos casos de doença arterial co-ronariana resultam da presença isolada ou em associação a fatores como as dislipidemias, tabagismo, hipertensão arterial, diabetes entre outros. Além disso, biomarcadores como história familiar de aterosclerose precoce, marcadores de inflamação de baixo grau como a proteína C reativa (PCR) e imagem da placa de ateroma (escore de cálcio coronário) ajudam a identificar e reclassificar o risco de doença cardiovascular. Estratégias como check-up cardiovascular ou os dos escores de risco são utilizadas na identificação do indivíduo assintomático com maior risco de desenvolver um evento agudo. O check-upcardiovascular, além de identificar os fatores de risco, inclui exames laboratoriais, testes funcionais e de imagem, o que pode implicar em custos excessivos dos exames que não agregarão valor discriminatório ou de reclassificação do risco cardiovascular. Apesar da escassez de dados, meta-análise recente não observou qualquer diferença na mortali-dade por todas as causas e cardiovascular, quanto à realização ou não dos exames de check-up de rotina. A partir da medicina baseada em evidência, diversos algoritmos foram criados para estratificação, de acordo com a presença dos fatores de risco e calibrados para a população estudada. Esses algoritmos são de simples realização e de baixo custo.A Atualização da Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose 2017 mantém a recomendação do uso do Escore Global de Risco na avalição inicial de indiví-duos assintomáticos. A revisão sistemática realizada pelo grupo Cochrane, observou que o uso dos escores de risco na prevenção primária tiveram modesto impacto na redução de eventos cardiovasculares, comparados com a não utilização. Além disso, o uso dos escores clínicos reduziu fatores de risco como colesterol elevado e hipertensão arterial, aumentou a prescrição de hipolipemiantes, anti-hipertensivos e AAS, sem evidência de danos e diminuiu a prevalência de tabagismo. Atualmente, ainda há controvérsias sobre quando e como deve ser feita a avaliação do risco cardiovascular. A literatura é clara em dizer que o uso de testes de forma indiscriminada na população não tem boa relação de custo-eficácia. Entretanto, a avaliação do risco cardiovascular pelos escores clínicos de risco pode identificar indivíduos de maior risco que serão beneficiados pela implementação de tratamentos preventivos.
Cardiovascular disease prevention is a key topic as cases with atherosclerosis as an underlying cause have a considerable impact on cardiovascular morbidity and mortality in Brazil and the rest of the world. It is estimated that 80% of coronary artery disease cases result from the individual presence or combination of factors such as dyslipidemias, smo-king, hypertension, diabetes, and others. In addition, biomarkers such as family history of early atherosclerosis, low-grade inflammatory markers such as C-reactive protein (CRP), and atheromatous plaque imaging (coronary calcium score) help identify and reclassify the risk of cardiovascular disease. Strategies such as cardiovascular check-ups or the use of risk scores are used to identify the asymptomatic patient with a higher risk of developing an acute event. Besides identifying risk factors, the cardiovascular check-up also includes laboratory, functional and imaging tests, which may involve excessive costs that will not add discriminatory value or allow the cardiovascular risk to be reclassified. Despite the lack of data, a recent meta-analysis found no difference in all-cause and cardiovascular mortality, whether or not routine check-ups were performed. According to evidence-based medicine, several algorithms have been created for stratification, depending on the presence of risk factors and calibrated for a particular study population. These algorithms are both simple and inexpensive. The Update of the Brazilian Guideline on Dyslipidemia and Atherosclerosis Prevention - 2017 recommends using the Global Risk Score in the initial assessment of asymptomatic individuals. A systematic review conducted by the Cochrane group found that the use of risk scores in primary prevention had a modest impact on the reduction of cardiovascular events compared to non-use. Furthermore, the use of clinical scores reduced risk factors such as high cholesterol and high blood pressure, increased lipid-lowering/antihypertensive drug and aspirin prescriptions, with no evidence of harmful side effects, and reduced the prevalence of smoking. There is still controversy as to when and how to assess cardiovascular risk. The literature is clear in stating that the use of indiscriminate testing in the population is not cost effective. However, the evaluation of cardiovascular risk using clinical risk scores can identify higher risk individuals who will benefit from the implementation of preventive treatments.
Assuntos
Humanos , Prevenção Primária/educação , Doenças Cardiovasculares/prevenção & controle , Doenças Cardiovasculares/epidemiologia , Aterosclerose/fisiopatologia , Artérias Carótidas/diagnóstico por imagem , Eletrocardiografia/enfermagemRESUMO
Abstract Background: Recent studies have shown a lower prevalence of metabolic syndrome (MSyn) in vegetarians (VEG) despite the inconclusive evidence from others. Objective: To verify the association between diet and other lifestyle characteristics and the prevalence of MSyn, cardiovascular risk factors (CRF), and Framingham Risk Score (FRS) in apparently healthy VEG and omnivorous (OMN) men. Methods: In this cross-sectional study, 88 apparently healthy men ≥ 35 years, 44 VEG and 44 OMN, were assessed for anthropometric data, blood pressure, blood lipids, glucose, C-reactive protein (CRP) and FRS. To test the association between lifestyle and MSyn, Student t test, chi-square test, and multiple logistic regression model were used. A significance level of 5% was considered in all statistical analyses. Results: Several CRF were significantly lower in VEG than in OMN: body mass index, systolic blood pressure, diastolic blood pressure, fasting serum total cholesterol, LDL-cholesterol, apolipoprotein b, glucose, and glycated hemoglobin (all p < 0.05). The FRS mean was lower in VEG than in OMN (2.98 ± 3.7 vs 4.82 ± 4.8, p = 0.029). The percentage of individuals with MSyn was higher among OMN than among VEG (52.3 vs.15.9%) (p < 0.001). The OMN diet was associated with MSyn (OR: 6.28 95%CI 2.11-18.71) and alterations in most MSyn components in the multiple regression model independently of caloric intake, age and physical activity. Conclusion: The VEG diet was associated with lower CRF, FRS and percentage of individuals with MSyn.
Resumo Fundamento: Estudos recentes mostraram menor prevalência de Síndrome Metabólica (SM) em vegetarianos (VEG), apesar de evidências inconclusivas de outros. Objetivo: Verificar associação entre dieta e características do estilo de vida e a prevalência de SM, fatores de risco cardiovascular (FRCV) e Escore de Framingham (EF) em homens VEG e onívoros (ONI) aparentemente saudáveis. Métodos: Neste estudo transversal, 88 homens aparentemente saudáveis ≥ 35 anos, VEG (n = 44) e ONI (n = 44), foram avaliados quanto a dados antropométricos, pressão arterial, lípides plasmáticos, glicemia, proteína C reativa e EF. Para testar associação entre estilo de vida e SM, o teste t de Student, o teste qui-quadrado e a regressão logística múltipla foram utilizados. Foi considerado nível de significância de 5% em todas as análises estatísticas. Resultados: Os níveis dos FRCV avaliados foram menores nos VEG do que nos ONI: índice de massa corporal, pressão arterial sistólica e diastólica, colesterol total, LDL-colesterol, apolipoproteína b, glicemia e hemoglobina glicada (p < 0,05). O EF foi menor nos VEG do que nos ONI (2,98 ± 3,7 vs. 4,82 ± 4,8; p = 0,029). A porcentagem de indivíduos com SM foi maior entre ONI do que entre VEG (52,3 vs.15,9%) (p < 0,001). A dieta ONI foi associada com a SM (OR: 6,28 IC95% 2,11-18,71) e alterações na maioria dos componentes da SM no modelo de regressão logística múltipla, independentemente de ingestão calórica, idade e atividade física. Conclusão: A dieta VEG foi associada com menores taxas de FRC e menores EF e porcentagem de indivíduos com SM.
Assuntos
Humanos , Masculino , Adulto , Pessoa de Meia-Idade , Doenças Cardiovasculares/epidemiologia , Síndrome Metabólica/epidemiologia , Vegetarianos , Dieta Vegetariana , Brasil/epidemiologia , Ingestão de Energia , Doenças Cardiovasculares/prevenção & controle , Índice de Massa Corporal , Antropometria , Colesterol , Prevalência , Estudos Transversais , Inquéritos e Questionários , Fatores de Risco , Síndrome Metabólica/prevenção & controle , Estilo de Vida , LDL-ColesterolRESUMO
Resumo Fundamentação: desde o primeiro posicionamento da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) sobre diabetes e prevenção cardiovascular, em 2014,1 importantes estudos têm sido publicados na área de prevenção cardiovascular e tratamento do diabetes,2 os quais contribuíram para a evolução na prevenção primária e secundária nos pacientes com diabetes. Ferramentas de estratificação de risco mais precisas, novos fármacos hipolipemiantes e novos antidiabéticos com efeitos cardiovasculares e redução da mortalidade, são parte desta nova abordagem para os pacientes com diabetes. O reconhecimento de que o diabetes é uma doença heterogênea foi fundamental, sendo claramente demonstrado que nem todos os pacientes diabéticos pertencem a categorias de risco alto ou muito alto. Um porcentual elevado é composto por pacientes jovens, sem os fatores de risco clássicos, os quais podem ser classificados adequadamente em categorias de risco intermediário ou mesmo em baixo risco cardiovascular. O presente posicionamento revisa as melhores evidências atualmente disponíveis e propõe uma abordagem prática, baseada em risco, para o tratamento de pacientes com diabetes. Estruturação: perante este desafio e reconhecendo a natureza multifacetada da doença, a SBD uniu-se à Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e à Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM), e formou um painel de especialistas, constituído por 28 cardiologistas e endocrinologistas, para revisar as melhores evidências disponíveis e elaborar uma diretriz contendo recomendações práticas para a estratificação de risco e prevenção da Doença Cardiovascular (DVC) no Diabetes Melito (DM). As principais inovações incluem: (1) considerações do impacto de novos hipolipemiantes e das novas medicações antidiabéticas no risco cardiovascular; (2) uma abordagem prática, baseada em fator de risco, para orientar o uso das estatinas, incluindo novas definições das metas da Lipoproteína de Baixa Densidade-colesterol (LDL-colesterol) e colesterol não Lipoproteína de Alta Densidade HDL; (3) uma abordagem baseada em evidências, para avaliar a isquemia miocárdica silenciosa (IMS) e a aterosclerose subclínica em pacientes com diabetes; (4) as abordagens mais atuais para o tratamento da hipertensão; e (5) recomendação de atualizações para o uso de terapia antiplaquetária. Esperamos que esta diretriz auxilie os médicos no cuidado dedicado aos pacientes com diabetes. Métodos: inicialmente, os membros do painel foram divididos em sete subcomitês para definirem os tópicos principais que necessitavam de uma posição atualizada das sociedades. Os membros do painel pesquisaram e buscaram no PubMed estudos clínicos randomizados e metanálises de estudos clínicos e estudos observacionais de boa qualidade, publicados entre 1997 e 2017, usando termos MeSH: [diabetes], [diabetes tipo 2], [doença cardiovascular], [estratificação de risco cardiovascular] [doença arterial coronária], [rastreamento], [isquemia silenciosa], [estatinas], [hipertensão], [ácido acetilsalicílico]. Estudos observacionais de baixa qualidade, metanálises com alta heterogeneidade e estudos transversais não foram incluídos, embora talvez tenham impactado no Nível de Evidência indicado. A opinião de especialistas foi usada quando os resultados das buscas não eram satisfatórios para um item específico. É importante salientar que este posicionamento não teve a intenção de incluir uma revisão sistemática rigorosa. Um manuscrito preliminar, destacando recomendações de graus e níveis de evidência (Quadro 1), foi esboçado. Este passo levou a várias discussões entre os membros dos subcomitês, que revisaram os achados e fizeram novas sugestões. O manuscrito foi, então, revisto pelo autor líder, encarregado da padronização do texto e da inclusão de pequenas alterações, sendo submetido à apreciação mais detalhada pelos membros dos comitês, buscando uma posição de consenso. Depois desta fase, o manuscrito foi enviado para a banca editorial e edição final, sendo encaminhado para publicação. Quadro 1 Graus de recomendações e níveis de evidências adotados nesta revisão Grau de recomendação Classe I A evidência é conclusiva ou, se não, existe consenso de que o procedimento ou tratamento é seguro e eficaz Classe II Há evidências contraditórias ou opiniões divergentes sobre segurança, eficácia, ou utilidade do tratamento ou procedimento Classe IIa As opiniões são favoráveis ao tratamento ou procedimento. A maioria dos especialistas aprova Classe IIb A eficácia é bem menos estabelecida, e as opiniões são divergentes Classe III Há evidências ou consenso de que o tratamento ou procedimento não é útil, eficaz, ou pode ser prejudicial Níveis de Evidência A Múltiplos estudos clínicos randomizados concordantes e bem elaborados ou metanálises robustas de estudos clínicos randomizados B Dados de metanálises menos robustas, um único estudo clínico randomizado ou estudos observacionais C Opinião dos especialistas