Na história das ciências sociais brasileiras a temática da cultura e da identidade nacional foi sempre recorrente. No século XIX a temática é pensada em termos nativistas a partir do Romantismo para, em seguida, ser equacionada pelos intelectuais do final do século a partir de uma perspectiva evolucionista que perdura até as primeiras décadas do século XX. Na década de 1930, Gilberto Freyre propõe uma ruptura que culmina com a revalorização dos aspectos até então estigmatizados e passa a pensar o Brasil como unidade e diversidade, nação e região, abrindo espaço para que um pensamento social produzido no âmbito das regiões ganhe visibilidade. Os estudos acerca do folclore amazônico realizados por Mário Ypiranga Monteiro podem ser pensados no bojo desse processo, uma vez que elenca os elementos definidores da região que permitem sua diferenciação frente ao restante do país por meio de um discurso criador legitimado que contribui para a configuração de uma imagem identitária do Brasil. Esse argumento se faz presente no movimento folclórico que, a partir da década de 1940, engaja diferentes intelectuais regionais para a realização de um inquérito do folclore nacional. A abordagem do movimento folclórico e sua relação com o processo de institucionalização das ciências sociais permitem que vislumbremos os caminhos do pensamento social brasileiro, esclarecendo também as peculiaridades da emergência de uma produção intelectual a partir da Amazônia da qual a obra de Mário Ypiranga Monteiro é parte Integrante a promover a invenção da região pelo estabelecimento do confronto/associação com o conjunto da regionalidade brasileira, o que significa a produção de um pensamento social concebido a partir de sua própria realidade.(AU)