O artigo retoma a crítica do conceito de marginalidade estrutural de L. de A. Costa Pinto com o objetivo de discutir o mito da ambiguidade que se inscreve nos debates sobre a instauração da ordem moderna, competitiva e igualitária no país. Parte-se da hipótese de que a tradição sociológica definiu a convivência de condutas tradicionais, autoritárias e hierárquicas com condutas modernas, racionais e democráticas, como o modo ambivalente de ser "quase" moderno no Brasil. Analisando a formulação do conceito de marginalidade estrutural nos livros Lutas de família no Brasil (introdução ao seu estudo), 1943 (PINTO, 1949) e Recôncavo laboratório de uma experiência humana, 1953 (PINTO, 1997 b), percebe-se que, apesar de promover positivamente o entendimento da sociedade brasileira, numa fase de transição, seu autor termina por refazer o mito da ambiguidade, através do qual é possível controlar social e politicamente as mudanças, postergando-as recorrentemente para um ponto indeterminado do futuro. (AU)