RESUMEN
-A construção dos hábitos alimentares infantis pode ser influenciada pela disponibilidade dos alimentos presentes nos domicílios. Não se sabe o quanto os pais modificam seu padrão de compra de alimentos para mais saudáveis quando há crianças em casa. Esta informação é importante para avaliar a percepção dos pais sobre a influência do ambiente domiciliar na formação de hábitos alimentares saudáveis em seus filhos. A renda familiar é uma variável que pode ter efeito na modificação dos hábitos alimentares dos pais, uma vez que reflete os recursos financeiros disponíveis para compra de alimentos. Investigar a aquisição de alimentos no Brasil em dois períodos com dez anos de diferença possibilita avaliar o efeito macroeconômico do engajamento dos pais na alimentação de seus filhos, uma vez que o país experimentou momentos econômicos distintos na última década. A fim de comparar a aquisição de alimentos saudáveis e não saudáveis em domicílios com e sem crianças no Brasil este estudo utilizou os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) conduzidos pelo IBGE, no Brasil, em seus inquéritos de 2008-2009 e 2017-2018. Os domicílios foram classificados em: i) presença ou não de crianças de um a cinco anos de idade e ii) maiores de cinco anos até dez anos de idade. Foram considerados todos os domicílios que compunham as amostras: 55.970 (POF 2007-2008) e 69.660 (POF 2017-2018), sem distinção por macrorregião ou zona urbana e rural, assim representando todo o território brasileiro. Os grupos de alimentos utilizados foram constituídos a partir das adaptações de agregados estipulados pela POF nas duas edições do inquérito. Foram estimadas as médias per capita em quilogramas da aquisição (Kg) de frutas, vegetais, refrigerantes e biscoitos num período de 7 dias consecutivos (uma semana). As diferenças das médias per capita da aquisição (Kg) dos alimentos entre domicílios com e sem criança foram estimadas por modelos de regressão de duas partes, combinando um modelo de regressão logística e um modelo linear generalizado de distribuição gama para valores positivos de aquisição, em função da distribuição assimétrica e inflada de zeros para compra de alguns itens alimentares. As análises foram estratificadas por quartos de renda domiciliar per capita, com ajustes pelo sexo e idade do morador de referência do domicílio, número de bebês, adolescentes, adultos e idosos vivendo no domicílio, e gasto mensal com alimentação. A comparação entre as médias de aquisição de alimentos entre os domicílios com e sem crianças foi dada pela intersecção dos intervalos de confiança de 95% e levou-se em consideração o peso amostral e o desenho complexo das POF. A média de aquisição de frutas em 2008-2009 foi maior nos domicílios com crianças das duas faixas etárias nos domicílios mais pobres. Em 2017-2018, a média de aquisição de frutas foi maior entre os domicílios com crianças de cinco a dez anos de idade pertencentes aos estratos socioeconômicos mais ricos. A compra de vegetais diferiu para menos em domicílios com crianças de 5-10 anos nos dois períodos. Houve uma maior média de aquisição per capita de biscoitos nos domicílios com crianças de todas as classes de rendimentos, em ambos os períodos avaliados.
The construction of children's eating habits can be influenced by the availability of food at the home. It's not known how much parents change their pattern of food purchase when there are children at household. That information is important in order to assess parents' perception of the home environment influence in the construction of healthy eating habits at their children. It's possible that family income have an effect on parents' eating habits, once reflects the financial resources available to food purchase. Investigating the food purchase in Brazil in two periods with ten years of diference leads to assess the macroeconomic effect of parental engagement in children's eating habits, since the country has experienced different moments in the last decade. In order to compare the food disponibility in households with and without children, this study utilized data from the Household Budget Surveys (POF) conducted by the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE), in Brazil, surveys 2008-2009 and 2017- 2018. The households were categorized into: i) presence or not of children aged between one and five years old and ii) children aged five and ten years old. The sample considered was 55,970 (POF 2007-2008) and 69,660 (POF 2017-2018). The food groups used were constituted from the recommendations of aggregates previously stipulated by the POF in the two editions of the survey. The means per capita were calculated in kilograms of purchase (Kg) of fruits, vegetables, soft drinks and cookies, over a period of 7 consecutive days (one week). Diferences in of food means per capita purchase (Kg) between households with and without children were estimated by using two-part regression models, that combines a logistic regression model and a generalized linear model with gamma distribution for positive values ââof purchase, in function of the asymmetric and zero-inflated distribution for purchase of some food items. The analyzes were stratified by income quartiles per capita. With adjustments for sex and age of the household's main resident, number of babies, adolescents, adults and elderlys living in the household, and monthly expenditure on food purchase. The comparison between the means of food purchase between households with and without children was given by the intersection of the 95% confidence intervals, considering the weight sample. The means per capita purchase (Kg) of fruit in 2008-2009 was higher in households with children of both age groups in the poorest households. In 2017-2018, the average purchase of fruit was higher among households with children between five and ten years of age belonging to the elevates socioeconomic stratas. The purchase of vegetables were less in households with children aged 5-10 years in both periods. There was a higher purchase of cookies in households with children of all income classes, in both periods.