RESUMO
Este texto trata do encontro de dois intelectuais provocado pelo exílio de um deles, seguido do exílio de outro. Os exílios de Darcy Ribeiro (1922-1997) e Ángel Rama (1926-1983) se deram em momentos distintos e em países diferentes. O de Darcy Ribeiro começano Uruguai em 1964. Data dali seu encontro com Ángel Rama. Permanece em Montevidéu até 1968, quando retorna ao Brasil acreditando em notícias sobre a liberalização do regimepolítico decorrente do Golpe de 1964. Três meses após sua chegada, em dezembro de 1968, o governo militar decretou o Ato Institucional N.5, documento que instaura o período maisviolento da ditadura. Darcy Ribeiro é preso, até que, em 1969, absolvido dos crimes pelos quais havia sido acusado, foi convidado pelos militares para deixar o Brasil. O exílio agoraserá na Venezuela onde novamente se encontra com Ángel Rama. Curto período. Em 1970 deixa a Venezuela, seguindo para o Chile e o Peru, retornando ao Brasil definitivamente em 1976. Esse período entre 1964 e 1976 constitui a que poderia ser considerada sua experiência latino-americana mais forte com consequências fundamentais para a ampliação do universo reflexivo sobre o Brasil, consolidando nele o que cultivava como pertencimento latino-americano. (AU)
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Humanos , Cultura , Política , América LatinaRESUMO
O trabalho procura comparar o entrelaçamento dos temas planejamento, desenvolvimento e democracia na produção intelectual de Furtado e Echavarría no período dos anos 1950/1960 ˗ período áureo da temática do subdesenvolvimento. Partimos da constatação que a explic ação do subdesenvolvimento, a compreensão da relação entre economia e instituições políticas assumiu arranjos diversos na obra dos dois autores, como também os temas do desenvolvimento econômico, desenvolvimento político, planejamento e democracia. Nossa hipótese é que a filiação ao campo cepalino aproximava Furtado e Echavarría em termos de agenda temática e no reconhecimento da situação tardo-capitalista e periférica da América Latina, mas com interpretações distintas, dada a escolha da vertente teórica-chave: o viés da economia política em Furtado e o viés da cultura e do ethos em Echavarría. Nossa questão é apontar semelhanças e diferenças nas duas teses, e compreender como, por vias distintas, os autores chegaram a uma defesa estratégica da democracia.(AU)
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Economia , Política , Democracia , América LatinaRESUMO
Articulando os temas do desenvolvimento, das desigualdades sociais, da autodeterminação dos povos e da constituição de um sistema científico e tecnológico, interessa descortinar o lugar da universidade pública na utopia latino-americana emefervescência nos anos 1960 e 1970. Partindo da experiência emblemática de criação, em 1962, da UnB em Brasília sob a liderança de Darcy Ribeiro, inspirado em seu mestre Anísio Teixeira, e de seus enfrentamentos que culminaram na dissolução de seu projeto original pelo Golpe de 1964, examino a relevância das propostas nela contidas na atualidade assim como proponho o diálogo com o pensamento emancipatório no continente sob a rubrica da modernidade-colonialidade-decolonialidade que aprofunda o papel da universidade pública na reescrita da história, no reconhecimento das vozes subalternas e na perseguição da utopia, uma pluritopia, a começar no tempo presente.(AU)
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Humanos , Pensamento , Universidades , América LatinaRESUMO
Apoiados na noção de sequências cognitivas como recurso metodológico crucial para se apreender processos de adensamento e reelaboração intelectual (Botelho, 2007; Brasil Jr., 2007; Carvalho, 2010; Hoelz, 2010), procuramos analisar o encaminhamento próprio de Franco à problemática destacada, realizando um duplo movimento, no qual se enfatiza não apenas sua dimensão diacrônica, valorizando o papel das mediações no seu recurso ao repertório intelectual pretérito, mas também como este assume significado no seu contexto sincrônico, isto é, inscrito num campo de interlocução contemporâneo mais amplo. Esta abordagem permite delinear continuidades decisivas embora não necessariamente articuladas de modo explícito em torno de questões centrais da sociedade brasileira, bem como perceber como Franco introduz descontinuidades cruciais por dentro dos próprios desdobramentos analíticos que direta ou indiretamente realiza.(AU)
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Ciências Sociais/história , Ciências Sociais/tendências , Sociologia/história , Pensamento/classificação , História , BrasilRESUMO
Como se sabe, a obra de Afonso Arinos de Melo Franco impõe um grande número de desafios aos seus intérpretes, quer seja por sua extensão afora os livros, são quase inumeráveis seus artigos, conferências, discursos e intervenções na cena pública nacional e internacional quer pelo fato do autor ter transitado por temáticas variadas, áreas do conhecimento e formas discursivas diversas. Procurarei enfrentar essas dificuldades lidando com o pensamento deste intelectual mineiro e homem do mundo através dos seus relatos de viagens para destacar alguns aspectos pouco explorados pela bibliografia pertinente, que são os do seu diálogo com o modernismo e da sua relação com a cultura nacional.(AU)
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Cultura , Antropologia Cultural , Características Culturais , História , Expedições , BrasilRESUMO
Defendendo a relevância da produção intelectual de Darcy Ribeiro (1922-1997), postulo que já se encontravam presentes na obra darcyniana proposições capazes de contribuir para uma crítica descolonizadora das ciências sociais latino-americanas. Entendo, assim, que Darcy Ribeiro, como intelectual público, participava do esforço coletivo de explicar e (re)criar o país e o continente ao mesmo tempo em quês e deicava à escrita de seus estudos de antropologia da civilização inaugurado, em 1968, com O Processo Civilizatório e As Américas e a Civilização. Recusando a ideia de sequência evolutiva linear, enfatizando as rupturas, Darcy Ribeiro aderia à dialética e à proposta de evolução multilinear que abria um campo de possibilidades ilimitadas e imprevisíveisna história dos povos. Tentou, marxista à sua maneira, ensaiar uma tipologia das configurações históricas de maneira a ampliar os cânones explicativos da modernidade, numa perspectiva que antecipa, nalgum sentido, algumas orientações pós-coloniais. Aqui, ouso destacar Walter Mignolo e seu pensamento liminar, a fim de suscitar um diálogo possível entre estudiosos de tempos diferentes. Acentuo o esforço de deslocamento de formas hegemônicas do conhecimento na obra de ambos, bem como o descontentamento com os modelos civilizatórios até então impostos.(AU)
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Humanos , Antropologia , CivilizaçãoRESUMO
Esta apresentação tem por objetivo analisar o conceito de raça tal como foram empregados pelo cubano JoséMartí (1853-1895) em diferentes contextos. Na primeira parte da apresentação, o uso deste conceito (ou a sua ausência) é analisado no contexto da elaboração de um discurso político que unificasse os diferentes grupos da sociedade cubana em prol da luta por independência contra a Espanha.A segunda é dedicada a pensar a relação do conceito de raça com o discurso político americanista, em dois momentos, antes e depois da formulação mais concisa da negaçãoda importância política do conceito de raça. E abordada na terceira parte uma análise da questão racial, tal como elaaparece na narrativa de Martí acerca de uma experiência educacional da qual ele fez parte na condição de exilado em Nova York, o clube literário La liga, reunião de cubanos exilados aonde eram realizadas diversas atividades culturais e educacionais aonde interagiam brancos e negros.(AU)
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Humanos , Política , Educação , CulturaRESUMO
Este trabalho nasceu do interesse em compreender as condições de produção e circulação das ideias de Gilberto Freyre nos anos de 1950. Neste período, o autor pernambucano conquistou visibilidade internacional. Evidências notáveis disso são as publicações de suas obras na França - seguidas de homenagens e prêmios - e a extensão da validade de sua interpretação para o que convencionou chamar de 'civilização luso-tropical'. No Brasil, Freyre atuou basicamente em três frentes de trabalho: a) Elaborou rotineiramente textos para jornais e periódicos de grande circulação: destacamos em particular a publicação semanal, desde 1948, de suas colunas na revista O Cruzeiro cuja tiragem, em 1960, chegou a um milhão de cópias por semana. (ABREU, 2008: 218) b) Publicou livros completos - Quase Política (1950), Um brasileiro em terras portuguesas e Aventura e Rotina (1953), Integração Portuguesa nos trópicos (1958),Ordem e Progresso (1959), O velho Félix (1959) e A propósito dos frades (1959), além de rever sistematicamente seus textos antigos para novas reedições numa busca incansável pelo controle do sentido de suas ideias). c) Orientou atividades na Fundação Joaquim Nabuco e no Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife.(AU)
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Educação , Instituições Acadêmicas , Grupos de Pesquisa , Ciências Sociais , Biografias como Assunto , BrasilRESUMO
Este artigo tem o objetivo de analisar e discutir a relação entre a narrativa do romance A selva, de Ferreira e Castro, e a sua iconografia em edições específicas. Se a atribuição de imagens a personagens literárias transformou-se em um problema para a análise sociológica, o presente estudo aborda pontos referentes a uma dada leitura do romance amazônico de Ferreira de Castro e o modo como a sua representação iconográfica foi produzida. A floresta pode ser interpretada como um desvio interpretativo e/ou equívoco de leitura, e isso na medida em que as gravuras das capas das diversas edições do romance priorizam a natureza em detrimento do drama humano que o entrecho da obra ressalta. A análise do romance por meio das edições ilustradas por Cândido Portinari, Poty Lazzarotto e de um conjunto de artistas portugueses, pode revelar certa ruptura representada pelo romance no plano literário e a continuidade de uma tradição imagética da região amazônica.(AU)
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Literatura , Desenho/classificação , Desenho/etnologia , Sociologia , Características Culturais , BrasilRESUMO
Entre 1945 e 1964, a literatura brasileira comporta uma variedade de romances de temática rural. A partir da análise de nove romances escritos no período, a pesquisa buscou reconstruir as opções narrativas e as representações plurais sobre o mundo rural que se revelam nas obras. A tese indagou como o rural irrompe nos romances escolhidos e como isto se associa aos processos sociais exteriores ao universo literário, como as ideologias, a política e as ciências sociais. A partir daí, a investigação apreendeu as formalizações literárias distintas sobre o rural. Isto foi possível a partir da construção de tipologias para a análise dos romances, denominadas narrativas da limitação e narrativas da revolução. Estas tipologias permitiram entender a correlação entre a experiência de cada autor e a apropriação literária das condições políticas e intelectuais que caracterizavam o período.(AU)
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População Rural , Literatura , Sociologia , Política , Grupo Social , Ciências Sociais , BrasilRESUMO
Em 1913, aos quase 20 anos de idade, Mário de Andrade passou por uma crise nervosa. No decorrer de sua vida, o autor faria referências a esta experiência em cartas aos seus amigos mais chegados, como Manuel Bandeira, Ribeiro Couto e Carlos Drummond de Andrade. Em seus depoimentos nota-se a importância deste acontecimento no que diz respeito às suas relações familiares, sua experiência com a doença e a cura, bem como sua identidade como escritor. Esta apresentação pretende explorar a relação sugerida pelo autor entre sua experiência de adoecimento e o início da carreira de escritor. Desse modo, investigo a formação de identidade de Mário de Andrade a partir do ponto de vista da doença. Para isso, sigo três passos. Em primeiro lugar, analiso a sua experiência de adoecimento, dando especial atenção à morte acidental de seu irmão, Renato, a partir da qual investigo o lugar de Mário de Andrade na sua família. Em segundo lugar, a partir dos seus relatos sobre a forma pela qual superou sua crise nervosa, revisito o pensamento médico da época, especialmente o trabalho do psiquiatra Antonio Austregésilo (1876-1960). Em terceiro lugar, também relacionado ao seu processo de cura, pretendo lançar luz a relação de Mário de Andrade com Pio Lourenço Corrêa, a quem chamava Tio Pio e atribuía um papel fundamental na sua recuperação. Finalmente, enlaçando estas pontas, a experiência da doença e da cura, a inserção na família e o contato e o uso do conhecimento médico, procuro sugerir alguns aspectos da construção da identidade de Mário de Andrade e o próprio modo pelo qual o autor pensava a identidade individual e coletiva.(AU)
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Doença/psicologia , Literatura , Biografias como Assunto , BrasilRESUMO
O estudo das maneiras pelas quais o conceito de homem é mobilizado nas páginas da revista Cultura Política aponta para uma discussão acerca da necessidade de formação deste homem. Diversos são os métodos que se pode pensar na tarefa de formar o homem e muitas são as instituições que podem reivindicar essa função. Desde o exército até a corporação profissional, muitos poderiam ser os caminhos escolhidos para a socialização dos indivíduos. No entanto, poucos parecem tão óbvios quanto o da educação, cuja essência própria consiste no desejo de formação do homem. Nesse quadro, o papel da escola adquire uma relevância ímpar e a definição de suas características passa a ocupar um lugar central no debate público. Num momento em que muito se discutia o caminho pelo qual deveria se desenvolver a educação no Brasil, o conceito de homem empregado em Cultura Política parece favorecer uma opção por um projeto particular.(AU)