RESUMEN
Esse trabalho propõe uma reflexão sobre a relação entre a organização da estrutura hospitalar baseada em sua divisão por enfermarias de especialidades e a perpetuação da lógica fragmentadora própria da Biomedicina, racionalidade médica hegemônica ocidental. O campo estudado foi o Hospital Universitário Pedro Ernesto. Através de entrevistas semiestruturadas com médicos clínicos, especialistas e profissionais responsáveis pela regulação de vagas desse hospital é discutida a existência de dois discursos diferentes: o discurso clínico e o discurso especialista. A partir da análise dessas entrevistas, foi apontada e debatida a profunda relação entre esses discursos, a estrutura hospitalar e a assistência médica oferecida aos pacientes. A análise realizada evidencia que embora os dois discursos estejam absolutamente inseridos no paradigma biomédico, a clínica médica se identifica e é identificada como responsável pelo paciente "como um todo", enquanto as especialidades são reconhecidas como responsáveis apenas "por uma determinada parte". Essa diferença apresentou influência tanto na forma de cuidar do paciente, como na função de cada serviço dentro do hospital. As enfermarias de clínica se caracterizaram por serem setores consensualmente capazes de conduzir satisfatoriamente a maioria dos pacientes.Se por um lado a abrangência da clínica é motivo de orgulho para os clínicos, por outro, a falta de autonomia decorrente dessa característica determina um sentimento de depreciação por parte desses profissionais. Esse trabalho foi realizado sob perspectiva hermenêutica filosófica proposta por Hans-Georg Gadamer e com o auxílio dos conceitos de paradigma proposto por Thomas Kuhn e estilo de pensamento elaborado por Ludwik Fleck
This work proposes a reflection on the relation between the hospital organizational structure based on its division in specialties infirmaries and the perpetuation of the fragmenting logic peculiar to biomedicine, the hegemonic western medical rationale. The field of study was Pedro Ernesto University Hospital. Through semi-structured interviews with general physicians, specialists and professionals in charge of hospital admissions the existence of two different discourses is examined: the clinical discourse and the specialist discourse. The analysis of these interviews pointed out and considered the deep relation between both discourses, the hospital structure and the medical care provided to patients. The investigation reveals that, although both discourses are definitely inserted in the biomedical paradigm, internal medicine identifies itself and is identified as responsible for the patient "as a whole", whereas the specialties are seen as responsible for only "a specific part". This difference influenced not only the manner of treating the patient but also the purpose of each service within the hospital. The clinical infirmaries were characterized as sectors consensually capable of satisfactorily dealing with the majority of patients. If on the one hand the broad scope of internal medicine is a source of pride to physicians, on the other hand the lack of autonomy that follows this characteristic determines a feeling of self-deprecation among some of these professionals. This work was made from a hermeneutic philosophical perspective such as one proposed by Hans-Georg Gadamer, with the aid of Thomas Kuhn's concept of paradigm and Ludwik Fleck's concept of thought style