Estudo da dislipidemia em pacientes com síndrome da apneia obstrutiva do sono: relação entre a gravidade da apneia obstrutiva do sono e dislipidemia / Study of dyslipidemia in patients with obstructive sleep apnea syndrome: relationship between the severity of obstructive sleep apnea and dyslipidemia

RESUMO

Atualmente, sabe-se que o sono é um estado ativo de regeneração e essencial para as funções fisiológicas do ser humano. Existem vários distúrbios do sono e um dos mais prevalentes é a Síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS) definida por episódios recorrentes de hipopneia ou apneia durante o sono, seguidas por esforço respiratório, em consequência da obstrução de vias aéreas superiores. Esses eventos geram alterações abruptas na pressão arterial, hipóxia intermitente, aumento das citocinas inflamatórias, estresse oxidativo, alterações endoteliais e desregulação do metabolismo lipídico, favorecendo a concepção de um ambiente aterogênico e ao aumento do risco cardiovascular, o que justifica a investigação de dislipidemia nesses pacientes. A terceira edição da Classificação Internacional dos Transtornos do Sono classifica a SAOS em leve, moderada e grave a depender do número de eventos respiratórios por hora de sono durante a polissonografia. Um dos objetivos desse trabalho é investigar se há uma associação diretamente proporcional entre a gravidade da SAOS e o risco de dislipidemia através da análise do prontuário de pacientes apneicos atendidos entre julho de 2014 a junho de 2019 no ambulatório de sono do HSPM, orientando a prática assistencial desenvolvida na instituição. A amostra foi constituída por 74 pacientes com SAOS. Desses, 64 pacientes (86,5%) eram dislipidêmicos, mas apenas 27 (42,2%) realizavam tratamento hipolipemiante no período da primeira consulta. Os pacientes com distúrbio do metabolismo lipídico foram subdivididos em grupos segundo a gravidade da SAOS e aplicou-se testes estatísticos para analisar as proporções de ocorrência de dislipidemia e sua associação com o nível de apneia. A chance de dislipidemia em pacientes com SAOS grave foi 3.22 vezes maior em comparação ao grupo com apneia moderada. Calculouse um p-valor de 0,18 (maior que 0,05), que não descarta a hipótese de associação entre SAOS e dislipidemia, mas sugere que a sua prevalência não é proporcional ao nível de gravidade da apneia. A desregulação do metabolismo lipídico constitui um dos pilares da base patogênica da aterosclerose. Diante dos dados obtidos neste estudo e da revisão da literatura, sugere-se a prática de alta suspeição na identificação de indivíduos com SAOS, o diagnóstico precoce de dislipidemia e ações que aumentem a adesão do paciente ao tratamento hipolipemiante, prática crucial para correta definição das metas terapêuticas individuais e prevenção das complicações cardiovasculares. Palavras-chave Apneia Obstrutiva do Sono; Transtornos do Metabolismo dos Lipídeos; Hipóxia; Estresse Oxidativo; Fatores de Risco de Doenças Cardíacas.