Como patologista, uso com grande freqüência a palavra necropsia (substantivo feminino). No entanto, nunca entendi por que ela aparece sem acento nos dicionários, bem como no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras, o mais importante registro da norma culta do Português em nosso País. Quando pronunciamos essa palavra, a sílaba tônica é a que contém o fonema "ó"; assim, deveria ser acentuada - como de fato acontece com palavras correlatas, tais como biópsia e autópsia, por um lado, e necrófilo, por outro.A flexibilidade herdada do latim, julgo eu, que ainda hoje explica a coexistência, em nossa língua, de formas variantes de diversos vocábulos de origem grega, divergentes entre si apenas na acentuação tônica. A tendência, naturalmente, é que, em português, os acentuemos à latina - e daí necrópsia, autópsia, escola, retórica, crônico, Cleópatra. Vezes há, porém, em que a acentuação à grega também pode ocorrer paralelamente à latina e daí autopsia, necropsia, Cleopatra etc., formas estas também corretas, posto que menos usadas do que as outras.