ABSTRACT
INTRODUÇÃO: A artéria de Perchehon, quando ocluída, resulta em infarto talâmico paramediano bilateral. O mecanismo etiológico que leva ao comprometimento dessa artéria ainda é desconhecido, sendo atualmente, a cardioembolia considerada como um dos mecanismos etiológicos possíveis. RELATO DE CASO: Paciente do sexo feminino, 73 anos, obesa hipertensa, pré-diabética e dislipidêmica. Histórico de palpitações há um ano e diplopia/tonturas há uma semana. Admissão hospitalar com diagnóstico de infarto agudo do miocárdio sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSEST). No 2º. Dia, em uso de aspirina 100mg/d, clopidogrel 75mg/d e heparina em dose plena, enquanto aguardava cinecoronariografia apresentou quadro súbito de turvação visual, diplopia, sonolência evoluindo para coma (escala de coma Glasgow 9). Durante o procedimento de intubação orotraqueal, a paciente apresenta recuperação completa da consciência, mantendo ptose palpebral bilateral e monoparesia crural esquerda, com Glasgow 15. Ressonância revelou infarto paramediano bilateral. Após diagnostico iniciou a investigação etiológica do caso por meio de ultrassonografia com doppler de carótidas, antirressonância de artérias intracranianas, angiotomografia de artérias extracranianas, sendo considerados normais. Ecocardiograma: fração de ejeção do ventrículo esquerdo de 57%, átrio esquerdo com volume de 41 ml/M3 e hipocontratilidade do seguimento médio basal da parede inferior. Iniciado anticoagulante oral não antagonista da vitamina K (DOAC) devido à hipótese de acidente vascular cerebral (AVC) embólico sem fonte determinada (ESUS): regime de tripla terapia com DOAC+aspirina+clopidogrel. Cinecoronariografia não evidenciou lesões coronarianas. Ressonância cardíaca com realce inferior apical sugestivo de infarto do miocárdio com artérias coronárias não-obstrutivas (MINOCA). DISCUSSÃO: AVC da artéria de Perchehon pode apresentar recanalização espontânea precoce com sinais e sintomas de menor importância possibilitando confusão com transtornos somatoformes. Em pacientes com exame de imagem evidenciando lesão talâmica bilateral o mecanismo cardio-embólico sempre deve ser lembrado para conduta terapêutica específica. Consideração Final: Investigação etiológica completa é fundamental para definição do mecanismo e introdução de terapêutica apropriada assegurando benefícios clínicos para os pacientes. (AU)