Defendendo a relevância da produção intelectual de Darcy Ribeiro (1922-1997), postulo que já se encontravam presentes na obra darcyniana proposições capazes de contribuir para uma crítica descolonizadora das ciências sociais latino-americanas. Entendo, assim, que Darcy Ribeiro, como intelectual público, participava do esforço coletivo de explicar e (re)criar o país e o continente ao mesmo tempo em quês e deicava à escrita de seus estudos de antropologia da civilização inaugurado, em 1968, com O Processo Civilizatório e As Américas e a Civilização. Recusando a ideia de sequência evolutiva linear, enfatizando as rupturas, Darcy Ribeiro aderia à dialética e à proposta de evolução multilinear que abria um campo de possibilidades ilimitadas e imprevisíveisna história dos povos. Tentou, marxista à sua maneira, ensaiar uma tipologia das configurações históricas de maneira a ampliar os cânones explicativos da modernidade, numa perspectiva que antecipa, nalgum sentido, algumas orientações pós-coloniais. Aqui, ouso destacar Walter Mignolo e seu pensamento liminar, a fim de suscitar um diálogo possível entre estudiosos de tempos diferentes. Acentuo o esforço de deslocamento de formas hegemônicas do conhecimento na obra de ambos, bem como o descontentamento com os modelos civilizatórios até então impostos.(AU)