ABSTRACT
A varfarina é um anticoagulante utilizado na prevenção e no tratamento de doenças tromboembólicas, com janela terapêutica estreita e, elevado risco de hemorragias. Nos idosos, a principal indicação para tratamento anticoagulante oral é fibrilação atrial, cuja prevalência aumenta com a idade, atingindo 8% após os 80 anos. O exame utilizado para controle da anticoagulação oral é o tempo de protrombina, através do cálculo da razão normalizada internacional (RNI), visando o ajuste de dose e manutenção da faixa terapêutica (RNI= 2 a 3). Os idosos requerem um monitoramento efetivo devido a fatores inerentes da idade. Embora seja conhecido que os fatores genéticos influenciam na resposta terapêutica à varfarina, na rotina da maioria dos hospitais a farmacogenética ainda não é considerada no ajuste de dose. Visando estabelecer uma conduta terapêutica personalizada, o presente estudo tem como objetivo avaliar a associação entre o polimorfismo rs9934438 do gene VKORC1, que codifica a enzima vitamina K epóxido redutase, e a dose semanal de varfarina necessária para atingir o RNI adequado. Até o momento, foram incluídos 52 pacientes com idade superior a 70 anos, de ambos os sexos e em uso de varfarina. A análise do polimorfismofoi realizada através da PCR em tempo real utilizando os reagentes TaqMan™ Sample-to-SNP™ e o sistema de detecção TaqMan® SNP Genotyping Assay. As análises estatísticas foram realizadas utilizando o pacote SPSS v. 16.0 e nível de significância adotado foi de 5%. Dos 52 pacientes incluídos até o momento, 37 (71%) permaneceram na faixa terapêutica (Time in Therapeutic Range, TTR) em pelo menos 50% do tempo de anticoagulação e, para eles a dose semanal de varfarina variou de 15mg a 62,5mg. Apesar de ser um estudo piloto, a distribuição dos genótipos está em equilíbrio gênico, segundo Hardy-Weinberg (AA=19,2%, AG=34,6%, GG= 46,2%, χ2= 3,34 e p=0,067). Para os idosos com TTR ≥50%, a frequência do alelo A foi significantemente maior entre os pacientes que utilizaram doses menores de varfarina (Exato de Fisher, p=0,005). Adicionalmente, os portadores do genótipo AA necessitaram, em média, de aproximadamente metade da dose para atingir a faixa terapêutica quando comparados aos portadores do genótipo GG, 20,5 versus 36,5 mg/semana, respectivamente (ANOVA, p=0,006/ Pós-teste Bonferroni, p=0,039). Os resultados permitem concluir que portadores de alelo A são mais responsivos ao tratamento com varfarina, sugerindo que o perfil genotípico pode ser de grande valor para o direcionamento da dose terapêutica em idosos. (AU)