Este trabalho analisa o modo como Florestan Fernandes concebe os obstáculos à concretização da democracia no Brasil, e os caminhos por ele apontados para a superação desses obstáculos. Elaboramos uma hipótese da divisão do pensamento do autor no queconcerne unicamente a essa problemática, fundamentada nas diferentes categorias conceituaispor ele empregadas, bem como nos pressupostos teóricos e políticos das suas análises. No primeiro momento da sua reflexão sobre a democracia brasileira, que engloba textosproduzidos entre as décadas de 1950 e 1960, analisamos três eixos norteadores que dizem respeito aos seus principais aportes teóricos a hipótese da demora cultural; o apegosociopático ao passado por parte das elites brasileiras; e a não realização plena da ordem social competitiva no Brasil. Aqui, a revolução burguesa e a ordem social competitiva sãovistas como o caminho possível e provável, nas condições imperantes no Brasil naquele momento, de superar os entraves do antigo regime que impedem a plena universalização dacidadania. A preocupação de Fernandes volta-se para a realização dos requisitos políticos e sociais da civilização moderna no Brasil; e, assim, democracia e ordem social competitiva,enquanto polos desse mesmo padrão civilizatório, aparecem umbilicalmente ligadas na reflexão do autor. No segundo momento de sua análise sobre a problemática da democraciabrasileira, que engloba textos elaborados nas décadas de 1970 e 1980, Fernandes radicalizasua posição política e seus referenciais teóricos. No que concerne aos obstáculos à democracia, são dois os principais conceitos que resumem suas reflexões o de democraciarestrita, e o de modelo autocrático de dominação burguesa.