RESUMO
Resumo Realizamos uma análise genealógica da Prevenção Quaternária, instrumento da Atenção Primária à Saúde de enfrentamento à medicalização e a iatrogenia, a partir de seus enunciados e de entrevistas com seus formuladores. Identificamos que a ferramenta tem sido tanto apresentada como uma reformulação do cuidado e da relação médico-paciente, como também reduzida ao cálculo do risco-benefício por meio da aplicação atualizada de evidências científicas. Analisamos os paradoxos da Medicina Baseada em Evidências e problematizamos sua relação com a Prevenção Quaternária e a Atenção Primária à Saúde. Por fim, sugerimos questionar a verdade das evidências para o desenvolvimento de outros paradigmas de saúde.
Abstract We conducted a genealogical analysis of quaternary prevention, an instrument of primary health care to address overmedicalization and iatrogenesis, based on related statements and interviews with the creators of this concept. This tool has been used in the reformulation of care and the doctor-patient relationship, but limited to the risk-benefit assessment by using current scientific evidence. In this study, we analyze the paradoxes of evidence-based medicine (EBM) and discuss the relationship of EBM and quaternary prevention and primary health care (PHC). Finally, we suggest questioning the truth of the evidence for the development of other health paradigms.
RESUMO
Resumo A Saúde Coletiva brasileira analisou frequentemente o neoliberalismo como um fenômeno de esvaziamento do papel do Estado e de ameaça à saúde pública e universal. Tomando como subsídio o pensamento governamental de Foucault, discutimos o neoliberalismo como uma profunda metamorfose, não apenas do Estado, mas dos modos de produção de saúde. Enquanto atualização permanente do liberalismo, o governo neoliberal modifica as fronteiras entre público e privado e fabrica novas formas de normalidade, risco e subjetividade, progressivamente subordinados à verdade da economia e do mercado. Esta racionalidade econômica cria ideais de saúde inspirados em técnicas gerenciais de empresas e produz novas verdades biológicas, sanitárias, psicológicas. Restrita a "empresários bem-sucedidos de si mesmos", a saúde pode se transformar em uma escolha moral e econômica em relação ao comportamento e ao risco individual, desresponsabilizando o Estado e criando um tipo de cidadania econômica destituída de solidariedade. Contudo, o jogo em torno de instituições e práticas de saúde não empresariais segue em aberto. Cabe-nos colocar em dúvida as formas de vida "responsáveis" e "seguras" que foram inventadas para nós, e desenvolver outras governamentalidades menos excludentes e desiguais em relação às que temos naturalizado e praticado.
Abstract Brazilian Public Health has often analyzed neoliberalism as a phenomenon of emptying the role of the State and a threat to public and universal health. Taking Foucault's governmental thought as a subsidy, we discuss neoliberalism as a profound metamorphosis, not only of the State, but of health production. As a permanent update of liberalism, the neoliberal government changes the boundaries between public and private and produces new forms of normality, risk and subjectivity, progressively subordinate to the truth of the logic of the economy and the market. This economic rationality creates new ideals of health, inspired by management techniques of corporations, and produces new biological, sanitary, psychological truths. Restricted to "successful self-entrepreneurs", health may become a moral and economic choice in relation to individual behavior and risk, making the State not responsible and creating a type of economic citizenship devoid of solidarity. However, the game around non-corporate health institutions and practices remains open. It is up to us to question the "responsible" and "safe" life forms that were invented for us and to develop other governmentalities that are less excluding and unequal compared to those that we have naturalized and practiced.
Assuntos
Política , Estado , Governo , Política de Saúde , BrasilAssuntos
Humanos , Filosofia , Política , Estado , Sociedade Civil , Política Pública , Seguridade Social , Resenhas de LivrosRESUMO
Este livro versa sobre um encontro entre a rua e a universidade, especificamente, entre o Consultório na Rua da cidade de Campinas e o Coletivo de Pesquisa Conexões, do Departamento de Saúde Coletiva da Unicamp, cotejado por encontros semelhantes no Rio de Janeiro e em São Luís, no Maranhão. Retenho da leitura o tanto que encontros como esses podem transformar concepções de extensão universitária, de rua, de cuidado, de ação política. Não há, em nenhum dos textos aqui apresentados, a ideia unidirecional de que extensão universitária seja levar o conhecimento produzido na universidade para a população em situação de rua, ou para as equipes que atuam junto a ela. Depreende-se, de outra via, que saberes são construídos nas relações com as ruas, com as pessoas que nelas circulam e com a vida que nela se produz.
Assuntos
Atenção Primária à Saúde , Política Pública , Sistema Único de Saúde , Saúde Pública , Terapias Sensoriais através das Artes , Leitura , Pessoas Mal Alojadas , ConhecimentoRESUMO
A Rede de Pesquisa em Atenção Primária à Saúde (Rede APS) vem buscando, nos últimos oito anos, a participação, o acesso e o intercâmbio de conhecimento científico nacional e internacional sobre Atenção Primária à Saúde (APS) entre pesquisadores, gestores e trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS). Apresenta-se o contexto de seu surgimento, uma análise cronológica de seus principais marcos históricos e sua relação com o desenvolvimento e com a avaliação de políticas brasileiras de atenção básica. Realizou-se uma análise documental de publicações on-line, documentos oficiais e atas de reuniões e entrevistas com personagens ligados à criação e ao desenvolvimento da Rede. A Rede APS participou diretamente da avaliação de políticas centrais à estruturação da atenção básica brasileira, com destaque para o apoio ao Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica, a difusão de pesquisas sobre o Programa Mais Médicos e dos debates críticos sobre a reformulação da Política Nacional de Atenção Básica. A partir de iniciativas como essa e buscando fortalecer o diálogo e o intercâmbio entre gestores, trabalhadores e pesquisadores do SUS, a Rede pode seguir exercendo um papel relevante na estruturação e na avaliação da APS no País.(AU)
Research Network on Primary Health Care (Rede APS) has been seeking for the last 8 years the participation, access and exchange of national and international scientific knowledge on Primary Health Care (APS) among researchers, managers and workers of Unified Health System (SUS). We present the context of its emergence, a chronological analysis of its main historical events and its relationship with the development of policies related to Brazilian APS. We have carried out a documentary analysis of online publications, official documents and meeting reports and interviews with actors related to its creation and development. Rede APS had an important influence on the evaluation of the National Program for Access and Quality Improvement in Primary Health Care (PMAQ-AB), the dissemination of research on the More Doctors Program and in the critical debates about the reformulation of the National Policy of Primary Health Care (PNAB). Based on initiatives such as this one and seeking to strengthen the dialogue and exchange among managers, workers and researchers, this network can continue to play a relevant role in structuring and evaluating APS in Brazil.(AU)
Assuntos
Atenção Primária à Saúde , Qualidade da Assistência à Saúde , Sistema Único de Saúde , Melhoria de Qualidade , Pesquisa sobre Serviços de Saúde/normas , Brasil , Programas Nacionais de SaúdeRESUMO
Resumo Realizamos uma análise crítica sobre a formação discursiva da Medicina de Família e Comunidade (MFC). A MFC é pensada como uma prática atravessada por relações políticas e sociais e que se produz historicamente enquanto uma formação discursiva, através de um jogo complexo e aberto entre os diversos atores, que compreendem, formulam e disputam o formato e o sentido dessa prática. Investigamos essa formação com base em revisão bibliográfica e análise do discurso de documentos que descrevem a emergência da MFC e de entrevistas com personagens ligados diretamente a ela. Pudemos identificar que a formação discursiva da MFC é atravessada pelas histórias da prática médica generalista, familiar e comunitária; da estruturação da Atenção Primária em Saúde; dos programas de Medicina Comunitária; e da formação da Saúde Coletiva no Brasil. Além disso, encontra-se atrelada ao campo científico da medicina generalista e familiar internacional e a sua afirmação como especialidade médica. Enquanto sociedade científica, vem apresentando dubiedades no que se refere às pautas históricas do movimento sanitário e na defesa de um sistema de saúde público, universal e antiprivatista. No entanto, para evitar cristalizações institucionais, entendemos ser necessário pensar a MFC como um campo heterogêneo e sem uma história única.
Abstract We performed a critical analysis on the discursive formation of Family and Community Medicine (FCM). FCM is thought of as a practice crossed by political and social relations that takes place historically as a discursive formation, through a complex and open game between the various actors, who understand, formulate and dispute the format and meaning of this practice. We investigated this training based on bibliographic review and discourse analysis of documents that describe the emergence of FCM and interviews with individuals directly linked to it. We were able to identify that the discursive formation of the FCM is traversed by the histories of general medical practice, family and community; the structuring of Primary Health Care; of Community Medicine programs; and the formation of Collective Health in Brazil. In addition, it is linked to the scientific field of general medicine and international family and its affirmation as a medical specialty. As a scientific society, it has been presenting doubts regarding the historical guidelines of the health movement and the defense of a public, universal and anti-privatization health system. However, in order to avoid institutional crystallization, we believe it is necessary to think of FCM as a heterogeneous field and without a single history.