RESUMO
Considerando que as práticas clínicas se baseiam tanto em conhecimentos científicos como em crenças e valores nem sempre conscientes, este estudo objetiva investigar o imaginário coletivo de profissionais de saúde mental sobre o paciente psiquiátrico, na perspectiva da psicologia psicanalítica concreta. Justifica-se, portanto, desde o interesse em aperfeiçoar a qualidade do atendimento, tendo em vista tanto o benefício dos pacientes, como a melhoria das condições de exercício profissional. A partir de uma entrevista psicológica coletiva, articulada ao redor do uso do Procedimento de Desenhos-Estórias com Tema, abordamos sete profissionais de nível superior que trabalham em equipamento de saúde mental. A consideração do material permitiu a produção interpretativa de dois campos de sentido afetivo-emocional: "Sofredores psicóticos" e "Impostores dependentes". O quadro geral apresenta a coexistência de visões solidárias e éticas diante do psicótico com visões preconceituosas e hostis em relação ao dependente químico. Esse contraste se baseia sobretudo na dificuldade em perceber que a base motivacional do uso da droga seria o sofrimento emocional. Como um todo, esse cenário permite pensar que a reforma psiquiátrica gerou transformações que promovem acolhimento, mas que ainda permanecem estigmas a serem superados.
Considering that clinical practices are based both on scientific knowledge and on beliefs and values that are not always conscious, this study aims to investigate the collective imagination of mental health professionals about the psychiatric patient, from the perspective of psychoanalytic concrete psychology. The importance of this study lies on the interest in improving the quality of care, considering both the benefit of patients and the improvement of professional practice conditions. Based on a collective psychological interview, articulated around the use of the Thematic Story-Drawing Procedure, we approached seven higher education professionals who work in mental health service. Consideration of the material allowed the interpretative production of two affective-emotional fields of meaning: "Psychotic sufferers" and "Dependent impostors". The overall picture shows the coexistence of sympathetic and ethical views toward the mentally psychotic with prejudiced and hostile views toward the drug-dependent. This contrast is mainly based on the difficulty in realizing that the motivational basis for drug use would be emotional suffering. As a whole, this scenario allows us to conclude that the psychiatric reform has brought about transformations that promote acceptance, but that stigmas to be overcome still remain.