Levantamento de dados para estudo dos fatores associados à falha terapêutica em hanseníase / Data collection to study the factors associated with failure leprosy therapy

RESUMO

A Hanseníase é uma doença infectocontagiosa de caráter crônico, evolução lenta, causada pelo Mycobacterium leprae (M. leprae). A transmissão ocorre por meio do trato respiratório, e para o desenvolvimento da doença existe a necessidade da susceptibilidade, além do contato íntimo e prolongado. Para fins terapêuticos a Organização Mundial da Saúde (OMS) traz uma classificação mais simples que é baseada no número de lesões cutâneas. Os casos com até cinco lesões são considerados paucibacilares e aqueles com mais de cinco lesões são multibacilares. Apesar da implantação da poliquimioterapia (PQT) pela OMS ter sido um importante avanço técnico na história do controle da doença, em 2019 ainda foram notificados 202.185 novos casos no mundo, sendo o Brasil o segundo em concentração de casos. Um indicador importante para o controle da hanseníase são as taxas de retratamento, definido como nova notificação de hanseníase em paciente que já tenha recebido tratamento anterior, suas causas incluem abandono, insuficiência terapêutica, falência terapêutica, alteração de esquema por erro diagnóstico e recidiva. Embora um grande número de casos de recidivas seja detectado no Brasil, apenas 8,4%, 13,3% e 1,9% dos casos podem ser explicados por mutações que sabidamente conferem resistência bacilar aos medicamentos utilizados na PQT rifampicina (RFP), dapsona (DDS) e ofloxacina (OFLO), respectivamente. Além dos aspectos relacionados ao patógeno, a contribuição do hospedeiro para esse cenário, apesar de pouco estudada, deve ser de grande importância. No geral a resposta ao medicamento é variável entre indivíduos, ocasionando falta de eficácia farmacológica ou reação adversas, em partes esses eventos podem ser explicados pela farmacogenética. Conhecer fatores genéticos que interferem no metabolismo dos medicamentos pode contribuir para melhores resultados terapêuticos. Dentre os desafios para atingir a eliminação da hanseníase estão a ausência de novas ferramentas de diagnóstico e de entendimento das causas associadas a recidiva e à não adesão a PQT, uma vez que a resistência medicamentosa explica pouco da reativação da doença, deste modo, o presente estudo teve como finalidade constituir banco de dados em hanseníase para estudos de associação do tipo caso-controle sobre os fatores associados com a falha terapêutica da PQT convencional. Dos 240 prontuários avaliados, 119 foram classificados como casos de falência terapêutica ou recidiva e 121 como sucesso terapêutico, aqui denominados como controles, a maioria dos pacientes era do sexo masculino, branco e procedente do estado de São Paulo; Em relação à faixa etária de diagnóstico, 18% foram diagnosticados com idade entre 40 e 49 anos, enquanto nos controles 14% tiveram diagnóstico com idade inferior a 19 anos; quanto à forma clínica da doença, 59% dos casos e 47% dos controles foram classificados como virchoviano. Dentre os casos de falência terapêutica ou recidiva, a resistência molecular explicou apenas 5,8 % dos casos de retratamento. Esse dado reforça a urgência de estudos que esclareçam as causas da falha terapêutica em hanseníase, contribuindo assim para o estabelecimento de medidas que visem o alcance de melhores índices relacionados aos desfechos terapêuticos.(AU)

ABSTRACT

Leprosy is a chronic infectious disease with insidious evolution, caused by Mycobacterium leprae (M. leprae). Transmission occurs through the respiratory tract, and the onset of the disease depends on susceptibility, in addition to intimate and prolonged contact with untreated patients. For therapeutic purposes, the World Health Organization's (WHO) classification is based on the number of skin lesions. Cases with up to five lesions are considered paucibacillary and those with more than five lesion are multibacillary. Although the implementation of multidrugtherapy (MDT) by WHO was an important technical advance in the history of disease control. In 2019, 202,185 new cases were reported in the world, with Brazil the second in the highest number of cases. An important indicator for the control of leprosy is retreatment rate, defined as a new notification of leprosy in a patient who has already received previous treatment. Its causes include abandonment, therapeutic failure, , alteration of the regimen due to diagnostic error and relapse. Although a large number of cases of relapses are detected in Brazil, only 8.4%, 13.3% and 1.9% of cases can be explained by mutations that are known to confer bacillary resistance to drugs used in the MDT rifampicin (RFP), dapsone (DDS) and ofloxacin (OFLO), respectively. In addition to aspects related to the pathogen, the host's contribution to this scenario, although little studied, is highly important. In general, the response to the drug treatment is variable between individuals, causing a lack of pharmacological efficacy or adverse reactions. , These events may be explained by pharmacogenetics. Knowing genetic factors that interfere with drug metabolism can contribute to better therapeutic results. Among the challenges to achieve leprosy elimination are the absence of new diagnostic tools and understanding of the causes associated with relapse and non-adherence to MDT, since drug resistance explains little about the reactivation of the disease. Thus, the present study aimed at constituting a leprosy database for case-control association studies on factors associated with conventional MDT therapeutic failure. Of the 240 medical records evaluated, 119 were classified as cases of therapeutic failure or relapse and 121 as therapeutic success, here referred to as controls. The majority of patients were male, white and from the state of São Paulo. Regarding the age of diagnosis, 18% were diagnosed between 40 and 49 years, while in controls, 14% were diagnosed under 19 years; as to the clinical form of the disease, 59% of the cases and 47% of the controls were classified as lepromatous. Among the cases of therapeutic failure or relapse, molecular resistance explained only 5.8% of retreatment cases. This data reinforces the urgency of studies that clarify the causes of therapeutic failure in leprosy, thus contributing to the establishment of measures aimed at achieving better therapeutic outcomes(AU).