Num artigo publicado em 2001, Ana Paula Pacheco assinalou o seguinte problema na recepção de Guimarães Rosa o perigo da regressão mítica de cunho conservador ronda a obra rosiana cada vez que nela a representação do atraso não parece a alguns viga de nossa modernização, e sim remanescente arcaico, mito nacionalista a frisar positivamente o que é defasagem. Esse perigo, ela contornou muito bem em Lugar do mito narrativa e processo social nas Primeiras estórias de Guimarães Rosa. Em perspectiva rigorosamente materialista, o exercício crítico aí passa ao largo de qualquer tipo de apologia idealista da amplitude simbólica ou alegórica das narrativas, do elogio inócuo à habilidade do escritor em incorporar ao seu mundo-sertão signos de ressonância metafísica ou mitológica. Pelo contrário, a dimensão mítica é percebida como componente de um problema formal no qual se cristalizam impasses da história. (AU)