A medicina entre a ciência e o cuidado: uma leitura de revistas de medicina (1990-2009) / The science of medicine and care: a reading of medical journals(1990-2009)

A insatisfação dos médicos está associada ao distanciamento entre sua prática e as imagens idealizadas do "médico-sacerdote" e do "médico-cientista". Investiguei como os ideais de cuidar "humanamente" dos indivíduos doentes e de conhecer "cientificamente" os processos de doença e de cura se apresentam na medicina, de 1990 a 2009. Privilegiei os temas do conhecimento médico e do cuidado relacionamentos à clínica, e não à saúde pública. Iniciei a leitura por uma amostra sistemática, para aprofundá-la, a seguir, em questões que julguei exemplares, ou especiais. Minhas observações estão entremeadas com citações indiretas de artigos das revistas, para oferecer ao leitor as bases de minhas impressões. Observei que o discurso sobre o conhecimento ocupa maior espço, é mais complexo e mais elaborado do que o discurso sobre o cuidado. Ao lado de impressionantes avanços da ciência médica e do otimismo positivista da maioria dos artigos, as revistas apresentam incertezas, contradições e limitações e limitações dos métodos e das teorias. Há uma tensão entre a fé na ciência, os esforços para tornar a medicina 'cientifica', e as dificuldades lógicas e metodológicas de adequar decisões médicas singulares às 'evidências' apresentadas pelas pesquisas. O conhecimento médico se apresenta como um mosaico em permanente reconstrução, incapaz de produzir certezas. E sua produção e divulgação são influenciadas por interesses e crenças de pesquisadores, financiadores e editores. O discurso sobre o cuidado, embora consistente, só ganha proeminência onde falta conhecimento, como em relação ao doente em fase terminal. Os 'médicos-cientistas', enredados em protocolos e estatísticas, não se ocupam do cuidado. Mas, se adoecem, queixam-se da falta de cuidado. É possível ler propostas de unir "evidências científicas" e "narrativas" de doentes e médicos, na construção de uma prática de conhecimento-cuidado curativa para ambos...

Atençäo primária à saúde: uma outra medicina?; relato de uma experiência, Parte III / Primary health care: another medicine?; report of an experience, part III

Na primeira parte deste artigo, publicada em número anterior, apresentamos o bairro do Caramujo, a estrutura, a estrutura do Subposto de Saúde, a equipe da Universidade Federal Fluminense, a qual integramos, trabalho no referido Subposto, e a proposta de trabalho. Analisamos quantitativamente o trabalho desenvolvido de janeiro/84 a dezembro/85 e a resolubilidade do atendimento médico nesta unidade primária. Na segunda parte, estudamos, para um período de seis meses, a estrutura de demanda por consulta médica e descrevemos sumariamente as três campanhas de multivacinaçöes realizadas em 1985

Atençäo primária à saúde: uma outra medicina?; relato de uma experiência, Parte I / Primary health care: an other medicine?; report of an experience, Part I

Os autores relatam uma experiência em atençäo primária à saúde em bairro periférico de Niterói, levantando os principais motivos de consulta e definido os conhecimentos necessários para este tipo de trabalho médico. Discutem as peculidades da consulta médica em atençäo primária e demonstram como o funcionamento do conjunto da rede de saúde afeta o trabalho numa unidade básica. Pretendem interessar os profissionais de saúde e os alunos dos respectivos cursos na discussäo sobre a necessária e urgente reorganizaçäo do sistema de saúde e da reformulaçäo da prática médica

A Proletarizaçäo de um sacerdócio: a prática médica vista pelos médicos / The

Tenta conhecer melhor o pensamento e as atitudes dos médicos, especialmente daqueles que trabalham nos serviços públicos.Pretende mostrar como se sente o médico em sua atual situaçäo profissional, ocupacional e social. Como administra os conflitos entre suas imagens idealizadas de sacerdócio e ciência e a medicina que se pensa forçado a praticar. Nos três primeiros capítulos tenta reconstituir a construçäo da medicina e do médico que hoje conhecemos. A metodologia utilizada na obtençäo e na análise da informaçäo é apresentada no capítulo 4. O capítulo 5 apresenta o conteúdo das entrevistas. No capítulo 6 discute questões que emergem da análise do discurso dos médicos e que parece fundamental para explicar suas atitudes. Constata a insatisfaçäo dos médicos que trabalham nos serviços públicos de saúde em relaçäo a sua prática e identifica os principais fatores que a determinam. (RGG)