A remedicalização da Psiquiatria: uma reflexão crítica sobre a revolução nosológica do DSM-III / The Psychiatry remedicalization: the critique reflection about revolution nosoly DSM -III

RESUMO

Este trabalho parte de um viés de análise crítico acerca da hegemonia do paradigma biológico no campo psiquiátrico contemporâneo e suas conseqüências no tocante à psiquiatrização do social. Os dois primeiros capítulos traçam um histórico do fisicalismo em psiquiatria, desde os seus primórdios, que se remete à psiquiatria organicista do fim do século XIX, até a psiquiatria contemporânea (dita ôbiológicaö ou ôremedicalizadaö), que teve sua hegemonia no campo psiquiátrico ocidental consolidada na última década do século passado. Pretende-se expor os três movimentos que se sucederam cronologicamente na história da psiquiatria, desde sua ômedicalizaçãoö, operacionalizada pela psiquiatria organicista, passando pela sua ôdesmedicalizaçãoö, proporcionada pela psiquiatria dinâmica e pelo movimento da reforma psiquiátrica, no pós-guerra - descritos no primeiro capítulo -, até sua ôremedicalizaçãoö, empreendida pela psiquiatria biológica - para a qual se reserva o segundo capítulo. O terceiro capítulo descreve as vicissitudes da nosologia psiquiátrica norte-americana, a partir da série de seu manual oficial - o ôManual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentaisö (DSM, sigla em inglês), patrocinado pela ôAssociação Psiquiátrica Americanaö (APA) -, que culminaram na remedicalização da psiquiatria, a partir do DSM-III, publicado em 1980. Finalmente, o quarto capítulo aponta o papel crucial do complexo industrial farmacêutico na difusão da nova nosologia proposta pelo DSM-III. Assinala-se, ainda, algumas conseqüências da atual hegemonia do paradigma biológico em psiquiatria, principalmente no tocante à psiquiatrização do social, através da medicalização dos comportamentos normais